Segunda, 25 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
A blogueira cubana Yoani Sanches, que vem lutando pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos em seu país, deve embarcar no Rio de Janeiro, às 14 horas de hoje, em um vôo para a República Tcheca. Ela iniciou pelo Brasil uma turnê em doze países com o objetivo principal de divulgar as condições em que vive o seu povo sob o regime totalitário imposto a Cuba desde 1959.
O Rio de Janeiro foi o único lugar do Brasil em que ela, pelo menos até ontem, não foi alvo de hostilidades de grupos amestrados, formados por militantes do PT, do PC do B, da CUT e de algumas ONGs, tudo isso mobilizado pela embaixada de Cuba em Brasília, onde houve uma reunião no dia 6 de janeiro para acertar a “estratégia” com que se pretendia desqualificar a jornalista cubana e anular os efeitos de sua visita.
Sobre tal “estratégia”, vale transcrever o que li ontem em artigo do jornalista Elio Gaspari, citando outro jornalista, o escritor e ex-deputado Fernando Gabeira, do PV fluminense: “Junte-se algum estrategista Jim Jones e a relação romântica que o PT ainda vive com a Revolução Cubana e temos esse tiro no pé”.
Tiro no pé e, enfatize-se, absolutamente certeiro. O desembarque de Yoani Sanches no Brasil, no aeroporto de Recife, foi marcado pelos furibundos protestos de um grupo de 20 e poucos manifestantes, com cartazes, gritos, berros, ofensas e uma solitária puxada nos longos cabelos da cubana. Ela já está acostumada a coisas muito piores em Cuba – perseguições, bloqueio por longo tempo do seu blog (atualmente, o bloqueio foi retirado), prisão, impedimento da liberdade de ir e vir (vinte pedidos de visto para deixar temporariamente o país atendendo a convites já lhe haviam sido negados até que uma mudança legislativa permitiu a viagem atual).
Horas depois, no aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, outros vinte e poucos manifestantes prepararam a repetição dos mesmos eventos do Recife para o desembarque da blogueira cubana, mas não tiveram acesso a ela, que desembarcou pelo setor de autoridades. Fizeram, ainda assim, a algazarra que, a juízo deles e de quem os dirigia por controle remoto, convinha aos seus fins.
Depois, em Feira de Santana a “estratégia” contra Yoani atingiu seu ponto máximo. Um modesto (em número) grupo de manifestantes ocupou e fez uma bagunça no espaço em que seria exibido um filme-documentário, “Conexão Cuba x Honduras”, na qual Yoani é uma das pessoas entrevistadas, desafiando a blogueira para um debate. Ela, escoltada pelo corajoso senador petista Eduardo Suplicy, aceitou. E então impediram, aos gritos, que ela debatesse qualquer coisa, talvez não se tornando a situação ainda mais grave pela enérgica intervenção do senador.
“Eles estavam com as veias do pescoço inchadas, eu sorria”, comentou Yoani Sanches, pouco depois, para a imprensa, desferindo em seguida o golpe de misericórdia: “Eles respondiam a ordens, eu sou uma alma livre”.
A “estratégia” montada pela embaixada de Cuba (naturalmente acionada de Havana) com os nativos do PT, PC do B, CUT e adjacências repetiu-se com várias intensidades em Brasília e em São Paulo. Essa “estratégia” de borra-botas foi tão boa para Yoani Sanches que, ao passear sem ser incomodada – apenas cumprimentada pelas pessoas que a reconheciam em meio a um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas (resultado da repercussão da visita em parte decorrente das manifestações hostis anteriores em outras cidades brasileiras) – ela se queixou.
Em um desabafo, certamente com apropriada ironia, disse que, em sua visita ao Rio, sentia falta dos manifestantes. Apenas uma banhista, em Copacabana, gritou para que ela retornasse a Cuba. Gritou à toa: ela já garantira antes que vai retornar sim, o que os manifestantes brasileiros do governo cubano deixaram claro que lhes é de grande desagrado.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.