Quinta, 13 de outubro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Basta ver o que aconteceu
em Salvador. No dia 20 de setembro – portanto entre a primeira rodada de
manifestações do dia 7 e a segunda, de ontem, houve algumas manifestações
isoladas, destacando-se uma no Rio de Janeiro, na Cinelândia. Nesta ocasião,
houve a primeira manifestação na Bahia, em Salvador, no Campo Grande. Foi uma
coisa absolutamente espontânea, mas nela não estiveram mais de 200 pessoas.
Foto: Valter Campanato / ABr
Foto: Valter Campanato / ABr
Ontem foi diferente. Com
articulação e convocação por meio das redes sociais da Internet, quase sem
nenhum noticiário, sequer por meio de sites e blogs – muito menos engajamento
da mídia tradicional (jornais, revistas, rádio, televisão) – muitos jovens e
alguns nostálgicos de outras marchas realizadas há 40 anos atrás concentraram-se
no Cristo da Barra. Talvez o Cristo haja ficado feliz, ele desaprova a
corrupção.
Aliás, o cardeal arcebispo
de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom
Raymundo Damasceno, afirmou ontem, dia da Padroeira do Brasil, que a Igreja
Católica apóia as manifestações contra a corrupção. “Nós sabemos de
manifestações organizadas por redes sociais. Ele falou após missa solene
celebrada no Santuário Nacional de Aparecida. Disse que a CNBB pede que, quando
houver denúncias de corrupção, se investigue se há responsáveis ou não”, o que
é, em outras palavras, a condenação da impunidade.
Mas, voltando à
manifestação baiana, ao contrário daquelas 200 pessoas do dia 20, ontem havia
mais de mil, talvez 1500. Uma organizada representação da seccional baiana da
Ordem dos Advogados do Brasil participou. O presidente da OAB da Bahia, Saul
Quadros, foi à marcha realizada em Brasília, assim como numerosos outros
dirigentes estaduais e nacionais da OAB.
A marcha baiana foi do Cristo até o portão
principal do Palácio de Ondina (uma parte expressiva dos manifestantes preferiu
não subir a ladeira, temerosa – ao meu ver, injustificadamente – de algum
tumulto com a segurança do palácio porque, sendo Dia das Crianças, havia muitas
delas no percurso. A parte que subiu não teve problemas – todos sentaram na
área fronteira ao portão, alguns fizeram pequenos discursos e, depois de todos
cantarem o hino nacional, desceram a ladeira. Ninguém do palácio que não fosse
da guarda esteve presente.
A marcha contra a corrupção em Brasília reuniu
aproximadamente 20 mil pessoas. Um dos focos foi a defesa da integridade dos
poderes do Conselho Nacional de Justiça para fiscalizar corrupção e outras
mazelas na magistratura. O CNJ está sob ataque, o que ficou escandalosamente
evidente com a entrevista-denúncia da corregedora do CNJ, ministra Eliana
Calmon. Foto: Valter Campanato / ABr
As vassouras estão se tornando, muito
logicamente, o símbolo do Movimento Contra a Corrupção. Outro dia espetaram,
defronte do Congresso, uma delas para cada um dos senadores e deputados.
Imagino que a idéia fosse que cada um empunhasse uma delas e fizesse o devido
uso. Mas não sei... Ontem, pediu-se que, durante a manifestação em Copacabana,
as pessoas pussessem vassouras nas janelas. Esta me parece uma excelente idéia.
Não dá trabalho, mobiliza, todo mundo vê e pode ser um enfeite (se a vassoura
for verde-amerela).
Ah, no twitter, petelhos eriçados e amestrados
entraram em ação – estão acusando o MCC de ser um movimento “de direita”,
porque defende a moralidade (aquela tese abestada, você sabe) e adotou a
vassoura, antes usada pelo Jânio Quadros. Falta pouco para porem a culpa da
corrupção na vassoura.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.