Quinta, 13 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho
O reverendo José Funes,
astrônomo mais graduado do Vaticano, garantiu na terça-feira que o mundo não
vai acabar no dia 21 deste mês, apesar das supostas previsões maias às quais
muitos vêm dando interpretação parecida, mas não exatamente a que lhes atribui
o reverendo.
O
que muitos vêm tentando inferir das supostas previsões representadas pelo
calendário maia e de muitas outras, digamos, também supostas fontes de
informação é que o planeta Terra e quase certamente não somente ele, mas todo o
sistema solar entrarão muito em breve em um profundo processo de mudança, que
levaria alguns anos.
No
artigo que escreveu para o jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano (e
do qual o blog Bahia em Pauta, com
muita sensibilidade jornalística, deu notícia na Bahia), o astrônomo reverendo
José Funes afirma que “não vale a pena nem discutir os fundamentos científicos
dessas afirmações (obviamente falsas)” que estão sendo divulgadas na Internet.
Ele escolheu para seu artigo o título “O Apocalipse que não virá (pelo menos
por enquanto)”.
O
que dá pena mesmo é a aparente ignorância dele sobre o que vem se dizendo que
acontecerá. Então ele afirma que está sendo prevista uma determinada coisa que,
em verdade, não está, e em seguida lança-se, com argumento científicamente tão
pobre que dá pena, a provar que não vai acontecer o que somente ele diz que
dizem que vai acontecer – o fim do mundo, repentino, em 21 de dezembro.
Vejam
o argumento dele. Funes diz que o
universo está em expansão e que, se os modelos são corretos (e se não forem,
hein?), em um ponto o universo sofrerá uma ruptura, mas isso poderá acontecer
bilhões de anos no futuro. Aí, creio que ele sugere, seria o fim do mundo.
Claro, toda a zoeira que está aí na
Internet e alguns outros lugares não trata do fim do Universo, nem sequer do
fim do planeta Terra, mas basicamente de uma “grande tribulação” – expressão
usada no “discurso profético de Jesus”. Esta grande tribulação é um processo,
com várias catástrofes de múltipla natureza, que destrói a civilização e causa
enormes mudanças na geografia, mas sobrevivem um planeta e um terço da
humanidade.
Jesus não diz quando essas coisas vão acontecer. Apenas Jesus diz que no
fim dos tempos “muitos profetizarão” e cita “sinais”, que descreve e que
permitem prever quando o “fim dos tempos” – não do mundo – estará próximo. No
livro do Apocalipse, o último da Bíblia, Revelação de Jesus a João, aquelas
profecias de Jesus são detalhadas e outras são acrescentadas, inclusive a de
que dois terços da humanidade morrerão. Mas também não se explicita precisamente
o tempo em que ocorrerá o processo.
A tentativa de reverendo astrônomo
refutar uma profecia que, aparentemente, existe somente em sua cabeça e de mais
alguns desinformados – o fim do mundo. Como pode ser tão desinformado das
coisas que estão na Bíblia, de coisas que Jesus se deu ao cuidado de anunciar
com alguma riqueza de detalhes, de coisas esparsas no Antigo Testamento e
detalhadamente concentradas no Apocalipse, o livro da Revelação?
Se o Universo vai se expandido e em
algum ponto haverá uma ruptura é uma coisa. Se acontecem no tempo determinado
mudanças na Terra sob a influência das terceira e talvez quarta guerras
mundiais e porque “as potestades do céu serão abaladas” – um abalo nas forças
celestes, por algum motivo quase certamente astronômico (é o que tantos dizem
na Internet) –, isso nada tem a ver com a ruptura universal do reverendo José
Funes.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.