Domingo, 30 de outubro de 2016
Ivan Richard Esposito e Iolando Lourenço - Repórteres da Agência Brasil
Nas três principais capitais em que houve disputa em segundo
turno hoje (30), a soma das abstenções e dos votos brancos e nulos
superou o total de votos recebidos pelos prefeitos eleitos. Assim como
havia ocorrido no primeiro turno em São Paulo, quando o prefeito eleito,
João Dória (PSDB), teve menos votos (3.085.187) do que a soma dos
brancos, nulos e abstenções (3.096.304), agora, no segundo turno, isso
se repetiu no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
Em
Curitiba, a soma das abstenções, brancos e nulos ficou um pouco abaixo
do total de votos recebidos pelo prefeito eleito Rafael Greca (PMN).
Greca recebeu 461.736 votos e a soma dos votos nulos (117.920), brancos
(44.834) e abstenções (259.399) atingiu 422.153 votos.
No Rio de
Janeiro, por exemplo, não compareceram às urnas 1.314.950 eleitores,
149.866 votaram em branco e 569.536 anularam os votos. Ou seja,
2.034.352 optaram por não votar nem em Marcelo Crivella (PRB), que
venceu a disputa com 1.700.030 votos, nem em Marcelo Freixo, que
conquistou 1.163.662 votos.
Insatisfação
Para
o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), Geraldo Tadeu Moreira, o crescimento expressivo das abstenções e
dos votos brancos e nulos demonstra a insatisfação do eleitorado com a
classe política.
“Esse comportamento tem crescido nas últimas
duas eleições, 2014 e 2016. É um indicativo de que a insatisfação com o
sistema político ocorrida em 2013, com as manifestações de rua, não foi
tratada. Estamos com um sistema político com baixa representatividade.
As pessoas estão clamando por um conjunto de reformas. Isso fica
evidente no comportamento do eleitor”, disse Moreira.
No Rio de
Janeiro, especificamente, disse Moreira, o grande número de abstenções,
brancos e nulo pode ter ocorrido devido ao fato de Crivella e Freixo
representarem extremos opostos na política. “De um lado, o Freixo
representa a esquerda e Crivella é de centro-direita. Então, os
eleitores de centro, que representam um terço do eleitorado, não se
sentiu representado por esses candidatos”.
Belo Horizonte
Na
capital mineira, o empresário Alexandre Kalil (PHS) venceu a disputa
com 628.050 votos enquanto as abstenções (438.968), os votos brancos
(72.131) e os nulos (230.951) somaram 742.050 votos, uma diferença
superior a 100 mil votos.
Para a professora da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), cientista política e especialista em
comportamento eleitoral, Helcimara Telles, além do “desencantamento”, da
“descrença” e da “insatisfação” do eleitor com os partidos políticos, o
comportamento de candidatos como Kalil, que fizeram campanha com o lema
de que não eram políticos, também corroborou para o resultado das
urnas.
“Isso já aconteceu no primeiro turno. Não apenas em Belo
Horizonte, como em várias capitais. Me parece que isso é uma forte
crítica ao sistema político em geral. Não advém apenas de um
posicionamento ideológico de um eleitorado a ou b. Além disso, o
discurso de negação da política, antipartidário de candidatos outsider,
aumenta o desinteresse na política, o desencanto e acaba produzindo esse
afastamento”, diz Helcimara.
A especialista também atribui o
desinteresse do eleitorado à “espetacularização da corrupção” produzido,
segundo ela, pelos veículos de imprensa e parte do Ministério Público
Federal.
Porto Alegre
Em Porto Alegre, o
tucano Nelson Marchezan também elegeu-se com menos votos do que o
somatório daqueles que deixaram de votar ou preferiram votar em branco
ou anular o voto. Marchezan obteve 402.165 votos, enquanto a soma dos
votos brancos (46.537), nulos (109.693) e as abstenções (277.521) ficou
em 433.751.
