Sábado, 10 de janeiro de 2014
Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil
Um
bazar com roupas, alimentos, produtos de beleza, cadernos, revistas em
quadrinhos e ouros produtos foi a forma como os professores da rede
pública de ensino do Distrito Federal encontraram para chamar a atenção
para a grave situação da categoria. Com os salários de dezembro, 13º e
férias atrasados eles decidiram realizar a feira e tentar arrecadar
dinheiro para ajudar a pagar as contas em atraso.
Convocado pelo
Facebook, o evento acontece neste sábado (10) no Parque da Cidade e foi
batizado de Feira dos Professores – sem salário, 13º e férias – do
Distrito Federal. A feira atraiu diversos profissionais insatisfeitos
com a forma como a categoria está sendo tratada, além de frequentadores
do parque.
A professora
de língua espanhola, Flávia Werneck, criadora do evento, disse que a
iniciativa é realizada de forma independente sem “bandeiras sindicais ou
partidárias” e visa expressar a indignação frente ao descaso com o
professor. "Este é um ato simbólico, nós não temos a pretensão de
arrecadar dinheiro para pagar todas as nossas contas. É muito triste na
verdade este cenário e é um alerta para a sociedade, em geral, para que
eles tenham noção daquilo que estamos passando. É um absurdo completo
que a gente tenha chegado a este ponto”, criticou a professora. “O
professor precisa lançar mão disso aqui [venda de produtos] para
complementar a sua renda, portanto isso aqui já é uma realidade pra
ele”, complementou a professora.
A iniciativa chamou a atenção
das pessoas que passavam pelo parque neste sábado. O servidor público
João Carlos Correa foi um deles. Ele disse que ficou sabendo do evento
pela rede social e resolveu prestigiar a categoria. Correa comprou um
caderno para a filha das mãos da professora de artes Vânia Cavalcante
que trabalha em uma escola do Gama. “A gente veio aqui para isso [apoiar
os professores]. Nossos filhos estão nas mãos deles e eu acredito que o
mínimo que o estado deveria fazer é não atrasar os salários. Não estou
falando nem de aumento que também deveria ocorrer, só do básico mesmo
que é o pagamento em dia”, disse Correa à Agência Brasil.
Vânia,
que tem dois filhos, conta que a confecção de cadernos foi a forma que
encontrou para conseguir uma renda extra. “Hoje vence o meu aluguel e eu
não tenho dinheiro para pagar, realmente é uma situação difícil”,
desabafou.
Ontem, os professores e profissionais da saúde
realizaram um protesto em frente ao Palácio do Buriti, sede do
Executivo. Com os salários de dezembro atrasados, eles fecharam o Eixo
Monumental e a quadra 102 Sul, em Brasília. Inconformados com os
atrasos, os professores decidiram acampar em frente ao Palácio do Buriti
até receberem os valores devidos. Já os profissionais da área de saúde decidiram, em assembleia, entrar em greve até nova avaliação que será na quarta-feira.
Na
sexta-feira (9) o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg,
disse que o pagamento dos servidores da educação deverá ser feito apenas
na semana que vem.
Na opinião da professora Flávia, a forma como
o governo vem tratando a situação é um "convite para o abandono do
magistério". "Daqui de onde a gente está já dá pra ver um futuro
desprovido de advogados, engenheiros, médicos porque o que o governo
está fazendo um convite oficial e expresso para que nós abandonemos o
magistério. E não tarda muito para nós fazermos isso, porque está
inviável sobreviver dessa atividade", lamentou.