Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 23 de junho de 2020

O amor não se mede e não se pesa, o amor simplesmente é

Terça, 23 de junho de 2020
O Blog Gama Livre reproduz o emocionado texto de um filho para a sua mãe. O filho, o pernambucano Joaquim Dantas, o Arretadinho do Blog do Arretadinho. Leia abaixo a postagem.

O amor não se mede e não se pesa, o amor simplesmente é


Do Blog do Arretadinho
por Joaquim Dantas

Quando ela pariu um leonino, em 1958, o primeiro de cinco filhos, veio junto com o parido um pacote completo.

A sabedoria da natureza vai muito além da compreensão da mente mais brilhante que possa existir na terra. Explico: o que é formado no ventre de uma mulher não é um simples corpo como se fosse uma casca vazia, o que vem junto, do ponto de vista "racional", é "subjetivo", é invisível, é imperceptível aos sentidos humanos e às máquinas da medicina, mas está lá, ocupando seu espaço naquele pequeno corpo em formação para que ele não assuma seu lugar no mundo como uma casca vazia.

Educação, regras de convivência, conselhos e até imposições, fazem parte do mundo que cerca aquela criatura que foi parida, normalmente, após nove meses de gestação.

Mas o "subjetivo", o invisível, o imperceptível, já está dentro dele, do parido.

caráter, índole, espírito de humanidade, solidariedade, justiça, entre tantas coisas mais, nasceram com ele e, mesmo que não sejam praticadas por falta de estímulo ou qualquer outra coisa, vão morrer com ele também.

o cordão umbilical desta mulher não alimentou-me só de nutrientes essenciais à vida, alimentou-me também com o "subjetivo", com o invisível, com o imperceptível, e que ela foi me "lembrando" da importância dessas coisas ao longo da vida, não só com conselhos, tão pouco com palavras vazias mas, além e acima de tudo, com atitudes, com exemplos.

Graças à esta mulher hoje sou o que penso, sou e vivo das memórias fetais invisíveis que alimentaram-me misturadamente com nutrientes pelo cordão umbilical. Graças a ela sinto-me como o escritor Guimarães Rosa refere-se a ele mesmo: "eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa..."

Do que, eventualmente, me seja passivo de elogios como ser humano pelo o que faço, pelo o que eu penso ou pelo o que eu luto, não tenho mérito algum, o que tenho é a herança dada por essa mulher forte, justa, guerreira e, acima de tudo, humana.


o momento impeditivo que vivemos hoje, de fazer tantas coisas, antes normais, sufoca a vontade que sinto de te abraçar amorosamente, acariciar sua cabeça, olhar nos teus olhos e dizer: eu te amo mamãe, obrigado e tenho certeza que em breve tudo isso vai passar e eu, como disse o poeta, estarei ao seu lado e "vou te beijar feito abelha". Amor eterno por você!