Apesar do alto índice de abstenção, isso não é
considerado na apuração do resultado final do pleito. Para um candidato
ser eleito são computados os votos válidos, que não levam em conta os
votos brancos e nulos.
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PSDB conquistou 14 prefeituras no 2º turno; PT perdeu nas 7 cidades que disputou
Mariana Jungmann, Iolando Lourenço e Paulo Victor Chagas - Repórteres da Agência
O segundo turno das eleições municipais mostrou crescimento do PSDB e queda do PT na conquista de prefeituras.
O
desempenho petista no segundo turno confirmou a tendência de queda que
já havia sido apontada no primeiro turno. O partido não elegeu nenhum
dos sete candidatos com os quais disputou hoje (30). Na região do ABC,
onde nasceu o partido, nenhum dos dois candidatos conseguiram vitória.
No
Recife, única capital em que disputou a prefeitura no segundo turno, o
PT viu o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB) vencer João Paulo (PT) por
uma grande margem de votos, quase 200 mil. Já na gaúcha Santa Maria, a
disputa foi apertada: o petista Valdeci Oliveira perdeu para o tucano
Pozzobom por apenas 226 votos.
Candidatos petistas também disputaram em Mauá (SP), Anápolis (GO), Juiz de Fora (MG) e Vitória da Conquista (BA).
PSDB
Por
outro lado, o maior rival do Partido dos Trabalhadores, o PSDB
conseguiu eleger 14 das 19 prefeituras que disputou em segundo turno. Os
tucanos concorreram em oito capitais e venceram em cinco delas: Porto
Alegre (RS), Belém (PA), Maceió (AL), Porto Velho (RO) e Manaus (AM).
Além
disso, embora tenham sido derrotados em Belo Horizonte (MG), residência
eleitoral do presidente do partido, senador Aécio Neves, os tucanos
tiveram bom desempenho no ABC paulista. Em São Bernardo do Campo (SP),
cidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Orlando Morando
(PSDB) ganhou com 59% dos votos válidos.
Em Santo André, Paulo
Serra (PSDB) teve 78% dos votos, enquanto o petista Carlos Grana
alcançou apenas 21%. Os tucanos levaram ainda Ribeirão Preto, cidade do
ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, com Duarte Nogueira sendo
eleito por 56% dos votos válidos.
PMDB
Já
o PMDB, maior partido do país, elegeu prefeitos de três das seis
capitais que disputou: Goiânia (GO), com Iris Rezende sendo eleito
prefeito pela quarta vez; Florianópolis (SC), com Gean Loureiro; e
Cuiabá (MT), com Emanuel Pinheiro.
No total, o partido levou oito
das 15 cidades que disputou no segundo turno. Em Macapá (AP),
residência eleitoral do ex-presidente da República e uma das principais
lideranças peemedebistas, José Sarney, o partido perdeu a disputa da
prefeitura para a Rede.
Comparação com 2012
Em
2012, quando a ex-presidenta Dilma Rousseff ainda governava, o
desempenho do PT nas eleições municipais foi muito superior ao de agora.
O partido tinha eleito, naquele ano, 630 prefeitos em primeiro tuno, e
levou 21 para o segundo turno. Desses, oito foram eleitos.
Mantendo a tendência de crescimento já apresentada no primeiro turno desta
eleição, o PSDB continuou em trajetória ascendente neste segundo turno
em relação a 2012. Nas últimas eleições, o partido elegeu 686 prefeitos
em primeiro turno e enviou 17 para o segundo turno, tendo eleito oito
prefeitos na segunda fase. Este ano, foram eleitos 14 dos 19 candidatos
tucanos que disputaram o segundo turno.
Nas eleições municipais
passadas (2012), o PMDB elegeu 1.015 em primeiro turno e disputou com 16
candidatos o segundo turno, elegendo mais seis. Agora, o partido
disputou o segundo turno com 15 candidatos e conquistou oito
prefeituras.