Quinta, 17 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

No caso que envolve o ex-primeiro casal de
Salvador (o prefeito João Henrique e a ex-primeira dama, deputada Maria Luiza)
o privado tornou-se público e esse público tornou-se formal por iniciativa da
parlamentar, que ontem fez um discurso da tribuna da Assembléia Legislativa, no
tempo cedido pela liderança da maioria, refutando os rumores de que teria
traído o ex-marido e acusando-o de a haver traído, ainda no curso do
matrimônio, com a subsecretária de Salvador, a médica Tatiana Paraíso. Esta,
que era casada, teria desfeito o casamento para ficar com o prefeito.
A deputada Maria Luiza disse aceitar “o bloqueio
da imprensa”, referindo-se ao fato de que se tratava de assunto privado. Na
verdade, ela havia concedido uma entrevista exclusiva ao jornal A Tarde. Não se sabia ontem o exato teor
da entrevista, mas que ela, entre outras coisas, desmentia “os boatos” –
objeto, inclusive, de parte de uma nota na revista Época – de que teria um caso
com alguém da Casa Militar do prefeito.
Maria Luiza esperou alguns dias por um desmentido
do ex-marido sobre este suposto caso dela com o suposto amante lotado na Casa
Militar, mas como nem o desmentido foi feito nem o jornal publicou sua
entrevista, ela resolveu fazer o discurso de ontem. João Henrique e Maria Luiza
estão separados há um mês. Antes disso, ela sugerira “um tempo” para os dois
pensarem a relação e a retomarem em novas bases, mais harmoniosas. Quando
voltou de uma viagem de uma semana, disse, encontrou uma situação consumada
entre o prefeito e a subsecretária de Saúde. “Eu pedi um tempo e levei um
susto”, atirou, no discurso.
Bem (se é que bem é uma palavra adequada). O
casal tinha crises há tempo, como explicitou a deputada. Nos tempos em que o
prefeito e Maria Luiza estavam no PMDB, os pacificadores eram Geddel Vieira
Lima e seu irmão Lúcio Vieira Lima. Geddel aquietava o prefeito, Lúcio acalmava
a primeira dama. No circuito pacificador também entrava, às vezes, Ricardo
Araújo, lotado no gabinete do prefeito e homem, ao que consta, de sua total
confiança, além de vizinho de condomínio. Parece que quando deixaram o PMDB
(primeiro, Maria Luiza, depois João Henrique), Ricardo Araújo, sozinho, não
mais deu conta do recado.
Politicamente, as coisas podem ou não ficar bem
para Maria Luiza, embora ela haja afirmado ontem, no discurso de pouco menos de
oito minutos que encantou o plenário pelo novo e admirado lay-out da oradora, que
não tem “pretensão” de candidatar-se a mandato eletivo algum e que “o futuro a
Deus pertence”. Sendo assim, e possivelmente ignorando os desígnios divinos,
quem sabe o futuro lhe reservará alguma candidatura a mandato eletivo...
Para o prefeito, ainda politicamente, o episódio
não é bom. Não parece haver como reverter o estrago, embora superação seja um
hábito de João Henrique. Também nada parece haver de bom no episódio para o PP
e para seu possível candidato a prefeito, o deputado João Leão, chefe da Casa
Civil da prefeitura da capital. Já o deputado Nelson Pelegrino, que vinha se
enroscando todo nos braços do prefeito, deve agora estar em dúvida se esses
braços lhe dão reforço ou um abraço de afogado.
Bem, mais desdobramentos virão. Por enquanto, a
prioridade é a divisão dos bens do casal. Considerando que o povo deu a João
Henrique o Palácio Thomé de Souza, situado na Cidade Alta, a lógica determina
que à ex-primeira dama seja concedida a Cidade Baixa.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.