Terça, 8 de novembro de 2011
Por
Ivan de Carvalho

1. “Eu sou indestrutível”, afirmou há alguns
dias o então ministro do Esporte, Orlando Silva, na época, representante do PC
do B no ministério. Peça herdada do governo Lula pelo governo Dilma Rousseff.
Sendo do PC do B, portanto, marxista-leninista, claro que ele não poderia estar
se referindo à sua qualidade de ser espiritual que sobrevive à morte do corpo e
permanece vivo, atravessando as eternidades, embora o fato de ele não acreditar
nessas coisas não as anula nem abala minimamente. Essas coisas estão se lixando
para o que ele pensa.
Mas Orlando Silva estava voando muito mais baixo,
apenas declarando que era “indestrutível” como ministro do Esporte, isto é, que
não ia sair nem ser retirado do cargo em conseqüência do fogo cerrado das
denúncias, que partiam de pessoas ligadas ao partido, das investigações
próprias da mídia e do chefe do Ministério Público da União. Ora, no domingo
baiano, no Hotel Fiesta, na Pituba, Orlando Silva foi alvo de um desagravo do
PC do B, até com reforço do governador do Estado, justamente por causa da
constatação de que ele não comprovara sua indestrutibilidade como ministro, que
já não é.
2. “Eu sou osso duro de roer”, disse, mais
modesto, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, presidente nacional licenciado
do PDT, mas o homem que controla, de fato, o partido fundado por Leonel
Brizola. Digo que ele foi mais modesto que o comunista Orlando Silva porque
está combinado que “indestrutível” tem significado absoluto (não importa se a indestrutibilidade
do ex-ministro era putativa), enquanto “osso duro de roer” tem significado
relativo. Depende de quão duro é realmente o osso e dos dentes dos roedores,
bem como das substâncias corrosivas que eles têm na saliva, ou, se preferirem,
nas denúncias que estão sitiando o Ministério do Trabalho e Emprego.
3. Até “roedor amigo”, se, neste contexto, posso
chamá-lo assim, já apareceu. O deputado Miro Teixeira, do PDT do Rio de Janeiro
e um dos mais experientes e competentes integrantes da Câmara federal, resolveu
pedir ao procurador geral da República, Roberto Gurgel, investigações oficiais
no Ministério do Trabalho. Ele não colocou diretamente o ministro (sem
trocadilho) na mira, mas não o excluiu.
O deputado Miro quer é que o chefe do MP peça ao
Supremo Tribunal Federal que determine à Polícia Federal abertura de um
inquérito para investigar convênios do ministério que estão sob suspeita. Uma
investigação determinada pelo STF tem competência para investigar inclusive o
ministro. Miro explica de forma impecável: “Não sei se é ruim ou bom para o
ministro, sei que é necessário. O PDT é um partido com muita história e todos
estão perplexos com isso tudo que está acontecendo”. Outros parlamentares do
PDT também assinarão o pedido ao procurador geral. Pedido idêntico foi feito
ontem a Roberto Gurgel pelo PPS, partido de oposição. O ministro Lupi já pediu
à PF que investigue. Mas não é a mesma coisa que o STF determinar. “Uma coisa é
uma coisa e outra coisa é outra coisa”, ensinou José Genoíno.
4. Antes que tenha desfecho esse pedido ao
procurador geral, cumpre assinalar que a Controladoria Geral da União,
comandada pelo ministro Jorge Hagge, que é uma pessoa honrada e competente, já
verificara que contratos, convênios, essas coisas, no Ministério do Trabalho e
emprego, não estavam sendo analisados devidamente. Traduzindo: a coisa corria
frouxa e isso sempre tem causas e consequências. Umas e outras, ruins. O
Tribunal de Contas da União identificou “situação crítica” em convênios
assinados pelo Ministério do Trabalho com entidades públicas e privadas. Ontem,
a Comissão de Ética Pública da Presidência deu prazo de dez dias para o
ministro Lupi se explicar e a presidente da República, já botando a cabeleira
de molho, chamou o ministro ontem para conversar.
Brocotó – como dizia Urubulino, aquele tétrico personagem
de Chico Anísio.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.