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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

MPF move ação para que estado de Rondônia mude nomes de escolas que homenageiam ex-presidentes da ditadura

Quinta, 10 de setembro de 2020
Homenageados são apontados no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como responsáveis por graves violações de direitos humanos

Arte retangular com fundo amarelo claro. está escrito ao centro na cor azul escuro: acp - ação civil pública
Arte: Secom/MPF


O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com ação civil pública para que o estado de Rondônia modifique os nomes das escolas estaduais Marechal Castelo Branco, em Porto Velho; Artur da Costa e Silva, em Alto Alegre dos Parecis; e Emílio Garrastazu Médici, em Presidente Médici. A ação veio após o não acatamento de recomendação expedida pelo MPF que solicitava as mesmas mudanças.
A necessidade de modificação dos nomes é porque os ex-presidentes homenageados pelas escolas são apontados no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) como responsáveis por graves violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar (1964/1985). O relatório final da CNV propõe “promover a alteração da denominação de logradouros, vias de transporte, edifícios e instituições públicas de qualquer natureza, sejam federais, estaduais ou municipais, que se refiram a agentes públicos ou a particulares que notoriamente tenham tido comprometimento com a prática de graves violações”.
Segundo o procurador da República Raphael Bevilaqua, “a lembrança dos erros do passado é fundamental para garantir a consolidação da democracia. A manutenção de nomes de bens públicos postos em homenagem a ditadores, que perpetraram graves violações aos direitos humanos, banaliza os atos delitivos da ditadura militar e contribui para o ressurgimento de teses revisionistas, infelizmente, cada vez mais comuns no panorama sociopolítico brasileiro”.
De acordo com a Corte Interamericana dos Direitos Humanos, é obrigação do Brasil promover todas as medidas necessárias para a reparação de graves violações de direitos humanos praticadas por diversos agentes públicos nacionais, e que os crimes contra a humanidade são delitos reconhecidos pelo direito internacional. O Brasil já foi condenado em duas ocasiões na mesma Corte Interamericana dos Direitos Humanos, no caso Gomes Lund, em 2010, e no caso Herzog, em 2018.
Ex-presidentes - Os homenageados pelas escolas Castelo Branco, Costa e Silva e Garrastazu Médici foram protagonistas do período ditatorial no país. Com início em 1964, a ditadura militar no Brasil foi marcada por crimes como homicídios, torturas, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres.
Humberto de Alencar Castelo Branco foi o primeiro presidente da ditadura militar e governou o país de 1964 a 1967. Seu governo marcou o início das ilegalidades do regime militar, do autoritarismo e da conivência com a tortura.
Já Arthur da Costa e Silva foi um dos principais articuladores do golpe de 1964, sendo um dos responsáveis por regularizar profunda modificação no Poder Legislativo brasileiro e convocar eleições indiretas para presidente, estendendo o cargo até 1966. Foi em seu governo que se ampliaram os poderes presidenciais, possibilitando o fechamento do Poder Legislativo, a intervenção federal em estados e municípios sem limitações constitucionais, a suspensão dos direitos políticos e garantias constitucionais individuais, entre outras medidas. Em 1969, Costa e Silva suspendeu as eleições para cargos executivos e legislativos nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Emílio Garrastazu Médici foi presidente do Brasil entre 1969 e 1974. Segundo o relatório final da CNV, em seu governo aperfeiçoou-se “um sistema repressor complexo, que permeava as estruturas administrativas dos poderes públicos e exercia uma vigilância permanente sobre as principais instituições da sociedade civil: sindicatos, organizações profissionais, igrejas, partidos. Surgiu também uma burocracia de censura que intimidava ou proibia manifestações de opiniões e de expressões culturais identificadas como hostis ao sistema. Sobretudo, em suas práticas repressivas, fazia uso de maneira sistemática e sem limites dos meios mais violentos, como a tortura e o assassinato”.
Em seu governo foram criados os Destacamentos de Operações de Informações (DOIs), locais onde ocorreram a maior parte dos desaparecimentos forçados e execuções da oposição do regime militar. Os anos em que Médici governou foram marcados pelo aumento da violência por parte do Estado.
Por esses motivos, o relatório final da CNV apontou os três ex-presidentes homenageados pelas escolas como violadores dos direitos humanos.