Quinta, 23 de abril de 2015
Carolina Gonçalves — Repórter da Agência Brasil
O
presidente da Setal Engenharia e ex-conselheiro da Toyo Setal, Augusto
Mendonça Neto, afirmou hoje (23), durante depoimento na CPI da
Petrobras, que, no período em que manteve contratos com a estatal,
repassou mais de R$ 70 milhões ao ex-diretor de Serviços Renato Duque e
cerca de R$ 30 milhões para Paulo Roberto Costa, que comandava a
Diretoria de Abastecimento.
“Para
o dinheiro sair de nossas contas e chegar às contas indicadas pela
Diretoria de Serviços, precisava de uma forma contábil”, explicou o
empresário. Segundo ele, foram indicadas quatro ou cinco empresas que
seriam usadas para os repasses, além dos recursos solicitados para
doação ao PT ou firmados por meio de contratos com a gráfica responsável
pela publicidade do partido.
“No caso do [doleiro
Alberto] Youssef, que recebia o dinheiro, ele indicou empresas que davam
notas [fiscais] e com as quais eram feitos contratos de prestação de
serviços que não eram realizados”, esclareceu.
De acordo com
Mendonça Neto, os valores eram relativos ao pagamento de propina. A
empresa tinha dois contratos com a Petrobras, firmados em 2007, depois
de três anos sem participar de licitações da estatal. “Ficamos fora
porque passamos por uma crise financeira que gerou problemas em vários
contratos com a estatal e com outras empresas. A Petrobras impôs que só
receberíamos novos convites a partir da entrega de duas obras.”
O
empresário acrescentou que a Toyo era uma parceira antiga da Setal e
que, apenas após o pré-sal e o aumento dos investimentos da Petrobras,
outras companhias vislumbraram oportunidade de entrar no Brasil e só
teriam como fazer isso como sócias de outras empresas. A associação da
Toyo-Setal ocorreu em 2012. “A associação criou uma companhia nova, que
partiu do zero, com novos contratos. O grupo conseguiu entrar na
Petrobras, participando de licitações com competência. Quando voltamos a
ser convidados pela Petrobras, essa conjuntura [corrupção] estava
armada. Nossa participação foi por adesão ao esquema já existente.”
Mendonça
Neto, que já explicou à CPI a motivação para a delação premiada, voltou
a falar sobre o incômodo com a situação estabelecida pelas duas
diretorias. “Sempre temi. Sinto que hoje estou fazendo a coisa correta”,
concluiu.
Durante a audiência pública, o presidente da CPI,
deputado Hugo Motta (PMDB-PB), anunciou que o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), encaminhou nesta manhã à comissão todos os
documentos sigilosos reunidos pela CPMI da Petrobras, que funcionou ano
passado no Congresso Nacional.