Terça,
25 de agosto de 2015
Ivan
Richard - Repórter da Agência Brasil*
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos
processos da Operação Lava Jato na primeira instância, enviou hoje (25) ao
Supremo Tribunal Federal (STF) documentos apreendidos no escritório do advogado
Guilherme Gonçalves, em Curitiba, durante a 18ª fase da Lava Jato, por
suspeitas de que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) tenha recebido valores de
“natureza criminosa”.
Em nota, a senadora informou que conhece
Guilherme Gonçalves “há muito tempo” e que todo o trabalho dele como advogado
nas campanhas dela constam das prestações de contas, aprovadas pela Justiça
Eleitoral. “Desconheço as relações contratuais que Guilherme Gonçalves mantém
com outros clientes, assim como desconheço qualquer doação ou repasse de
recursos da empresa Consist para minha campanha”, afirmou Gleisi.
Gleisi Hoffmann
informou que os pagamentos a Guilherme Gonçalves constam das prestações de
contas
No despacho publicado hoje (25), Moro destacou
que, de acordo com provas colhidas no processo, há indícios de que a senadora
tenha sido beneficiária de recursos da empresa Consist, investigada na Pixuleco
2.
“Havendo indícios de que autoridade com foro
privilegiado seria beneficiária de pagamentos sem causa, é o caso de acolher o
requerimento da autoridade policial e do MPF [Ministério Público Federal] e
remeter o feito para o Egrégio Supremo Tribunal Federal”, disse Moro.
“Como a referida senadora é, aparentemente,
apenas uma das beneficiárias de pagamentos sem causa efetuados a dezenas de
outras pessoas, de todo oportuno que, se assim for este o entendimento do
Supremo Tribunal Federal, o processo seja desmembrado, possibilitando a
continuidade da investigação e da persecução, perante este Juízo, dos
investigados destituídos de foro privilegiado”, acrescentou o juíz.
Em depoimento à Polícia Federal, Guilherme
Gonçalves alegou que utilizava recursos recebidos a título de honorários
advocatícios da Consist, a fim de pagar despesas de clientes do escritório,
como é o caso senadora e de pessoas a ela ligadas. Ele disse ainda que os
débitos seriam relativos a "despesas urgentes" dos clientes. Também
esclareceu que nenhuma delas teria sido, posteriormente, ressarcida.
Moro afirmou que, conforme as investigações,
os recursos sairiam do “fundo Consist”, termo usado em uma planilhada também
apreendia no escritório de advocacia. “A planilha de fevereiro de 2015
apreendida no escritório de Guilherme Gonçalves revela que, do assim denominado
'Fundo Consist', com crédito de R$ 50.078,00, foram efetuados diversos
lançamentos de débitos em favor da senadora e de pessoas a ela ligadas”, diz
outro trecho do despacho enviado ao STF.
Também consta da planilha apreendida pela
Polícia Federal débito de R$ 1.344,51, a título de pagamento de multa relacionada
ao nome de Gleisi Hoffmann, e débitos de Zeno Minuzzo e Hernany Bruno
Mascarenhas, ligados a senadora paranaense, de acordo com a força-tarefa da
Lava Jato. Conforme as investigações, Hernany Mascarenhas prestaria serviços de
motorista à senadora, enquanto Zeno Minuzzo teria sido secretário de Finanças
do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores.
No despacho, o Juiz Sérgio Moro lembrou que,
na planilha apreendida, há registro de pagamento, em setembro de 2011, de R$ 50
mil de honorários pela Consist a Guilherme. Acrescentou que esse pagamento
teria sido “acertado” com o ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi
Hoffmann. Uma anotação de Guilherme Gonçalves apreendida por agentes da PF
descreve o suposto acerto para o pagamento de honorários advocatícios combinada
com Paulo Bernardo.
“A anotação em questão, revelando que
Guilherme precisaria da concordância de terceiro [Paulo Bernardo] para ficar
com os honorários pagos pela Consist, indica que os valores não se tratavam, de
fato, de honorários”, concluiu Moro.
*Colaborou Karine
Melo