Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quem se surpreende com a boia que o PT atirou para o Aécio mantém uma visão ingênua dos políticos profissionais

Sexta, 29 de setembro de 2017
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Foi dificílimo, mas conseguimos!
Uma das maiores satisfações da minha vida foi ter contribuído para que não se repetisse com Cesare Battisti a infâmia cometida contra Olga Benário. Tratou-se de uma rara ocasião na qual, em circunstâncias semelhantes, um episódio histórico não teve o mesmo desfecho da vez anterior.

Mas, foi exceção. A regra é a repetição. Daí eu acertar tanto em minhas previsões: conheço bem nossa História.

Então, p. ex., quando Dilma Rousseff optou pela rendição incondicional ao grande capital, entregando o comando da política econômica ao neoliberal Joaquim Levy, eu imediatamente alertei que João Goulart cometera o mesmíssimo erro, acreditando que apaziguaria os donos do PIB se colocasse alguém palatável para eles à frente do Ministério da Fazenda. 

Até um banqueiro foi empossado por Jango na Pasta: Walther Moreira Salles, que acabaria expelido em apenas dois meses (não confundir com os nove meses e meio em que desempenhou a mesma função no gabinete parlamentarista de Tancredo Neves). 

Daquela vez, o PCB e Leonel Brizola puxaram o tapete dos ministros capitalistas de tudo quanto foi jeito, impedindo-os de implementarem suas metas, até que desistissem da missão impossível.
Em 2015, a fritura esteve a cargo do MST, do MTST, da CUT, da UNE e até da própria base aliada no Congresso Nacional, com Levy, totalmente derrotado, entregando os pontos uma semana antes do Natal.

Eu poderia citar outros exemplos de repetição da História, mas, para não abusar da paciência dos leitores, irei al grano, como dizem nuestros hermanos.
O banqueiro que foi ministro do Jango...

Deu-me desalento a reação ultrajada, nas redes sociais, à posição assumida pelo PT com relação ao castigo imposto a Aécio Neves.

Por quê? Evidentemente, não por apreço ao dito cujo. Não tenho nenhum, nem por ele, nem pelo tio, a quem sempre vi como um maquiavélico que apostou todas as suas fichas na rejeição da emenda das direta-já para depois obter a Presidência da República via colégio eleitoral, única maneira que tinha de satisfazer suas ambições (nas urnas seria goleado!). Se o Brasil saiu da ditadura pela porta dos fundos, boa parte da culpa cabe a Tancredo Neves.

O que me incomodou foi constatar o quanto os brasileiros, mesmo os mais interessados na política, ainda estão longe de perceberem quem são e quais interesses movem os políticos profissionais

Até me divertiu a situação do Aécio, a quem a 1ª turma do Supremo botou de castigo no canto da classe, olhando para a parede e com um chapéu de desonesto enterrado na cabeça. Era algo que queríamos ver há muito tempo.

Mas, o pouco conhecimento jurídico que possuo já bastava para eu saber que tal decisão seria inevitavelmente derrubada adiante, por representar uma punição (maquilada) antes da condenação. 

Assim como era mais do que previsível a união de todos os partidos e parlamentares encalacrados contra a Lava-Jato, aproveitando a pisada na bola do STF. O que mais podemos esperar dos políticos profissionais? Que sejam fiéis ao blablablá inflamado que utilizam para fins eleitoreiros? Quanta ingenuidade!
...e o representante do Bradesco no ministério da Dilma.

O PT jamais será encarado por um parlamentar tucano típico (há, claro, uma ou outra exceção) como um  inimigo maior do que quem ameace privá-lo do exercício do seu mandato. Idem o PSDB para os parlamentares petistas típicos. 

Então, não é o Aécio que eles querem salvar; é o eu sou você amanhã que eles querem evitar, custe o que custar. Se o preço for livrar a cara do Aécio, eles o pagarão con mucho gusto.

Da mesma forma, no final de 1968, uma Câmara Federal com folgada maioria governista não autorizou a abertura de um processo para a cassação do mandato do deputado Márcio Moreira Alves, exigida pelos militares.

É que, depois dos expurgos subsequentes ao golpe, o furor punitivo diminuíra. Os deputados temiam que, reaberta a porteira, muitos outros perdessem o mandato. Então, resolveram bater o pé, não cedendo ao ultimato dos fardados. [O que acabou servindo como pretexto para a linha dura militar fechar totalmente o País, com a imposição do AI-5.]

Então, daquela vez os aparentemente opostos se uniram em torno do que mais lhes importava: seus mesquinhos interesses pessoais. E hoje estão procedendo da mesmíssima maneira.

Assim são os políticos profissionais, defensores, acima de tudo, de si próprios e dos benefícios que seus mandatos lhes proporcionam
 
 
Enquanto não tivermos clareza quanto a isto, continuaremos patinando sem sair do lugar. 
Algum dia cairá para contingentes mais amplos a ficha de que as verdadeiras soluções têm de ser buscadas fora do sistema e contra o sistema. 

Mas, com a eternidade que está demorando para o óbvio ululante prevalecer sobre a falsa consciência, nem sei se ainda estarei vivo quando os explorados finalmente tomarem a História na mão... 

É meu derradeiro sonho.