Segunda, 10 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

O
tema central, levantado por Aécio Neves, foi a mudança de foco da oposição.
Esta não deverá ter como alvo principal o ex-presidente Lula, como vem
acontecendo até aqui, mas a presidente Dilma Rousseff, que aparentemente tem
tudo para firmar-se como candidata à reeleição.
Na
verdade, a oposição nem está batendo muito no ex-presidente Lula. Ele é que
está apanhando, na medida em que colhe o que plantou. Teve de suportar o
insuportável julgamento do processo do Mensalão, como uma espécie de réu oculto,
que não receberia sentença nem pena, mas politicamente penava durante todo o
tempo, pendurado apenas naquelas suas duas explicações espantosas e naquela
inacreditável e não cumprida promessa.
As explicações de que não
sabia de nada e a de foi traído, pelo que pedia desculpas, mas sem apontar
jamais sequer um dos traidores. E a promessa – incoerente com a afirmação de
que foi traído e a confissão de que o governo errara – de que iria desmascarar
a “farsa do Mensalão”. No fim, o que ficou comprovado e assentado foi que era
uma verdadeira farsa a pretensa farsa de que o Mensalão não existiu.
Mas Aécio Neves quer deixar
Lula prá lá. Talvez, na conjuntura atual, tenha razão. O processo do Mensalão,
em fase de finalização do STF e que tanto atingiu, politicamente, o
ex-presidente, deve produzir alguns filhotes em primeira instância e continuar
provocando dores de cabeça política por uns tempos.
Como para contrariar o ditado
popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, dois acabam de cair
sobre a mesma cabeça. Afinal, outra não é a constatação que se faz ante a
multifacetada Operação Porto Seguro. E bota multifacetada nisso. Multifacetada,
mas fácil de explicar e de entender, portanto capaz de chamar a atenção e
repercutir em todos os estratos sociais.
O caso Rosemary, perdão, a
Operação Porto Seguro, como as terríveis telenovelas – planejadas para as
mentes menos cultas (embora eles digam que visam ao chamado público médio, o
que é uma falta de respeito ao público médio), são inteligíveis por todas as
mentes. Pois a descoberta da quadrilha que tinha em Rosemary sua musa (longe de
rivalizar com Andressa, a musa da quadrilha de Cachoeira, mas cada quadrilha
tem a musa que pode) atropelou o ex-presidente e sua eventual candidatura em
2014. Ela, a candidatura Lula, que já estava toda escalavrada pelo atropelo anterior,
a do julgamento do Mensalão, sofreu agora graves traumatismos.
Ante esses fatos, no momento
parece – e esse é o parecer de Aécio Neves – que a oposição deve deixar o
ex-presidente em segundo plano (não se trata exatamente de esquecê-lo) e fazer
mira no alvo principal, que é agora a presidente Dilma Rousseff, no cargo e no
comando de uma máquina poderosíssima, potencializada com a bendita (sem ironia
nenhuma) Bolsa Família, uma presidente muito bem avaliada pelo eleitorado
segundo as pesquisas conhecidas, com fama de combatente contra a corrupção,
ainda que pareça não saber de nada, de modo que demite as pessoas que fazem
“malfeitos” – porque esse apelido para coisas que o Código Penal denomina de
corrupção, peculato, formação de quadrilha e tal – somente depois que malfeitos
se tornam públicos, denunciados pela mídia ou descobertos pela polícia e
Ministério Público.
Bem, se o PSDB, o DEM, o PPS e
mais uns “independentes” seguirem o rumo apontado por Aécio, a presidente vai
ter dias menos plácidos que até aqui.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.