Quinta, 20 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

Claro
que o PT faz a conta de que a coalizão que lidera foi vencedora na grande
maioria dos municípios baianos. É uma boa maneira de ver as coisas do ponto de
vista petista. Mas não deve ser negligenciada a hipótese de que, quando se
aproximarem as eleições gerais de 2014, a oposição haja conseguido criar uma perspectiva
de poder bastante convincente.
Neste
caso, a tendência natural – considerando o que é natural na política baiana – é
a de alguns integrantes da coalizão governista passarem à coalizão
oposicionista.
À
emblemática vitória de ACM Neto para prefeito de Salvador, vencendo uma batalha
desigual – a teimosia do eleitorado foi sua arma fundamental contra a
gigantesca traquitana governista – somou-se a esmagadora vitória do Democratas,
com o apoio expressivo do PMDB, no segundo maior colégio eleitoral do Estado,
Feira de Santana.
Já
foi dito muitas vezes por muitos que essas duas vitórias deram à oposição as
condições de tomar fôlego e livrar-se da corda que a estrangulava. Agora
respira e, a depender da conjuntura geral no país e na Bahia, como também a
depender do que faça a própria oposição baiana, pode ser criada para 2014 uma
situação de razoável equilíbrio. E então à simpatia e à eventual teimosia do
eleitorado caberá determinar o desfecho.
Note-se
que nenhum dos dois lados, governismo e oposição, têm um “candidato natural” a
governador. Isto porque, na oposição, o único candidato natural seria ACM Neto,
mas para isto ele teria que sair-se bem e mostrar serviço nos primeiros 15
meses de seu mandato – pois poderia governar apenas durante o ano de 2013 e o
primeiro trimestre de 2014, deixando então o cargo de prefeito da capital para
se colocar em situação legal de disputar o governo do Estado. Um risco imenso
para sua carreira, que só correria, talvez, se surgissem condições extremamente
atraentes. E ele teria de dar um jeito de convencer o eleitorado de que estaria
deixando o governo de Salvador em boas mãos.
Para
nos mantermos apenas na estreitíssima faixa dos candidatos naturais, vamos
completá-la com o ex-governador e atual vice-governador e presidente estadual
do PSD, Otto Alencar (o senador Walter Pinheiro vai se insinuando, mas o
canibalismo petista talvez cuide dele). O presidente nacional do PSD, Gilberto
Kassab, apontou esta semana, em entrevista à revista Veja, a Bahia como um dos sete Estados em que o PSD pretende lançar
candidatura própria ao governo do Estado, apesar da indicação de Otto de que
não tem interesse em encabeçar a chapa governista baiana e da afirmação de seu
projeto de ser candidato a senador.
Mas
há um problema com Otto Alencar e com qualquer outro político da coalizão
governista que eventualmente aspire concorrer ao governo representando a
coalizão há seis anos no governo – o PT. Quem foi que disse que o PT abre mão
do cargo principal para outro partido? Nem a pau. Prefere perder. Lembram-se
que o PT apoiou o ex-senador e ex-ministro peemedebista Hélio Costa a
governador de Minas Gerais (ele perdeu para Aécio Neves)? Apoiou só porque o
comando nacional do PMDB impôs isto como uma condição (a principal) para o
partido apoiar a reeleição de Lula em 2006.
Não
fosse esse xeque-mate peemedebista, não tinha como convencer o PT a não lançar
candidato. E foi difícil mesmo assim.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.