Domingo, 17 de fevereiro de 2013
Gilberto CostaCorrespondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – O governo de Portugal e a oposição subiram o tom de acusações
sobre a responsabilidade da situação econômica do país em recessão. A
coligação que sustenta o gabinete do primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho - formada pelo Partido Social Democrata (PSD) e Centro
Democrático Social - Partido Popular (CDS-PP) - continua a dar sinais de
desgaste. Agora, também os trabalhadores e movimentos sociais prometem
ir às ruas diariamente até o final do próximo mês para protestar contra a
política de ajuste econômico.
“[Até]
o final de março, não haverá um dia em que os trabalhadores não
[lutarão]. Não vai haver um dia de descanso para o governo”; prometeu
Armênio Carlos, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores
Portugueses (CGTP), a central sindical ligada ao Partido Comunista
Português (PCP), que promoveu ontem (16) manifestações em 20 cidades
continentais e insulares de Portugal.
Os manifestantes protestaram contra os cortes já feitos pelo governo
(repasses da saúde; pagamentos do seguro desemprego; valores das pensões
e aposentadorias) e as ameaças de enxugamento do Estado social
(promessa de corte de mais 4 bilhões de euros). “Os cortes nessas áreas
equivalem a cortes na qualidade de vida das pessoas; equivalem a
[questionar] a expectativa de desenvolvimento do país no futuro e a
coesão social”; avalia Armênio Carlos.
Os trabalhadores querem que o governo alivie a meta de déficit
orçamentário e prolongue os prazos de pagamento da dívida; para que o
Estado possa fazer investimentos e as empresas consigam suportar o
aumento de salários - o que ativaria a economia, com mais consumo; mais
faturamento das empresas; mais emprego e mais arrecadação de impostos.
O governo pondera que não é possível adotar essas medidas. Segundo
Passos Coelho “é demagogia” propor aumento de gastos quando o país tem
que pagar dívidas contraídas anteriormente. Ele promete que “o governo
não exigirá mais do que aquilo que é necessário para cumprir objetivos
[do programa de ajustamento]”.
Para o economista João Ferreira do Amaral, professor catedrático do
Instituto Superior de Economia e Gestão, “os programas de ajustamento
não criam condições para que a estrutura produtiva possa se recuperar
para crescimento sustentável”. Segundo disse ontem na abertura do
seminário Economia Portuguesa: Uma Economia com Futuro; na sede da
Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, Portugal sofre um processo de
desindustrialização, o que explica a falta de empregos, que começaram a
cair acentuadamente na década passada.
Segundo os dados que apresentou na palestra, há 15 anos a atividade
industrial em Portugal equivalia a 22% do PIB do país e hoje representa
apenas 13%. O economista defende que Portugal saia da zona do euro e
tenha moeda própria para que possa usar a desvalorização cambial e assim
baratear bens de exportação e aumentar a competitividade com outras
economias.