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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Movimento Nacional de População de Rua considera prisão de moradores de rua em Brasília ação higienista

Quinta, 19 de dezembro de 2012
Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

O Movimento Nacional da População de Rua divulgou hoje (19) nota de repúdio à prisão de 11 moradores de rua no Distrito Federal (DF), ocorrida ontem. A nota considera como higienista e ação da 2ª Delegacia de Polícia da Asa Norte, que resultou nas prisões.

“O que nós pudemos perceber em toda essa trajetória foi uma ação higienista e intimidadora por parte da 2ª delegacia, que em nenhum momento teve o olhar da dignidade da pessoa humana para as pessoas e famílias em situação de rua”, disse o integrante do Observatório das Violências contra a População em Situação de Rua do Distrito Federal, Jacinto Mateus de Oliveira.


O delegado Waldek Fachinelli, da 2ª Delegacia de Polícia do DF,  contestou que a ação da polícia teve caráter de limpeza social. “A delegacia coíbe todos os tipos de ocupações irregulares, mesmo as ocupações luxuosas,” disse. “Fizemos outras ações semelhantes, inclusive de pessoas ricas e de policiais invadindo terras públicas”. Ele disse que a polícia agiu após laudo pericial que “constatou que o local se trata de terra pública e que a área faz parte da zona tombada [pelo patrimônio histórico] e da presença de crime ambiental.”

Oliveira, que também é apoiador da coordenação do Movimento Nacional da População de Rua do Distrito Federal, contestou a explicação de que os moradores estavam cometendo crime ambiental. “É exatamente o contrário. Eles são agentes ambientais. Eles vivem da catação de material reciclado, separando os resíduos, coisa que a própria sociedade não faz. A segurança pública tem que trabalhar em defesa da vida e não apenas da propriedade”, disse.

Oliveira avalia que a ação da polícia desconsiderou a política voltada para a população em situação de rua, adotada pelo governo do Distrito Federal. Para ele, a ação foi unilateral, sem o respaldo dos outros órgão de estado envolvidos com as políticas para o segmento. “Uma ação dessa  mostra a total falta de diálogo dos agentes de segurança pública com o próprio governo.”

Fachinelli disse à Agência Brasil que, antes da operação, entrou em contato com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal (Sedest) para auxiliar na operação, mas que o órgão teria informado não poder contribuir com a polícia.

A Sedest lançou hoje uma nota sobre o ocorrido, mas não menciona que a secretaria tivesse conhecimento prévio da operação. A nota diz que “ao tomar conhecimento da ação feita pela Polícia Civil, na manhã do dia 18 de dezembro, [a Sedest] direcionou equipe do Seas [Serviços Especializados de Abordagem Social] ao local. Mulheres e crianças retornaram com seus pertences às suas cidades de origem. As pessoas que ficaram privadas de liberdade, oito homens e duas mulheres, estão sendo acompanhadas pela Sedest, em parceria com a Defensoria Pública do DF.”

Em 2011, o Governo do Distrito Federal instituiu o Comitê Intersetorial para elaboração da Política para Inclusão Social da População em Situação de Rua, integrado por representantes da sociedade civil e de várias secretarias, entre as quais a Secretaria de Estado de Segurança Pública e a Sedest. Entre as atribuições do comitê está promover o acesso às políticas públicas de saúde,  educação, previdência social, assistência social, trabalho, renda, moradia, cultura, esporte e lazer, de forma intersetorial e integral.

Na sexta-feira (21), está previsto um encontro de representantes do Movimento Nacional da População de Rua com a presidenta Dilma Rousseff. Oliveira disse que o movimento vai aproveitar o encontro para abordar a operação policial e também tratar de políticas de moradia para essa parcela da população. “O povo da rua quer dignidade. Eles querem um lugar que eles possam pagar. A gente que que as pessoas sejam inseridas em programas de trabalho e em programas habitacionais. Ninguém vai ganhar casa,” disse.