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(Millôr Fernandes)

sábado, 19 de novembro de 2011

O tamanho da goela

Sábado, 19 de novembro de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Depois de um retiro durante o qual certamente ruminou o veneno político que lhe serviu o ex-presidente Lula ao convencê-lo a mudar seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, o que o alijou das eleições de 2010, o ex-ministro, ex-governador do Ceará e ex-candidato a presidente da República duas vezes, Ciro Gomes, do PSB, está de volta.

            Ciro, um político que preza polêmicas, cria mais uma no retorno, que formaliza com uma entrevista à Folha de S. Paulo e ao UOL. Nela, considera “natural” que “em algum momento” o PSB saia da base de sustentação político-eleitoral do governo petista de Dilma Rousseff e passe a ser, não mais um aliado, mas um concorrente do PT em nível nacional.

            Antes de ingressar nos quadros do PSB, Ciro foi filiado ao PDS, PMDB, PSDB e PPS. E considera-se pronto para disputar concorrer pela terceira vez à Presidência da República. “Admito”, afirma. Questionado se o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, seria o candidato mais forte à sucessão de Dilma Rousseff entre os partidos governistas, Ciro Gomes exercitou seu estilo franco e duro de dizer as coisas: “Hoje o mais forte ainda sou eu. Mas ele tem potencial para superar tranquilamente”.

            O mais importante na entrevista de Ciro foi, no entanto, a abordagem do tema da hegemonia petista sobre os partidos da base do governo federal, comandado há quase nove anos – e com mais três anos e 40 dias a serem acrescentados – pelo PT.

            Ciro acredita que o rompimento entre o PT e o PSB em âmbito nacional dependerá do que vai acontecer com sua legenda, que no momento “subalternizou-se”. Ele acha natural que o rompimento ocorra em algum momento, mas diz não saber se será mesmo em 2014, que – observação minha – seria o momento lógico.

            Seria em 2014, dá ele a entender, “a não ser que o PSB comece a definhar. Mas o PSB vem crescendo. Crescendo vai contrastar (pode-se trocar o verbo por confrontar, sem prejuízo do sentido), nesse mesmo espaço, a hegemonia do PT. Na opinião de Ciro Gomes, o PT “já liquidou” o PC do B e o PDT. Vale notar que o PC do B teve recentemente demitido do Ministério do Esporte o comunista Orlando Silva, num episódio extremamente desgastante, enquanto o presidente licenciado e controlador de fato do PDT, Carlos Lupi, ministro do Trabalho e Emprego, está todo enrolado em denúncias e desfruta de uma suposta “sobrevida” concedida pela presidente Dilma Rousseff, do PT.

           “Nós (o PSB) seremos o próximo”, afirma Ciro e vai adiante: diz que o PT, no governo federal, “cooptou tudo o que é sociedade civil organizada no Brasil. Tudo. Centrais sindicais, movimento estudantil, tá tudo dominado”. Novidade não é, mas estava faltando um político importante para proclamar isto com todas as letras. Este repórter só faria a exceção da OAB – por enquanto.

            Ciro diz, sobre o PT, uma verdade evidente por si mesma: “O tamanho da goela não tem limite”.

            O PMDB já percebe isto cada vez com mais clareza. Este partido discute internamente e conclui que se continuar sendo caudatário, mero apoiador, como nos últimos 17 anos, vai definhar. Seu destino será semelhante ao do PFL, agora DEM. Sinal desta compreensão, de que é preciso mostrar a cara nas eleições majoritárias, foi a cooptação do deputado Gabriel Chalita do PSB para o PMDB, com a missão de concorrer à prefeitura de São Paulo. Pois o PT, por intermédio do presidente Lula, vai tentar convencer Chalita (e o PMDB, em conseqüência) a desistir em favor de Haddad, o candidato do PT.
             
O tamanho da goela não tem limite.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.