Segunda, 3 de outubro de 2011
Da Tribuna da Imprensa
Por Carlos Newton
Já virou rotina. A imprensa faz a denúncia e a oposição imediatamente
aciona o Ministério Público. Desta vez é o PPS, que vai representar
hoje à Procuradoria da República no Distrito Federal um pedido para
investigar a ligação do diretor-geral do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit), general do Exército Jorge Fraxe,
com uma ONG ambiental montada com o objetivo de desviar dinheiro público
de obras do governo federal.
A representação do PPS se baseia em denúncia da “Veja”. Na edição
que começou a circular no fim de semana, a revista revela que o general é
o verdadeiro dono da ONG Inda (Instituto Nacional de Desenvolvimento
Ambiental), envolvida na denúncia de pagamento de propina de R$ 300 mil
para o fechamento de um contrato com o próprio Dnit, vejam só que
coincidência.
Segundo a revista, a tramóia foi revelada pelo diretor-administrativo
da ONG, engenheiro Mardel Morais, autor da denúncia de que o oficial
general é o verdadeiro dono da entidade. Ainda de acordo a revista, a
negociação só não foi para frente por causa do escândalo de corrupção no
Ministério dos Transportes, que provocou a queda do ministro Alfredo
Nascimento.
“A farda não está acima da lei e não autoriza ninguém a desviar
dinheiro público. É de se estranhar que a presidente Dilma, que anunciou
uma faxina no Ministério dos Transportes, tenha nomeado para a direção
do Dnit justamente um militar suspeito de envolvimento em corrupção.
Cabe ao Ministério Público investigar esse caso para garantir que o
propinoduto seja extirpado de vez do órgão”, afirmou o líder do PPS na
Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), em entrevista à Folha de S.
Paulo, que não conseguiu contato com o Dnit para comentar o assunto.
Detalhe importante: o PPS vai acionar a Procuradoria da República no
Distrito Federal porque foi essa seção do Ministério Público Federal que
tomou a iniciativa de investigar o então ministro Antonio Palocci,
enquanto o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a Comissão
de Ética da Presidência da República, comandada pelo ex-ministro do
Supremo Sepúlveda Pertence, se apressavam em declarar a inocência do
chefe da Casa Civil em meio às comprovadas acusações de enriquecimento
ilícito.