Sexta, 23 de agosto de 2013
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – A Polícia Civil do Pará localizou ontem (22) na Fazenda
Lagoa do Triunfo, em São Félix do Xingu, sul do estado, o corpo do
trabalhador rural Welbert Cabral Costa, 26 anos, desaparecido desde 24
de julho. Segundo organizações civis de defesa dos direitos humanos como
a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Comissão Estadual de Direitos
Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o tratorista foi morto
por seguranças da propriedade, na qual trabalhava, ao cobrar R$ 18 mil
de direitos trabalhistas.
A Fazenda Lagoa do Triunfo pertence à Agro Santa Bárbara, que tem
entre os acionistas o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity.
Segundo a Polícia Civil paraense, o corpo foi encontrado no interior da
fazenda, a cerca de 15 quilômetros da entrada principal, onde, segundo
testemunhas, Costa teria sido baleado por um segurança.
Auxiliados por bombeiros e peritos criminais, os policiais civis só
chegaram ao local onde o corpo estava após receberem uma denúncia
anônima. O corpo estava em estado avançado de decomposição e, embora
tenha sido identificado por um irmão da vítima, ainda terá que ser
submetido a uma necropsia no Instituto Médico-Legal (IML) de Marabá
(PA). Uma caminhonete da Agro Santa Bárbara vai ser periciada, porque a
polícia suspeita de que o veículo foi usado para transportar o corpo até
o local em que foi encontrado.
Detalhes como os autores e a motivação do crime ainda estão sendo
apurados, mas a Justiça Estadual já autorizou a prisão preventiva do
capataz Maciel Berlanda do Nascimento, 31 anos, e do fiscal de serviços,
Divo Ferreira, 44 anos. Os dois são os principais suspeitos do
assassinato e estão desaparecidos desde o dia do crime.
De acordo com a Polícia Civil, testemunhas
contaram ter visto Ferreira atirar em Costa. Depois, ele recebeu ajuda
de Nascimento para ocultar o corpo. A polícia disse ter encontrado
munição de calibres variados, um coldre de revólver e uma mira
telescópica na casa de Ferreira. Já no interior da fazenda, policiais
apreenderam duas armas de fogo, de calibres 36, e um estojo de espoletas
(munição).
Em um nota conjunta divulgada no dia 9 de agosto, CPT, OAB,
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri) e Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) disseram que, segundo moradores da
região, esse não seria o primeiro homicídio praticado no local com as
mesmas características e motivação. Por isso, acreditam que exista um
cemitério clandestino na propriedade.
O Grupo Santa Bárbara tem sido associado pela CPT a conflitos agrários no sul paraense. Em julho do ano passado, cerca de 400 integrantes da Fetagri ocuparam a Fazenda Itacaiúnas, em Marabá,
que também pertence à Agro Santa Bárbara. Um mês antes, mais de 300
sem-terra haviam ocupado outra propriedade do grupo, a Fazenda Cedro,
também em Marabá.
Apenas entre 2008 e 2012, a Agro Santa
Bárbara alega ter registrado mais de 200 boletins de ocorrência contra
invasões do MST a propriedades como a Fazenda Maria Bonita, em Eldorado
dos Carajás (PA). Por outro lado, a empresa já foi processada por
desmatamento ilegal e alvo de uma operação que encontrou trabalhadores
em condições análogas às de escravidão.
Em um relatório divulgado em agosto de 2012, a CPT identifica a
existência de 38 lideranças e trabalhadores rurais ameaçadas de morte
nas regiões sul e sudeste do Pará em decorrência da luta pela terra.
Além disso, entre 1996 e 2010, 799 trabalhadores rurais foram presos,
809 foram ameaçados de morte e 231 foram assassinados no estado. Ainda
segundo a CPT, no mesmo período, mais de 31 mil famílias foram
despejadas ou expulsas de 459 áreas reivindicadas para assentamentos da
reforma agrária.
A Agência Brasil procurou a Agro Santa Bárbara, mas ainda não recebeu resposta ao pedido de informações feito por e-mail.