Domingo, 9 de outubro de 2011
Agnelo Queiroz (PT) está no fogo cruzado de doleiros, agentes e PMs que exigem cargos de confiança em seu governo
Há dez meses no cargo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz
(PT), está sob o fogo cruzado de uma briga entre facções de policiais e
ex-policiais envolvidos na disputa por nacos de poder e dinheiro
público. Na crônica ainda não escrita dessa guerra suja constam
denúncias de grampos clandestinos, informações plantadas em blogs de
aluguel e chantagens. O caso também pode trazer de volta denúncias de
caixa dois e supostas fraudes no programa Segundo Tempo, do Ministério
do Esporte, no período em que Agnelo era o ministro.
A presença de policiais em postos-chaves do governo do DF tem sido uma rotina. Há mais de cem policiais em escritórios do governo. O secretário de Justiça e o subsecretário de Transportes são policiais civis. E o Distrito Federal é das unidades da federação com os mais altos índices de homicídios do país.
A disputa, que estava restrita aos bastidores do governo do DF, transbordou por conta da briga entre policiais e provocou duas investigações: uma na Polícia Civil e outra no Ministério Público. O objeto formal da investigação, por enquanto, é o roubo de imagens do circuito interno da padaria onde os policiais discutiram, em 18 de agosto. O agente Cláudio Nogueira sacou a arma para o cabo da PM João Dias Ferreira. Fez isso para evitar a prisão do doleiro Fayed Traboulsy e do agente aposentado Marcelo Toledo. Os dois cobravam do então presidente da Codeplan, delegado Miguel Lucena, um dos principais auxiliares de Agnelo, indicação de diretores para a corretora BRB Seguros, do Banco Regional de Brasília, e para a DFTrans, companhia de transporte do DF.
Toledo e Fayed teriam doado R$ 500 mil para a campanha de Agnelo e, como contrapartida, exigiam cargos de duas das áreas mais cobiçadas do governo do DF. Os R$ 500 mil teriam sido repassados a Rafael Barbosa, um dos arrecadadores de campanha de Agnelo e atual secretário de Saúde. A doação não consta na prestação de contas de Agnelo à Justiça Eleitoral.
Toledo é também um dos principais investigados na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. Ele é apontado como um dos envolvidos na partilha do chamado mensalão do DEM, na gestão do ex-governador José Roberto Arruda. Na filmoteca de Durval Barbosa, pivô do escândalo, constam três vídeos em que o policial aparece recebendo propina.
Dias tentou registrar queixa na 3ªDP. Dizia que o governador Agnelo
estava sendo chantageado por Toledo e Fayed. O delegado Onofre Moraes
não quis registrar a queixa, mas, a partir da reclamação da síndica do
prédio da padaria, abriu inquérito para apurar o roubo de um HD de
computador com as imagens da confusão.
Dias foi preso ano passado na Operação Shaolin, que investigou desvios
de dinheiro do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. Ele é
acusado de desviar quase R$ 3 milhões destinados ao incentivo ao esporte
infantil. Mesmo depois de denunciado pelo Ministério Público Federal,
Dias também cobrava de Agnelo a indicação de diretores da BRB Seguros,
os mesmos cargos cobiçados pelo doleiro Fayed e pelo policial aposentado
Toledo. O Ministério Público deverá chamar Dias e outros envolvidos
para depor.
Escândalo causa demissão, sob suspeita, Miguel Lucena deixa Codeplan
O delegado Miguel Lucena, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), foi chefe de Segurança e Inteligência da campanha do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Ele diz que nada teve a ver com arrecadação de dinheiro de campanha ou nomeações políticas. No dia 14 de setembro, quando a briga na padaria foi divulgada, Lucena entregou carta de demissão ao governador. Sua saída do governo só foi oficializada esta semana.
Escândalo causa demissão, sob suspeita, Miguel Lucena deixa Codeplan
O delegado Miguel Lucena, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), foi chefe de Segurança e Inteligência da campanha do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Ele diz que nada teve a ver com arrecadação de dinheiro de campanha ou nomeações políticas. No dia 14 de setembro, quando a briga na padaria foi divulgada, Lucena entregou carta de demissão ao governador. Sua saída do governo só foi oficializada esta semana.
As explicações para a presença de Lucena na cena da briga tornam o caso ainda mais delicado. Ele foi à padaria a pedido de Rafael Barbosa, para acalmar o cabo João Dias, que estava irritado com a demissão de Manoel Tavares, seu afilhado político, da BRB Seguros, empresa do Governo do DF.
O cabo passou quatro dias preso, no ano passado, por supostas fraudes com ONGs no Ministério do Esporte. Lucena não quer mais participar do governo Agnelo e tenta voltar à polícia. Ele reclama ter sido vítima de uma conspiração comandada por Cláudio Monteiro. Também delegado, Monteiro é chefe de gabinete de Agnelo. No xadrez político-policial montado em Brasília, Monteiro é próximo do agente Toledo.
Esta não é a primeira vez que se fala em denúncias de caixa dois na campanha de Agnelo. No início do ano, o empresário José Seabra, dono do “Jornal da Quadra”, disse que fez campanha para Agnelo com dinheiro de caixa dois. Disse que recebia o dinheiro de Lucena. O GLOBO enviou perguntas sobre o caso ao governador. Agnelo não quis responder. Segundo a Secretaria de Comunicação, Agnelo “desconhece o episódio”
Por Jailton de Carvalho, jailtonc@bsb.oglobo.com.br
Fonte: Jornal O Globo / Blog do Sombra