Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 8 de dezembro de 2012

A demissão de Mantega

Por Ivan de Carvalho
Não sei bem a razão, pode ser má vontade ou antipatia, ou interesse de que a economia brasileira cresça para a da Inglaterra e outras pegarem uma carona. Mas pode ser também, admita-se, um desejo genuíno de ajudar.

O fato é que a renomada e sisuda revista britânica “The Economist” sugeriu, em editorial, a demissão do ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, por causa do fraco desempenho do crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro – 0,6 por cento no terceiro trimestre deste ano. Uma titica.

A revista afirmou que a presidente Dilma Rousseff, se recuperar a confiança dos investidores, precisa providenciar uma nova equipe econômica. E sugeriu que, nesse departamento, a primeira medida deveria ser a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, devido a suas previsões otimistas e não confirmadas sobre o crescimento do PIB.

A lógica da revista britânica é perfeitamente aceitável: se o ministro erra feio nas previsões sobre o PIB, chutando sempre para cima a bola que vai para baixo, ou ele é um panglossiano ou está querendo enganar a galera. Caso em que seria um bobo, pois logo vêm os números reais sobre o deficiente crescimento do PIB e as previsões relativamente otimistas antes feitas acarretam o descrédito do profeta.

Extrapolando os limites da ofensa, a revista britânica acusou a economia brasileira de ser uma “criatura moribunda”, que ficou paralisada e luta para se recuperar, dando a entender que, com Guido Mantega, não dá.

           Mas é claro que, apesar de abalado com essa artilharia pesada, nosso nacionalismo não poderia deixar sem resposta a ousada intromissão da revista na política econômica da pátria amada. Assim é que ontem o ministro do Desenvolvimento (?), Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, criticou a revista, afirmando que “no dia em que a ‘Economist’ nomear ministro no Brasil, deixaremos de ser uma República Federativa”. Pimentel está coberto de razão. Só faltou dizer que passaríamos a ser parte de “um Reino Unido”.

         Pimentel garantiu ainda que o Brasil está na direção certa e registra forte crescimento (mas com esse pibinho?!), comprovado pelos indicadores de investimentos no país. Parece que o ministro aí estava falando de desenvolvimento futuro e nesse negócio de futurologia o repórter não vai questioná-lo. Pimentel disse que em 2013 o crescimento do PIB brasileiro certamente será acima da média mundial, mas a revista “The Economist” estava falando do PIB de 2012, especificamente do terceiro trimestre deste ano – e das previsões superlativas, não cumpridas, de Guido Mantega. Quanto a 2013, ainda vem aí, se o calendário maia deixar.

MEIA SOLA – Têm se repetido em várias partes do mundo e já são quase rotina no Brasil os apagões, interrupções no fornecimento de energia elétrica, não raro inexplicadas satisfatoriamente. Isto recomendaria que os governos começassem a tomar algumas providências. Uma delas, o governo brasileiro e até governos estaduais poderiam adotar sem grandes dificuldades: tornando obrigatória a existência de pelo menos uma bomba manual para fornecimento de gasolina e álcool e outra para diesel nos postos de combustíveis, nas cidades, mas com muito mais urgência nas estradas.

Se houver problemas sérios de custo de instalação, os governos poderiam financiar ou até arcar com o gasto em benefício do serviço prestado aos consumidores. Para as pessoas não ficarem na estrada à espera da restauração da energia – que pode demorar muito, a depender da causa da interrupção e do estrago que ela produziu. Se a causa for uma grande emissão solar de massa coronal...
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.