Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O novo alvo

Segunda, 10 de dezembro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Com o difícil plano de viabilizar uma candidatura competitiva à presidência da República, o senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB – depois de ter seu nome lançado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – participou de uma reunião com 30 deputados tucanos, segundo informa o jornalista Ilimar Franco, em O Globo.

           O tema central, levantado por Aécio Neves, foi a mudança de foco da oposição. Esta não deverá ter como alvo principal o ex-presidente Lula, como vem acontecendo até aqui, mas a presidente Dilma Rousseff, que aparentemente tem tudo para firmar-se como candidata à reeleição.

            Na verdade, a oposição nem está batendo muito no ex-presidente Lula. Ele é que está apanhando, na medida em que colhe o que plantou. Teve de suportar o insuportável julgamento do processo do Mensalão, como uma espécie de réu oculto, que não receberia sentença nem pena, mas politicamente penava durante todo o tempo, pendurado apenas naquelas suas duas explicações espantosas e naquela inacreditável e não cumprida promessa.

As explicações de que não sabia de nada e a de foi traído, pelo que pedia desculpas, mas sem apontar jamais sequer um dos traidores. E a promessa – incoerente com a afirmação de que foi traído e a confissão de que o governo errara – de que iria desmascarar a “farsa do Mensalão”. No fim, o que ficou comprovado e assentado foi que era uma verdadeira farsa a pretensa farsa de que o Mensalão não existiu.

Mas Aécio Neves quer deixar Lula prá lá. Talvez, na conjuntura atual, tenha razão. O processo do Mensalão, em fase de finalização do STF e que tanto atingiu, politicamente, o ex-presidente, deve produzir alguns filhotes em primeira instância e continuar provocando dores de cabeça política por uns tempos.

Como para contrariar o ditado popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, dois acabam de cair sobre a mesma cabeça. Afinal, outra não é a constatação que se faz ante a multifacetada Operação Porto Seguro. E bota multifacetada nisso. Multifacetada, mas fácil de explicar e de entender, portanto capaz de chamar a atenção e repercutir em todos os estratos sociais.

O caso Rosemary, perdão, a Operação Porto Seguro, como as terríveis telenovelas – planejadas para as mentes menos cultas (embora eles digam que visam ao chamado público médio, o que é uma falta de respeito ao público médio), são inteligíveis por todas as mentes. Pois a descoberta da quadrilha que tinha em Rosemary sua musa (longe de rivalizar com Andressa, a musa da quadrilha de Cachoeira, mas cada quadrilha tem a musa que pode) atropelou o ex-presidente e sua eventual candidatura em 2014. Ela, a candidatura Lula, que já estava toda escalavrada pelo atropelo anterior, a do julgamento do Mensalão, sofreu agora graves traumatismos.

Ante esses fatos, no momento parece – e esse é o parecer de Aécio Neves – que a oposição deve deixar o ex-presidente em segundo plano (não se trata exatamente de esquecê-lo) e fazer mira no alvo principal, que é agora a presidente Dilma Rousseff, no cargo e no comando de uma máquina poderosíssima, potencializada com a bendita (sem ironia nenhuma) Bolsa Família, uma presidente muito bem avaliada pelo eleitorado segundo as pesquisas conhecidas, com fama de combatente contra a corrupção, ainda que pareça não saber de nada, de modo que demite as pessoas que fazem “malfeitos” – porque esse apelido para coisas que o Código Penal denomina de corrupção, peculato, formação de quadrilha e tal – somente depois que malfeitos se tornam públicos, denunciados pela mídia ou descobertos pela polícia e Ministério Público.

Bem, se o PSDB, o DEM, o PPS e mais uns “independentes” seguirem o rumo apontado por Aécio, a presidente vai ter dias menos plácidos que até aqui.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.