Sábado, 11 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

O relacionamento entre a
presidente Dilma Rousseff e seu ministério faz lembrar Urubulino, pois está
como o céu de Salvador nesses dias de chuva – mais pra urubu do que pra
colibri.
O ministro do Trabalho e
Emprego, Carlos Lupi, presidente nacional licenciado do PDT, atrapalhado com
denúncias de corrupção em sua pasta, declara que só sai do cargo “abatido à
bala” e avisa que tem de ser “bala forte, porque sou pesadão”. Esquece que o
pesado cai mais depressa que o leve (assim o determina a Lei da Gravidade) e
que as palavras podem ter força maior que a de balas, principalmente contra quem
as diz, se são mal usadas ou simplesmente bobagens.
Aí a presidente da
República chama a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e manda-a enquadrar o
trabalhoso ministro. Gleisi cumpre a missão com uma maestria nunca antes vista
neste governo. A tal ponto que Lupi abandona as idéias de batalha e as teorias
balísticas.
Rapidamente, o ministro
Lupi descarta o seu lado urubulino e assume seu lado colibri. Faz uma
declaração pública de amor à presidente. Contou que foi pedir desculpas à
presidente e completou: “Presidente Dilma, desculpe se fui agressivo, não foi
minha intenção: eu te amo”.
Parece que a presidente não se comoveu com a
declaração de amor e até deixou claro que não está disponível para cantadas de
seu auxiliar pesadão. Quem gosta de peso é guindaste. Questionada pelos
jornalistas, disparou: “Vocês acreditam mesmo que eu
vou responder nessa altura do campeonato? Me desculpa”. O “me desculpa”, por
não responder, foi para o jornalista, não para o ministro.
O jornalista certamente
a desculpou, afinal ninguém deve ser obrigado a responder a todas as perguntas
que lhe façam, mas estas duas respostas a presidente ficou devendo à nação. Primeira:
que campeonato? Segunda: afinal, a questão é de interesse público, o ministro
fizera o que pareceu um desafio, depois pediu desculpas e fez uma declaração de
amor e o país lamenta não ter obtido a réplica formal da presidente nessa
novela de Tapas e Beijos – estes últimos, pelo visto, unilaterais.
Mas a unilateralidade
foi exatamente o que não prevaleceu na festa do 53º aniversário do governador
do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. Na comemoração, na Churrascaria
Pampas, compareceu para um amoroso e correspondido abraço o líder petista José
Dirceu, que já está plenamente reabilitado após o temporário expurgo provocado
pelo escândalo do Mensalão.
O governador Agnelo
Queiroz, embora esteja enroladíssimo com denúncias que o atingem diretamente, depois
do abraço consagrador de Dirceu na quarta-feira, teve ontem mais um dia feliz. A
Câmara Legislativa do Distrito Federal, por decisão de seu presidente, arquivou
os cinco pedidos de impeachment que haviam sido protocolados na véspera. Um
pelo PSDB do DF, outro pelo DEM do DF, ambos sob alegação de que só pessoas
físicas podiam pedir o impeachment. O presidente do PSDB do DF, que fez seu
próprio pedido como pessoa física, teve-o arquivado por não haver juntado cópia
do título de eleitor, como manda a lei. O presidente do DEM juntou cópia do seu
título de eleitor, mas seu pedido de impeachment feito como pessoa física foi
arquivado sob a alegação de que não apresentava “fatos novos” e porque a
investigação deveria ser feita em “outras instâncias, como na Justiça, como
está acontecendo”, o que é muito cínico e não tem fundamento. Um advogado que
também entrou com pedido de impeachment não teve melhor sorte.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.