Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Crônica do "golpe" inexistente

Quinta, 27 de agosto de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes
Não é possível que a chusma de intelectuais petistas que passaram os últimos meses escrevendo acerca de um possível “golpe” sejam ignorantes a ponto de acreditar realmente no que dizem. Minha opinião é que, na maior parte dos casos, trata-se da defesa interesseira de uma boquinha aqui e um edital acolá, de que vive há décadas essa “esquerda” oficial que temos no País. Os que embarcam nessa movidos por um sincero temor da “direita” são os famosos ingênuos úteis, sem os quais qualquer fraude política é impossível.
Basta olhar o Ministério da senhora Dilma para ver a quais interesses seu governo serve. Seus discursos e seu “ajuste fiscal”, idem.
Do ponto de vista histórico, não se pode desconhecer que são completamente diversas as situações de 1964 e 2015, internacional e também domesticamente. Há cinco décadas atrás o mundo estava polarizado entre dois blocos, o soviético e o norte-americano, ambos imperialistas, havendo ainda países que resistiam na revolução socialista (caso da China Vermelha, que o foi até a morte de Mao em 1976) e nas lutas de libertação nacional (Cuba, Argélia, Vietnã,etc). O imperialismo norte-americano, engasgado com a vitória dos guerrilheiros de Sierra Maestra embaixo das suas barbas, não admitia a mais mínima abertura democrática no seu quintal, a América Latina, e desencadeou golpes sucessivos numa série de países da região. Dentro do Brasil, financiou e apoiou politicamente a desestabilização de Jango, liquidado a partir do momento que prometeu fazer a reforma agrária e limitar a remessa de lucros para o estrangeiro, afrontando assim os interesses dos latifundiários e monopólios forâneos aqui instalados.
Atualmente, é muito mais cômodo para o “Tio Sam” jogar com a política de “democracia”, alimentando governos eleitos em processos farsantes, pois que os principais candidatos são financiados pelos mesmos grupos e defendem, basicamente, os mesmos interesses. Esse o caso do Brasil. Após a “redemocratização” vivemos um ciclo ininterrupto de privatizações, arrocho salarial, concentração da propriedade fundiária, desemprego e tantas outras mazelas que assolam nosso povo diariamente. O tal “combate à inflação”, baseado numa política de juros estratosféricos, multiplicou o endividamento interno e externo, forçando o governo a aumentar sucessivamente impostos, pagos principalmente pelos mais pobres. A incipiente indústria nacional foi liquidada, e o papel do capital financeiro na vida nacional, associado às empreiteiras, somente aumentou.
A esses interesses serve a gerentona Dilma, como anteriormente serviu o pelego Lula. Quanto ao imperialismo norte-americano, artífice do golpe de 64, não é difícil ver sua mão na “operação salvamento” do governo petista, com viragem brusca da cobertura da crise pela Rede Globo e demais veículos dos monopólios de comunicação, notas de entidades empresariais e personalidades entreguistas de longa data, inclusive FHC, que se posicionou abertamente contra o impeachment. Tudo isso após a vexatória visita de Dilma a Obama, na qual aquela tentou (e aparentemente conseguiu) salvo-conduto para continuar administrando a velha semicolônia Brasil, pelo menos por enquanto. O anúncio de políticas caras ao norte-americanos nas áreas de energia, com privatização de subsidiárias da PETROBRAS (caso da BR Distribuidora) e prosseguimento dos infames leilões do petróleo, na indústria automobilística (o “pacotão” de socorro às montadoras anunciado por Levy poderá chegar a R$ 14 bilhões), ademais da aprovação da fascista Lei Antiterrorismo, parecem revelar parte dos acordos firmados em Washington –os mais lesivos não vêm à tona, naturalmente.
Jango não foi a Casa Branca em março de 64, mas convocou um comício na Central. Por isso mesmo, caiu.
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Aos trabalhadores da cidade e do campo, à juventude sem perspectivas, aos intelectuais honestos e ao povo brasileiro de modo geral, cabe lutar para derrubar não apenas esse governo antipopular e antinacional, mas o Estado e a ordem social burguesa e latifundiária, serviçal do imperialismo (principalmente norte-americano), que ele defende. E derrubar, junto dele, essa falsa esquerda canalha, traidora, que joga lama sobre as bandeiras vermelhas dos que lutam verdadeiramente por profundas mudanças sociais. Por mais árduo que seja o caminho, reconheçamos, não há outro.