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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Verba do Banco Mundial financiou remoções na Etiópia

Terça, 21 de abril de 2015
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
 
Financiamento originalmente destinado a programa público de saúde e educação foi desviado pelo governo etíope para bancar remoções forçadas de programa de formação de vilas

Soldados apontaram suas armas para Odoge Otiri e levaram o estudante, de 22 anos, para a floresta que cerca a sua comunidade, no oeste da Etiópia. Então começaram a agredi-lo com seus cassetetes e o deixaram sangrando e imobilizado. “Fiquei inconsciente”, lembra. “Só me deixaram lá porque acharam que eu fosse morrer.”

Naquela noite, os soldados prenderam sua esposa, Aduma Omot. “Os soldados me levaram para o acampamento deles”, conta Omot. “Aí me maltrataram, me estupraram.” Segundo ela, eles a mantiveram presa por dois dias antes de deixá-la ir.

Os soldados atacaram o casal, afirma Otiri, porque ele se opôs à proposta das autoridades etíopes de fazer com que ele e seus vizinhos saíssem forçosamente de suas casas, como parte do esforço de reassentamento do governo etíope, a chamada política de “villagization” (formação de vilas) – um enorme projeto social que levou quase 2 milhões de pessoas pobres a se mudarem para áreas recentemente construídas e escolhidas pelo governo para reassentá-las.

Otiri e Omot estão entre os milhares de anuaks, uma comunidade nativa de maioria cristã da província rural de Gambella, no interior da Etiópia, que fugiram da campanha de reassentamento em massa do país.
Odoge Otiri e Aduma Omot disseram ter sido brutalmente atacados por soldados etíopes que estavam pondo em prática campanha de remoções forçadas. (Foto: Andreea Campeanu / International Consortium of Investigative Journalists)
Odoge Otiri e Aduma Omot disseram ter sido brutalmente
atacados por soldados etíopes que estavam pondo em
prática campanha de remoções forçadas
(Foto: Andreea Campeanu / International Consortium of
Investigative Journalists)

O governo etíope financiou as remoções com grandes quantias da mais influente instituição financeira voltada para o desenvolvimento, o Banco Mundial, segundo disseram ao International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) dois ex-funcionários do governo etíope que ajudaram a realizar o programa de reassentamentos. O dinheiro, contam os ex-funcionários, foi desviado de empréstimos que somaram US$ 2 bilhões e haviam sido destinados pelo Banco Mundial para um programa governamental para saúde e educação.