Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O pesar das botas: Rodas e o Leviatã

Terça, 15 de novembro de 2011
 Do "Desmontador de Verdades"

Nas últimas semanas a questão da polícia militar no campus Butantã da USP tem dividido opiniões. Quero hoje comentar alguns aspectos dessa questão. Iniciarei pelo motivo que parece ter sido decisivo para que o convênio da polícia tenha sido firmado pelo reitor biônico João Grandino Rodas.

No princípio era o medo... 

Já faz alguns anos que a questão da violência no campus vem ganhando espaço nos debates internos da comunidade uspiana. No início desse ano, essa questão veio à tona nos jornais internos do campus, com mais ênfase, depois da divulgação de estatísticas que apontavam para certa intensificação da criminalidade dentro da cidade universitária.

           É preciso destacar inicialmente dois fatos que usualmente se esquece de mencionar quando se fala da criminalidade no campus. Primeiro, a cidade universitária não é mais violenta que os seus contornos. Ao contrário, mesmo com o aumento na criminalidade visto no início do ano, os índices de cometimento de crimes dentro do campus eram menores do que a média dos locais em torno da universidade. Em segundo lugar, não é verdade que nesse período de intensificação da criminalidade a polícia não estava presente no campus. Desde 1997 a policia já auxilia a guarda universitária nas rondas pelo campus, sua presença na cidade universitária é a mesma que no restante da cidade de São Paulo. Em verdade, o campus Butantã da USP tem próximo a todos os seus portões algum ponto policial, além de ficar bem próximo do instituto de criminalística da polícia civil e ter em seu interior a academia de polícia.

           Mas dito isso, voltemos ao ponto. Quando do assassinato do estudante da FEA esse ano, os debates sobre segurança foram intensificados pela onda de medo que se espalhou pela USP. Nesse contexto, a comunidade de estudantes chegou a alguns consensos importantes sobre medidas de segurança no campus. Naquela ocasião as medidas de consenso eram: melhorar a iluminação do campus (que é muito ruim), dar treinamento adequado à guarda comunitária, instalar um sistema de comunicação com rádio funcional para a guarda comunitária, maior integração do campus para evitar os espaços vazios com transito de pessoas sozinhas, intensificar a freqüência dos circulares internos, dentre outras meditas tanto imediatas quanto de aplicação a longo ou médio prazo. O único ponto que dividia as opiniões da comunidade era a intensificação da presença da polícia militar no campus. Curiosamente, de todas essas medidas, a única implementada foi o aumento do policiamento pela PM.
Gota d'agua

            Com essa medida tomada pelo reitor biônico, as estatísticas da polícia apontam para uma queda de 90% dos crimes na cidade universitária. Sem querer contestar a “imparcialidade” desses dados, tenho quase certeza que esses números não incluem alguns delitos como, invasão de centros acadêmicos, abuso de autoridade, racismo dentre outras práticas policiais que tem causado incomodo na comunidade que freqüenta o campus.

A Segurança Simbólica

             Sobre a atuação da PM no campus gostaria de mencionar inicialmente duas coisas. Primeiro, acho que não é completamente correto afirmar que a intensificação do policiamento no campus seja responsável pela suposta queda nos índices de criminalidade.

            Depois da prática de um crime de grande repercussão sempre há a diminuição da prática de crimes no local. Isso acontece fundamentalmente pelo medo da visibilidade que se desperta nos agentes criminosos. Além disso, se somarmos a esse fato a notícia de intensificação de segurança (no caso a maior presença da PM), isso promove um recuo inicial de criminosos que passam a preferir outras áreas. Veja que, qualquer medida que fosse noticiada como segurança provocaria esse efeito. O ponto é que esse efeito simbólico provocado pelo medo da visibilidade e da notícia de segurança é passageiro. Esses efeitos são geralmente bastante intensos, mas tendem a ser amortizados ao longo do tempo e em pouco menos de um ano perdem completamente a eficácia.

            A característica da medida simbólica é precisamente essa. Ela se coloca como uma forma de solucionar um determinado problema. Mas, finda não só por não solucionar, como ainda impede que outras possibilidades de solução sejam colocadas em prática. É disso que se trata essa última intensificação da PM no campus.

           Veja que a solução efetiva para a segurança na USP é muito simples. Normalmente ficamos escandalizados com a gravidade e mesmo o medo que a violência nos causa. Mas, o que temos que lembrar é que a cidade universitária é um lugar inteiramente murado, com apenas 3 (três) portões de acesso. As taxas de criminalidade internas na USP já são menores que as externas. Precisamos mesmo do elementar. Por exemplo, a guarda universitária tem que funcionar, tem que ter o mínimo de treinamento, um contingente razoável, ter rádios de comunicação funcional (pasmem, nem um sistema de comunicação esses funcionários tem hoje).