Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 16 de outubro de 2016

Mordaça! Pesquisadora do Ipea é exonerada após estudo sobre cortes na saúde pública

Domingo, 16 de outubro de 2016

Especialista afirmou que PEC 241 "afeta particularmente" as políticas sociais

Jornal do Brasil

Após divulgar um estudo que projeta cortes bilionários na saúde a partir da PEC do teto de gastos públicos, a coordenadora de estudos de saúde do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Fabíola Sulpino Vieira, foi chamada pelo presidente do instituto, Ernesto Lozardo, em seu gabinete e ouviu dele que o documento criou constrangimento ao governo, conforme relatou o colunista Bernardo Mello Franco, na Folha de S.Paulo deste domingo (16).

Sob pressão, Fabíola, que é doutora pela Universidade Federal de São Paulo, decidiu entregar o posto de chefia. Na conversa, ela ouviu de Lozardo que o Ipea divulgaria uma nota contestando o estudo do próprio órgão para endossar a versão do Palácio do Planalto sobre a Proposta de Emenda à Constituição 241. O colunista lembra que o caso de censura pública, com direito a exoneração, é "fato inédito nos 52 anos do instituto".





O presidente Michel Temer, durante cerimônia de nomeação de Ernesto Lozardo para o Ipea
O presidente Michel Temer, durante cerimônia de nomeação de Ernesto Lozardo para o Ipea
A especialista projetou, em documento assinado com Rodrigo Benevides, quatro cenários para a saúde no novo regime fiscal. No pior deles, a perda para a área chegaria a R$ 743 bilhões. Reconhecendo a dificuldade do governo, o documento apontava, no entanto, que o ajuste focado nas despesas primárias "afeta particularmente as políticas sociais".

O colunista da Folha lembra que Ernesto Lozardo é amigo de Michel Temer e foi nomeado presidente do Ipea há quatro meses e classificou o estudo de "irrealista" e "desconectado", acrescentando que suas conclusões são de "são de inteira responsabilidade dos autores" e "não representam a posição" do Ipea, omitindo, ressalta Bernardo Mello Franco, que o trabalho foi submetido previamente à direção do órgão.

"A censura do doutor Lozardo é preocupante porque sugere que o novo regime está disposto a barrar estudos que contrariem suas teses. Se a regra prevalecer no Ipea, pode se alastrar para o IBGE e as universidades federais. Em outros tempos, a tentativa de submeter órgãos técnicos à vontade política do governo era chamada de aparelhamento", afirma o colunista da Folha.

Em seu site, o Ipea informa que é uma fundação pública federal vinculada ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e que suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros.
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Do Gama Livre: Leia a íntegra da Nota Técnica "Os Impactos do Novo Regime Fiscal para o Financiamento do Sistema Único de Saúde e Para a Efetivação do Direito à Saúde no Brasil"