Sábado, 19 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Ciro, um político que preza
polêmicas, cria mais uma no retorno, que formaliza com uma entrevista à Folha
de S. Paulo e ao UOL. Nela, considera “natural” que “em algum momento” o PSB
saia da base de sustentação político-eleitoral do governo petista de Dilma
Rousseff e passe a ser, não mais um aliado, mas um concorrente do PT em nível
nacional.
Antes de ingressar nos
quadros do PSB, Ciro foi filiado ao PDS, PMDB, PSDB e PPS. E considera-se
pronto para disputar concorrer pela terceira vez à Presidência da República.
“Admito”, afirma. Questionado se o governador de Pernambuco e presidente do
PSB, Eduardo Campos, seria o candidato mais forte à sucessão de Dilma Rousseff
entre os partidos governistas, Ciro Gomes exercitou seu estilo franco e duro de
dizer as coisas: “Hoje o mais forte ainda sou eu. Mas ele tem potencial para
superar tranquilamente”.
O mais importante na
entrevista de Ciro foi, no entanto, a abordagem do tema da hegemonia petista
sobre os partidos da base do governo federal, comandado há quase nove anos – e
com mais três anos e 40 dias a serem acrescentados – pelo PT.
Ciro acredita que o
rompimento entre o PT e o PSB em âmbito nacional dependerá do que vai acontecer
com sua legenda, que no momento “subalternizou-se”. Ele acha natural que o
rompimento ocorra em algum momento, mas diz não saber se será mesmo em 2014,
que – observação minha – seria o momento lógico.
Seria em 2014, dá ele a
entender, “a não ser que o PSB comece a definhar. Mas o PSB vem crescendo.
Crescendo vai contrastar (pode-se trocar o verbo por confrontar, sem prejuízo
do sentido), nesse mesmo espaço, a hegemonia do PT. Na opinião de Ciro Gomes, o
PT “já liquidou” o PC do B e o PDT. Vale notar que o PC do B teve recentemente
demitido do Ministério do Esporte o comunista Orlando Silva, num episódio
extremamente desgastante, enquanto o presidente licenciado e controlador de
fato do PDT, Carlos Lupi, ministro do Trabalho e Emprego, está todo enrolado em
denúncias e desfruta de uma suposta “sobrevida” concedida pela presidente Dilma
Rousseff, do PT.
“Nós (o PSB) seremos o
próximo”, afirma Ciro e vai adiante: diz que o PT, no governo federal, “cooptou
tudo o que é sociedade civil organizada no Brasil. Tudo. Centrais sindicais,
movimento estudantil, tá tudo dominado”. Novidade não é, mas estava faltando um
político importante para proclamar isto com todas as letras. Este repórter só
faria a exceção da OAB – por enquanto.
Ciro diz, sobre o PT, uma
verdade evidente por si mesma: “O tamanho da goela não tem limite”.
O PMDB já percebe isto cada
vez com mais clareza. Este partido discute internamente e conclui que se
continuar sendo caudatário, mero apoiador, como nos últimos 17 anos, vai
definhar. Seu destino será semelhante ao do PFL, agora DEM. Sinal desta
compreensão, de que é preciso mostrar a cara nas eleições majoritárias, foi a
cooptação do deputado Gabriel Chalita do PSB para o PMDB, com a missão de concorrer
à prefeitura de São Paulo. Pois o PT, por intermédio do presidente Lula, vai
tentar convencer Chalita (e o PMDB, em conseqüência) a desistir em favor de
Haddad, o candidato do PT.
O tamanho da goela não tem
limite.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.