Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Mangueira e o Documento de Puebla e os Evangelhos.

Quarta, 5 de fevereiro de 2020

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Inspirado numa reflexão de meu amigo Robson Santarém, da ANIMA, resolvi colar o samba da Mangueira no Documento de Puebla, onde os bispos latino-americanos, reunidos em 1979 na cidade mexicana de Puebla do los Angeles firmaram compromisso de priorizar a evangelização para os mais pobres e oprimidos. Destacaram as crianças golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer, os jovens desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade; os desempregados, os marginalizados, os anciãos, postos à margem por uma sociedade que prescinde das pessoas que não produzem. Em todos esses os bispos viram o rosto e o corpo de Cristo que deve ser de toda gente, sobretudo dos pecadores e sofredores. Eis o que canta a Mangueira e o que decidiram os bispos latino americanos
MANGUEIRA
VÃO TE INVENTAR MIL PECADOS
MAS EU ESTOU DO SEU LADO
E DO LADO DO SAMBA TAMBÉM
“31. Esta situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo, o Senhor (que nos questiona e interpela) :
EU SOU DA ESTAÇÃO PRIMEIRA DE NAZARÉ
MOLEQUE PELINTRA DO BURACO QUENTE
  1. – feições de crianças, golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer, impedidas que estão de realizar-se, por causa de deficiências mentais e corporais irreparáveis, que as acompanharão por toda a vida; crianças abandonadas e muitas vezes exploradas de nossas cidades, resultado da pobreza e da desorganização moral da família;

MEU NOME É JESUS DA GENTE
NASCI DE PEITO ABERTO, DE PUNHO CERRADO
  1. – feições de jovens, desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade e frustrados, sobretudo nas zonas rurais e urbanas marginalizadas, por falta de oportunidades de capacitação e de ocupação;
ROSTO NEGRO, SANGUE ÍNDIO, CORPO DE MULHER
  1. – feições de indígenas e, com frequência, também de afro-americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres.
MEU PAI CARPINTEIRO DESEMPREGADO
MINHA MÃE É MARIA DAS DORES BRASIL
ENXUGO O SUOR DE QUEM DESCE E SOBE LADEIRA
  1. – feições de camponeses, que, como grupo social, vivem relegados em quase todo o nosso continente, sem terra, em situação de dependência interna e externa, submetidos a sistemas de comércio que os enganam e os exploram;
ME ENCONTRO NO AMOR QUE NÃO ENCONTRA FRONTEIRA
PROCURA POR MIM NAS FILEIRAS CONTRA A OPRESSÃO
  1. – feições de operários, com frequência mal remunerados, que têm dificuldade de se organizar e defender os próprios direitos;

OS PROFETAS DA INTOLERÂNCIA
SEM SABER QUE A ESPERANÇA
BRILHA MAIS QUE A ESCURIDÃO
FAVELA PEGA A VISÃO
NÃO TEM FUTURO SEM PARTILHA
NEM MESSIAS DE ARMA NA MÃO
  1. – feições de subempregados e desempregados, despedidos pelas duras exigências das crises econômicas e, muitas vezes, de modelos desenvolvimentistas que submetem os trabalhadores e suas famílias a frios cálculos econômicos;
MAS SERÁ QUE TODO POVO ENTENDEU O MEU RECADO?
PORQUE DE NOVO CRAVEJARAM O MEU CORPO
  1. – feições de marginalizados e amontoados das nossas cidades, sofrendo o duplo impacto da carência dos bens materiais e da ostentação da riqueza de outros setores sociais;
EU FAÇO NA MINHA GENTE
QUE É SEMENTE DO SEU CHÃO
DO CÉ DEU PRA OUVIR
O DESABAFO SINCOPADO DA CIDADE
  1. – feições de anciãos cada dia mais numerosos, frequentemente postos à margem da sociedade do progresso, que prescinde das pessoas que não produzem.
MEU NOME É JESUS DA GENTE
QUAREI TAMBOR, DA CRUZ FIZ RESPLENDOR
E NUM DOMINGO VERDE-E-ROSA
RESSURGI PRO CORDÃO DA LIBERDADE
ME ENCONTRO NO AMOR QUE NÃO ENCONTRA FRONTEIRA
  1. Compartilhamos com nosso povo de outras angústias que brotam da falta de respeito à sua dignidade de ser humano, imagem e semelhança do Criador e a seus direitos inalienáveis de filhos de Deus.”


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Do Gama Livre: