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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Relatório alertava governo de SP sobre tortura em manicômio que teve motim e fuga

Quarta, 19 de outubro de 2016
Da Ponte
Por

Análise do Mecanismo Combate à Tortura apontou “indícios de tortura, bem como de tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes” em Hospital Penitenciário de Franco da Rocha, que teve motim e fuga de 55 internos

 


Há exatamente um ano, uma equipe do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) analisou o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Franco da Rocha, o antigo Manicômio Judiciário da Grande São Paulo, que teve motim e fuga de 55 internos na tarde da última segunda-feira (17). Até a divulgação desta reportagem, 51 haviam sido encontrados e internados novamente. Desde o ano passado, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) tem ciência de que foi relatado indícios de tortura, bem como de tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes” no local, recebendo diversas recomendações para melhora do ambiente.

A visita teve caráter sigiloso, de modo que nem a direção, nem as pessoas privadas de liberdade sabiam que membros do MNPCT iriam ao local. A equipe foi recebida pelo diretor da unidade, Luiz Henrique Negrão, que não colocou nenhum obstáculo no trabalho do mecanismo.

O relatório aponta que a unidade foi escolhida para ser analisada “pelo histórico de denúncias de agressões e maus-tratos acumulado”, além da “importância de ser abordada a problemática da aplicação de medidas de segurança, especialmente nos chamados manicômios judiciários”.


Durante a visita, os internos permaneciam nos pátios das colônias conversando, limpando os quartos, organizando seus pertences, lavando louça ou roupa, entre outras atividades. Para os membros do MNPCT, isso revelou, de cara, “uma rotina sem atividades terapêuticas coletivas, de lazer e voltadas para o meio externo à instituição. O aspecto asilar e mortificador do espaço físico atinge os pacientes, cronificando-as(os) pela ausência de perspectiva de tratamento e de desinstitucionalização“.


Segundo os registros da unidade, os trabalhos desenvolvidos pelos setores de psicologia e assistência social da instituição não se articulam com serviços da rede pública existentes e nem apontam para a construção de um projeto terapêutico vinculado aos interesses dos pacientes em relação à sua vida depois da internação. “O acompanhamento técnico é notavelmente insuficiente diante das necessidades das pessoas internadas. Os profissionais de saúde concentravam-se, sobretudo, nas “clínicas”, mesmo local onde anteriormente se localizavam as “salas de isolamento”, conforme informado pela direção”, relata a análise.