Segunda, 20 de agosto de 2012
Por
Ivan de Carvalho

Sobre
as tendências quantitativas desse estudo, especificamente, já tratei neste
espaço com os cuidados necessários a assegurar observância da legislação
eleitoral, já que o estudo não se destinava à divulgação, mas à utilização
reservada, e não houve, portanto, a preocupação de registrá-lo junto ao TRE.
Cumpre
assinalar que uma pesquisa feita para ser divulgada por interesse jornalístico,
encomendada pela TV Bahia ao Ibope (como parte da política de realização e
divulgação de pesquisas eleitorais da Rede Globo) apresentou resultados
parecidos com aquele estudo de que falamos.
O índice de
intenção de votos no democrata ACM Neto divergiu apenas em um ponto percentual,
o que não é significante. O índice atribuído ao petista Nelson Pelegrino foi
moderadamente abaixo do encontrado no estudo reservado. No caso do peemedebista
Mário Kertész, a desvantagem na pesquisa divulgada, em relação ao encontrado no
estudo reservado, foi muito relevante. Não dá para saber (aferições futuras
poderão esclarecer) se uma delas errou aí ou se houve um movimento no
eleitorado desfavorável a Kertész entre uma e outra.
No entanto, o
que importa, para efeito do tema hoje abordado, são os resultados qualitativos
(que os quantitativos só corroboram). Apurou aquele primeiro estudo que o
eleitorado de Salvador está querendo algo novo e tira suas conclusões, que vou
deixar ao próprio leitor-eleitor imaginar.
Bem, deixo de
lado essas duas aferições, mas sem esquecê-las totalmente, porque dão algum
suporte à tese que está se firmando nos meios políticos da Bahia. Essa tese é
de que o eleitorado do PT, que surgiu e cresceu gradualmente na capital e
algumas grandes cidades do estado, está migrando, nem seria para os médios, mas
para os pequenos municípios – ou, numa linguagem um pouco de má vontade que
alguns usam, para os grotões.
Na capital e
grandes cidades, o que haveria? Difícil ser específico e incisivo. Sempre há
fatores tipicamente locais. Mas não só. Talvez uma certa fadiga, um declínio um
tanto vertiginoso do fascínio que o discurso petista exercia sobre um
eleitorado exposto em seguida a uma realidade em alto grau não correspondente.
Desgaste por desgosto, desilusão. E alguns fatos determinados que repercutem
com mais força nos grandes centros urbanos – a greve da PM, a dos professores.
Nos grandes centros do interior, como nos pequenos, a fragilidade da estrutura
e serviços contra a seca.
Mas nos pequenos
municípios, o poder petista maneja uma rede de instrumentos poderosos em
pequenas comunidades. Alguns, bons. Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida,
cisternas (apesar da opção, difícil de entender, pelas de polietileno, mais
caras, menos duradouras e alienígenas), as equipes do Programa de Saúde da
Família.
E há as pequenas
obras, relativamente baratas e de resposta eleitoral imediata. Pavimentação de
ruas com paralelepípedo, limpeza de microbarragens particulares (até em
detrimento dos grandes barreiros, o que, técnicamente, não seria a opção
recomendável).
E alguns instrumentos
duvidosos. ONGs recebendo dinheiro público e, às vésperas das eleições, fazendo
campanha para o PT, legiões de agentes eleitorais de movimentos sociais,
especialmente da CUT e MST, com surpreendente fartura de recursos.
A conjugação
desses três tipos de instrumentos permite ganhar e segurar o eleitorado dos
pequenos municípios.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.