Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

“A maior depredação do patrimônio público é a corrupção”

Quinta, 10 de novembro de 2011
Da coluna "Em Tempo" publicada por Alex Ferraz na Tribuna da Bahia desta quinta.
A USP e o silêncio venal da UNE

Os brasileiros que ainda têm um mínimo de consciência democrática ficaram estarrecidos, anteontem, com a imagem de dezenas de estudantes enfileirados, coagidos pela PM (aos brados de “deita no chão!”) e com mãos na cabeça, sendo presos. Eu, que vi e vivi cenas dantescas semelhantes nos tempos da ditadura militar, quando militei na faculdade, mais do que estarrecido, fique deprimido.
E a depressão torna-se maior quando se vê que, enquanto uma minoria (infelizmente) de estudantes com consciência política livre tenta mudar os rumos de coisas absurdas (em notas seguintes veremos o que é a USP, hoje), a União Nacional dos Estudantes (UNE), dantes combativa (sou testemunha, pois participei do seu grande encontro de ressurgimento, em Salvador, na década de 1980), silencia. Quando muito, aqui ou acolá, emite “notas de apoio”, no mais autêntico estilo de aprendizes de burocratas que trocaram sua dignidade pelas gordas verbas que o governo do PT lhes dispensou nos últimos oito anos, para não falar no festival de cargos oficiais.
É lamentável ver uma meia dúzia de aproveitadores destruir de tal forma uma entidade. Mas parece ser a praxe, hoje, haja visto o que uma meia dúzia fez com o nome do PCdoB e o que outra meia dúzia está tentando fazer com a respeitável sigla do PDT, tudo em troca de um punhado de reais e mordomias.
Não é à toa, portanto, que a grande massa estudantil brasileira está, hoje, totalmente alienada, sem saber sequer escrever e muito menos interpretar a realidade que lhe cerca. Nem só escolas ruins e professores mal preparados e mal pagos levam a isso. A total falta de pensamento e ação político-ideológicos nas escolas e faculdades completa a imbecilização generalizada. Estamos involuindo a olhos vistos, podem crer.
Ainda sobre
a USP (I)

Para quem não sabe, a USP, se fosse um município, ocuparia hoje o sétimo lugar no País em termos de orçamento, à frente, inclusive, de Salvador. Só para a folha de pagamento, são R$ 3 bilhões! O dinheiro vem de repasses do governo de São Paulo.
A reitoria da USP, por sua vez, jamais explicou o porquê de investir em imóveis caríssimos, inclusive na área urbana mais cara da América Latina, que é a região da Avenida Paulista, onde tem centenas de salas e escritórios que nada têm a ver com serviços da universidade.
Ainda sobre
a USP (II)

A USP é dona ainda de imensos terrenos na região central da capital paulista, inclusive enorme estacionamento (cobrando R$ 9 pela primeira hora) na Rua da Consolação, que é privadíssimo e vive sempre lotado.
Como uma entidade tão rica não tem dinheiro para manter um excelente sistema de segurança no seu campus, levando-a a celebrar convênio para que a Polícia Militar ocupe a área, para prender e bater em estudantes?
Ainda sobre
a USP (III)

São com essas questões – e muitas outras também denunciadas pelos estudantes ditos “vândalos” - , que a Justiça deveria estar preocupada, há muito tempo, em vez de assinar ordens de despejo com força policial para recriar cenas idênticas às mais abjetas vistas na ditadura militar.
Ainda sobre
a USP (IV)

Não custa lembrar o silêncio acintoso da UNE diante do caos no Enem – pelo terceiro ano seguido – e das escandalosas falcatruas que têm derrubado sucessivos ministros. Quanto ao Enem, o motivo, claro, é que o ministro da Educação, Fernando Haddad, é o candidato do PT e de Lula, particularmente, à prefeitura de São Paulo.
Ainda sobre
a USP (V)

Encerrando, a frase pichada pelos estudantes da USP na reitoria ocupada: “A maior depredação do patrimônio público é a corrupção”. Assino embaixo.