Quarta,
13 de fevereiro de 2013
Por
Ivan de Carvalho

Mas, além da
saúde debilitada, outros fatores podem ter influído. A Igreja está em crise.
Perde rapidamente adeptos para os neopentecostais na América Latina, onde está
atualmente o maior número de católicos do mundo. Na Europa, o ateísmo ganha
terreno, enquanto uma grande parte dos católicos não comparece às missas de
domingo. Em vários países, manifestam-se e crescem perseguições e hostilidades
aos cristãos, incluindo católicos.
Bento XVI manteve
com extrema firmeza as posições da Igreja de condenação ao aborto, à eutanásia,
ao homossexualismo – ainda que combatendo também a discriminação contra os
homossexuais – e ao controle da natalidade por meios não naturais. A
interpretação óbvia é a de que não sacrificaria coisas afirmadas na Bíblia ou
inerentes à doutrina em troca de ampliações ou redução de perdas no rebanho. O
rebanho é que deve moldar-se à fé e não ao contrário.
Mas,
ironicamente, seu pontificado esteve marcado por situações extremamente
desgastantes. Ele, que já sugerira a João Paulo II centralizar na Santa Sé as
investigações da pedofilia dentro da Igreja, ao tornar-se papa revelou-se duro
no combate a essa horrível prática, mas isto não excluía o escândalo que a
questão provoca, embora ela seja uma bomba de efeito retardado, que já
encontrou ativada ao assumir o pontificado.
Também ocorreram
acusações relacionadas com questões financeiras no banco do Vaticano. As coisas
se complicaram mais ainda quando, em maio passado, Paolo Gabriele, mordomo do
papa, foi preso sob a acusação de furtar sistematicamente centenas de
documentos – incluindo muitas cartas de Bento XVI a autoridades da Igreja – e
vazá-los para a imprensa. Condenado a 18 meses de prisão por um tribunal do
Vaticano, recebeu o perdão do papa.
Todo esse quadro
extremamente difícil até aqui descrito pode estar produzindo dissensões e é
possível que Bento XVI tenha resolvido renunciar – e isto é apenas uma hipótese
– inclusive porque isto lhe dá alguma condição de influir na sua sucessão,
coisa que não poderia fazer se o posto só vagasse com a sua morte.
Um pouco de
escatologia. Há, na Itália, um conhecido estigmatizado que já esteve no Brasil,
na década de 90, e fez uma palestra no Centro de Convenções da Bahia. Há tempo
ele sustenta que a Igreja, no período do final dos tempos – cujo processo
considera já em curso – perderá seu poder temporal, enquanto crescerá “a Igreja
espiritual”.
Mais: São
Malaquias tem uma profecia (contestada por alguns, como toda profecia) na qual
relaciona uma frase a cada um dos 112 papas a partir de Celestino II. Bento XVI
seria o penúltimo papa. O último, “Petrus Romanus”, ganhou, na profecia, a
seguinte anotação traduzida do latim: “Na derradeira perseguição à S.R.E.
sagrada (ou santa) igreja romana, estará sentado (na cadeira de Pedro) Petrus
Romanus, que apascentará suas ovelhas entre muitas tribulações, quando a cidade
das sete colinas (Roma) será destruída e o Juiz tremendo julgará o seu povo.
Fim.”
Vale conferir se o
futuro papa escolherá o nome de Pedro.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.