Terça, 18 de setembro de 2012
Por
Ivan de Carvalho

A
repercussão nacional da reportagem foi instantânea e não poderia ser diferente.
Dois fatos tornam a reportagem ainda mais crítica do que seria normalmente – a
proximidade das eleições de 7 de outubro e o julgamento, em curso, do escândalo
do Mensalão (Ação Penal 470) pelo STF. São certamente esses fatos duas das
principais razões pelas quais a mídia nacional e até mesmo os partidos de
oposição estão tratando com cautela máxima e notória discrição a
reportagem-denúncia de Veja. Outras
razões talvez existam. Pelo que contém a reportagem é intuitivo que sim.
A
reportagem recebeu três desmentidos importantes até a noite de ontem. Um,
esquisito, do advogado de Marcos Valério. Primeiro, disse que não desmentiria
nem confirmaria a reportagem, porque “não houve entrevista” de Valério. Depois,
disse que conversou com Valério e este desmentiu tudo, incluindo o conteúdo da
reportagem. Diante disso, a Veja e a
credibilidade de sua reportagem – que seria seguida por algumas outras matérias
aprofundando o mesmo tema – ficam numa posição incômoda.
No
domingo, o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog abrigado no site de Veja, insistiu com os “petralhas” para
que cobrassem da revista a divulgação da “fita”, isto é, de gravações que
comprovassem a reportagem. Dava a entender claramente que os “petralhas”, ao
contrário de seu comportamento em outras ocasiões, estavam “quietinhos”, não
estavam pedindo a fita, por temerem que ela fosse mesmo apresentada, por
saberem que existia. Mas, no twitter, algumas pessoas ligadas ao PT e, em maior
número, pessoas independentes, começaram a pedir a divulgação da fita.
Ontem,
os rumores e algumas notícias apontavam para a existência da fita. E para um
impasse na Veja: a fita seria, na
realidade, uma entrevista de Marcos Valério, que no entanto a teria concedido
sob a condição de que o que nela disse fosse divulgado como revelações colhidas
junto a parentes, amigos e associados dele. A negativa do conteúdo da
reportagem em nome de Valério, por seu advogado, teria rompido o trato,
tornando legítima a divulgação da fita, como prova das revelações de Valério
contidas na reportagem. Mas da sucursal de Brasília, que fizera a reportagem,
teria surgido uma objeção à divulgação da fita. O assunto ainda estaria para
ser resolvido.
Os
dois outros desmentidos a que me referi: em São Paulo, o governador Jaques
Wagner declarou: “Até onde eu sei, Lula nunca esteve com Marcos Valério”. Paulo
Okamoto, um muito conhecido amigo de Lula e que, segundo parte do noticiário,
seria o responsável por acalmar e ajudar Marcos Valério nas crises emocionais e
necessidades materiais, disse que somente soube da existência de Valério depois
que estourou o caso do Mensalão. Mas, neste caso, e daí?
O
PSDB preparou minuta de um pedido ao Ministério Público para instaurar uma
investigação a partir da denúncia de Veja,
mas discute o assunto hoje com o Democratas e o PPS para chegar a uma decisão.
E o procurador geral da República, Roberto Gurgel, indicou que o Ministério
Público Federal deve examinar o caso, mas somente após o julgamento do
Mensalão, para não tumultuar o julgamento.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.