Terça, 7 de agosto de 2012
Por Ivan de Carvalho

E, no momento, fazer o que quiser significa
principalmente, para Lula, fazer a campanha eleitoral, especialmente a do
candidato do PT e seu a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o segundo poste
que ele oferece à avaliação do eleitorado. O primeiro, como se sabe, foi
assimilado pelos eleitores brasileiros em 2010 – a atual presidente da
República, Dilma Rousseff.
Claro que a campanha eleitoral para as eleições de
outubro próximo não se restringe a São Paulo. Há outras cidades paulistas
importantes nas quais o PT tem grande interesse e algumas capitais estaduais de
grande relevância para o projeto petista de permanência no poder. Belo
Horizonte, Salvador, Recife integram esse grupo de capitais e nelas o PT está
apostando alto, além de enfrentar, até o momento, forte desvantagem.
O ex-presidente da República – agora que está
liberado para “fazer o que quiser, sem recomendações, apenas com bom senso”,
como disse o médico – poderá certamente dar-se ao incômodo de vir a Salvador
pedir pessoalmente votos para o candidato petista a prefeito, deputado Nelson
Pelegrino, que de acordo com pesquisas eleitorais conhecidas tem motivos para
estar muito aflito.
Se não estiver aflito – mesmo com toda a estrutura
partidária e material que sustenta sua candidatura –, será talvez por ser um
grande otimista, um discípulo de Pangloss, rivalizando com o saudoso reitor da
UFBa, Albérico Fraga, de quem Otávio Mangabeira disse que era tão otimista que
se passasse e visse uma casa pegando fogo, diria: “Ó, mas que casa bem
iluminada!”
Bem, afinal novamente preparado para a guerra das
gravações e, mais exigente, a guerra dos palanques, seria pessimismo demais
imaginar que Lula não virá a Salvador para uma entrevista, uma reunião e um
discurso – talvez em praça pública –, tudo encaixado na campanha de Pelegrino.
Imagino ainda que, a depender das circunstâncias político-eleitorais, ele
poderá vir duas vezes.
No momento, importante é que venha logo por primeira
ou até por única vez, pois é agora que a campanha do candidato petista e mais
14 partidos aliados precisa de um empurrão, melhor, de uma catapulta para pegar
embalo.
As coisas já estavam difíceis para a decolagem no
fim da semana passada começou o julgamento do Mensalão, aparentemente tende a
funcionar – é preciso esperar para conferir se será assim mesmo – como se
pendurassem algumas toneladas de pedras na nave petista na hora da decolagem.
Mas, se foi o próprio PT que escavou a pedreira,
paciência, ele que carregue as pedras.
A partir de ontem, apesar do simples fato de se
estar falando em Mensalão o tempo todo – no boca a boca, nas emissoras,
jornais, revistas, redes sociais da internet – ser um forte inconveniente para
o PT e aliados, em todo o país, haverá por uns dias um redução do peso das
pedras. É que os advogados de defesa é que estarão com a palavra e como são
muitos os réus e cada um deles será defendido durante uma hora por seu
advogado, isso vai durar toda a semana e até poderá invadir a próxima.
Mas depois vem o julgamento. E aí, sabe Deus o que
vai acontecer.
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Esta artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.