Terça, 8 de novembro de 2011
Celina Leão entrega nesta terça-feira ao Ministério Público e à PF áudio que fez com Daniel Tavares, que diz ter pago propina ao governador do Distrito Federal
Vannildo Mendes, de O Estado de S.Paulo
A presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara Distrital de Brasília, deputada Celina Leão (PSD),
entrega nesta terça-feira, 8, ao Ministério Público e à Polícia Federal o
áudio da gravação que fez com o lobista Daniel Almeida Tavares. O
lobista diz ter pago propina ao governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT), em 2008, quando ele era diretor da Agência de Vigilância
Sanitária (Anvisa).
Beto Barata/AE - 07/10/2011
Agnelo diz se recordar de depósito, mas alega que foi a devolução de empréstimo
Os pagamentos, segundo Tavares, foram feitos quase sempre em espécie e
pelo menos um lote de R$ 45 mil teria sido entregue na própria
residência do governador, no subsolo, ao lado da biblioteca. O dinheiro
seria parte de um suborno de R$ 50 mil para obtenção de licenças para o
laboratório da União Química. Os restantes, R$ 5 mil, teriam sido pagos
mediante transferência eletrônica, feita em 25 de janeiro de 2008, da
conta corrente do lobista para a do governador.
Ouvido pelo Estado, o governador admitiu que
conhecia Tavares e respondeu, por e-mail que se recorda do depósito. Mas
alega que "foi a devolução de uma quantia concedida em empréstimo à
referida pessoa (Tavares), realizada de forma transparente". O
governador informou que o empréstimo foi feito em espécie. "Não houve
‘pagamentos feitos’ e o depósito é referente à devolução do valor
emprestado em caráter pessoal, portanto, sem documento ou contrato",
explicou Agnelo.
Ele disse que conhecia Tavares em decorrência de uma amizade, de mais
de 20 anos, com o empresário Fernando de Castro Marques, da União
Química. "Uma amizade que vem desde a época em que Agnelo Queiroz era
deputado federal", acrescentou, explicando que eles se aproximaram "na
campanha em defesa da indústria farmacêutica nacional".
Tavares deveria depor na segunda-feira, 7, mas alegou indisposição e
adiou a ida à comissão. Na conversa gravada pela deputada, ele deu
detalhes dos pagamentos feitos ao governador, "quase sempre em dinheiro
vivo", como disse. Anexou também cópia do único depósito em conta
corrente, no valor de R$ 5 mil, feito em janeiro de 2008, por
transferência eletrônica no Banco Santander.
‘Homem da mala’. Na época Tavares era lobista da
União Química, que dependia do aval de Agnelo para obter licenciamentos
de produtos na Anvisa. Espécie de "homem da mala", ele explicou que lhe
cabia intermediar as negociações com dirigentes corruptos do órgão para
conseguir o documento.
Segundo relato à deputada, R$ 200 mil e 300 mil teriam sido entregues
a Agnelo, parte em espécie e parte em veículos, "uma forma de disfarçar
a propina", explicou o homem da mala no depoimento. Como R$ 5 mil de um
lote estavam atrasados, disse que estava em Goiânia quando recebeu um
telefonema de Agnelo, que lhe pediu para mandar o dinheiro "o mais
rápido possível".