Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Uma estranha brincadeira

Quinta, 21 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
1. O primeiro ministro da Federação Russa, Dmitri Medvedev, reuniu-se durante mais de uma hora com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Um dos assuntos foi a aquisição, pelo Brasil – assunto que vem sendo discutido há anos – de baterias de mísseis antiaéreos russos de média altitude pelo Exército. A negociação está avançada. A delegação russa está discutindo também a questão da venda de carne brasileira à Rússia e informa-se que houve grandes avanços.

            Mas não escrevendo essas coisas pelo que está dito no parágrafo anterior. E sim por declarações feitas recentemente pelo primeiro ministro, que foi presidente da Rússia durante quatro anos, antes que Vladimir Putin voltasse ao cargo. Medvedev era primeiro ministro sob a presidência de Putin, depois passou a presidente enquanto Putin, que não podia ser eleito presidente três vezes consecutivas, assumiu o cargo de primeiro ministro. Então, Putin voltou eleito à presidência e Medvedev voltou ao cargo de primeiro ministro.

            Imediatamente após uma entrevista a cinco emissoras de televisão russas, Medvedev segundo o jornal Telegraph, “baixou a guarda” ante os jornalistas, quando pensou que as câmeras não estavam mais gravando, e fez declarações espetaculares e documentadas. Respondendo a pergunta de um jornalista sobre se o presidente recebe uma pasta com os arquivos secretos sobre extraterrestres junto com a maleta que contém os códigos que permitem ordenar o disparo das armas nucleares. A resposta de Medvedev foi inesperada.

“Digo pela primeira e última vez”, começou ele. “Cada presidente russo que assume o posto recebe do antecessor, junto com a maleta com os códigos nucleares, uma pasta que em sua totalidade contém informações sobre os aliens que visitam o nosso planeta e relatório do serviço secreto absolutamente especial que monitora os aliens em todo o território do nosso país. Informações mais detalhadas sobre esse assunto vocês podem ver num filme bem conhecido chamado Homens de Preto. Eu não posso dizer quantos deles estão entre nós, pois pode causar pânico”.

            Há quem diga, a exemplo do Telegraph, Yahoo, News, e outros meios de comunicação, que Medvedev estava brincando. Mas pode ser que ele estivesse falando sério, falando o que sabia, e, no entanto, tranquilo quanto ao fato de que suas afirmações seria, tomadas pelos bobos e os leigos no assunto (juntando as duas categorias, a imensa maioria) como uma simples brincadeira. Revelar ou confirmar uma verdade de uma maneira que a faz parecer uma brincadeira e até lança uma aura de ridículo. Técnica bem conhecida – “Se fosse verdade, ele não diria”, concluirão os tolos e os ignorantes no assunto.

            2. Malandragem servil é talvez a melhor qualificação para a atitude da direção da Câmara dos Deputados de convocar uma sessão extraordinária exatamente para o momento, 12 horas, em que a jornalista cubana Yoani Sánchez, a convite das oposições, tinha visita marcada para a Câmara. Havia uma sessão ordinária normalmente convocada para as 14 horas. A extraordinária teve como único objetivo compreensível impedir que a TV Câmara transmitisse a visita de Yoani, pois quando há sessão plenária, a televisão da Casa é obrigada a transmiti-la.

            Por si mesmo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, não teria razões para a sabotagem à blogueira que luta pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos em Cuba, país dominado pela ditadura comunista hereditária dos irmãos Castro. O PMDB não morre de amores pela ditadura cubana. Mas bajula o PT, envolvido até o pescoço na campanha que tenta desqualificar e silenciar Yoani Sánchez. E se bajula o PT, também bajula o governo do PT, que, ontem, aliás, representado pela presidente Dilma Rousseff, marcou presença no evento comemorativo dos dez anos do PT no poder federal, evento prestigiado não somente pelo ex-presidente Lula quanto pelos mais festejados condenados no processo do Mensalão – José Dirceu, José Genoíno e João Paulo Cunha.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.