Terça, 3 de fevereiro de 2015
Da
Tribuna da Internet
Carlos
Newton
A
Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República apertam cada vez mais o
cerco à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, acumulando provas
provas de seu envolvimento direto no esquema de corrupção da Petrobras, desde a
época em que assumiu a Diretoria de Gás e Energia, em setembro de 2007. E logo
em dezembro ela assinou o vergonhoso documento propondo “parcerias” para a
Transportadora Gasene, através da criação de uma “Sociedade de Propósito
Específico” (SPE).
A
Gasene é uma rede de gasodutos construída entre Rio de Janeiro e Bahia,
passando por Espírito Santo, e esse ato de Graça Foster (ela prefere ser
chamada assim) acabou se tornando mais um escândalo na estatal, com
participação efetiva dela.
O
Tribunal de Contas da União já enviou à força-tarefa da Operação Lava Jato uma
cópia de sua auditoria, que aponta superfaturamento superior a 1.800% em determinados
trechos dos gasodutos, além de pagamentos sem a execução dos serviços e
dispensas ilegais de licitação. A gigantesca obra foi tocada pela estatal
chinesa Sinopec, que era contratada da Transportadora Gasene S/A e fazia as
subcontratações das empreiteiras e fornecedores.
A
Petrobras (leia-se: Graça Foster) tentou barrar as investigações no Tribunal de
Contas, alegando que a SPE Transportadora Gasene é uma empresa privada e foi
responsável pelo empreendimento. Mas na verdade a estatal teve total controle
da obra e tem a responsabilidade de pagar os financiamentos do BNDES. A manobra
dos advogados da Petrobras não deu resultado, porque já existe jurisprudência
de que o TCU tem competência do órgão para fiscalizar as SPEs.
TCU
MANTÉM INVESTIGAÇÕES
No
desespero, Graça Foster pediu que os advogados então tentassem impedir que o
Tribunal de Contas enviasse os documentos à força-tarefa da Operação Lava Jato,
para abafar o escândalo, porque o processo sobre o Gasene ainda é considerado
sigiloso e tramita nas sessões reservadas do TCU.
Mas
o plenário do TCU, em sessão aberta, acabou derrubando a tentativa da Petrobras
de barrar as investigações sobre a rede Gasene. No início da reunião, o
ministro-relator André Luís de Carvalho propôs que o recurso da Petrobras fosse
apreciado sem sigilo. O plenário concordou. E o recurso da Petrobras foi
rejeitado, porque os ministros não enxergaram qualquer irregularidade ou
ilegalidade no envio de documentos à PF e ao MPF, que já estão usando os dados
da auditoria do TCU para abrir nova frente de investigações.
Detalhe:
o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-presidente da
Transportadora Gasene, Antonio Carlos de Azeredo. Os dois são apontados na
auditoria como responsáveis pelas supostas irregularidades. Azeredo disse ter
sido só um “preposto” na função. Será?
GRAÇA
CONTINUA ATÉ QUANDO?
Mesmo
diretamente envolvida nos escândalos da Petrobras, por que Graça Foster não é
demitida? Segundo a analista Natuza Nery, da Folha de S. Paulo, o motivo é
muito ardiloso. Graça se julga prestigiada, mas está apenas servindo de escudo
para a presidente Dilma Rousseff. Enquanto a amiga permanecer no comando da
Petrobras, levando pancada de todo lado, Dilma ficará longe do foco das discussões.
Natuza
Nery tem toda razão. A estratégia do Planalto é realmente esta, e Lula ficou
como “voto vencido”, porque não participa mais das decisões. Se dependesse
dele, Graça Foster já teria sido detonada há dois meses e seria formado um
“gabinete da crise”, com participação também do PT e do Instituto Lula. Mas
Dilma não quer saber dessas ideias de Lula, prefere errar sozinha.
O
mais interessante é que Lula acaba sendo beneficiado por essa estratégia do
Planalto, já que, enquanto Graça Foster estiver em cena, ele poderá se
preservar nos bastidores.