Sábado,
23 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Em um cenário normal, o aviso da
presidente estadual [da Bahia] do PSB, senadora Lídice da Mata, de que seu
partido está na corrida para a sucessão do governador Jaques Wagner poderia ser
interpretada de duas formas.
Uma delas, a simples intenção de
Lídice da Mata de, por intermédio do PSB, apresentar seu nome – não existe
outro na seção baiana em condições políticas e eleitorais para isso – para o
governo.
Uma avaliação do
quadro sucessório mostra que nas oposições não há um candidato forte (o nome
que se destaca nas pesquisas é o do prefeito de Salvador, democrata ACM Neto,
que somente em condições especialíssimas, improváveis de ocorrerem, poderia
deixar tão cedo o comando da prefeitura para mergulhar numa dura batalha
eleitoral).
Enquanto isso, na
área governista o quadro também não é confortável. O PT, até onde se sabe e por
tudo que dele se conhece, não pretende abrir mão da candidatura a governador,
ainda mais estando numa posição de força entre os partidos aliados, graças às
suas posições de poder estadual e federal. Essa generosidade não é da sua
natureza, antes a contraria.
Mas, apesar dessa
situação preponderante, o PT não está bem. Dos quatro nomes relacionados por
sua executiva estadual como de pré-candidatos a governador, três (Rui Costa,
José Sérgio Gabrielli e Luiz Caetano) precisam, para se afirmar
verdadeiramente, construir alianças e afastar obstáculos dentro do próprio PT,
além de construir pontes ou metrôs que os unam, não a Itaparica ou Lauro de
Freitas, mas aos partidos aliados e, numa segunda e não menos difícil operação,
ao eleitorado.
O quarto
pré-candidato petista tem a vantagem de ser senador, líder do PT no Senado e
enfrenta sérias dificuldades para construir um consenso ou algo próximo disso
na sessão estadual do partido e até obter o apoio de Lula (que simpatiza com a
candidatura de José Sérgio Gabrielli).
Mas Pinheiro tem
a vantagem de, além de senador, portanto, politicamente autônomo, ser o nome
petista que aparece com maior preferência no eleitorado – abaixo do democrata
ACM Neto e do vice-governador Otto Alencar, presidente estadual do PSD e nome
mais popular para o governo na coalizão situacionista. A aparição expressiva de
Pinheiro em pesquisas eleitorais (reservadas) decorre na maior parte, no
entanto, de ter ele concorrido a duas recentes eleições majoritárias – para
prefeito de Salvador, em 2008 e para senador, em 2010. Seus índices
representariam, em grande parte, não uma preferência dos eleitores, mas uma
“lembrança”. Uma lembrança que não deixa de ter seu valor.
Bem, neste
cenário petista assim vazio, Lídice estaria, segundo a primeira daquelas
interpretações inicialmente referidas, entrando com o seu PSB no rol de
candidatos ao governo para ver se cola, modo pelo qual se poria em situação
similar (não significa igual) às de Otto Alencar e Marcelo Nilo, presidente da
Assembléia Legislativa.
Ou, na
interpretação menos ambiciosa, anunciando a disposição do PSB de disputar o
governo apenas como estratégia para valorizar o partido nas negociações
eleitorais e na participação no futuro governo.
Essas
interpretações eram válidas enquanto não se conhecia – e agora já se conhece –
a disposição do presidente nacional do PSB. O governador Eduardo Campos, de
Pernambuco, pretende concorrer à presidência da República em 2014, se não
houver obstáculo político incontornável. A decisão de Campos e do PSB que ele
controla (excetuada a forte dissidência do Ceará, com os irmãos Ciro e Cid
Gomes) explica melhor a posição de Lídice da Mata – ela entra na disputa para
governador (com seu mandato de senadora garantido até início de 2019) por
decisão partidária, para nuclear um palanque com densidade na Bahia para a
candidatura presidencial de Eduardo Campos, caso esta se concretize. No mais, o
que houver é lucro.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.