Terça, 2 de fevereiro 2016
Da Tribuna da Internet
Lula agora nega que o triplex era dele…
Pedro do Coutto
O episódio do tríplex do Guarujá, pelo capítulo atual, deixou o
ex-presidente Lula em situação muito difícil diante da opinião pública,
já que sua versão derradeira colide fortemente com aquela que a
antecedeu de poucos dias. Basta ler a reportagem de O Globo e a de O
Estado de São Paulo, ambas publicadas nas edições de segunda-feira, 01,
para que se destaque uma e outra. A reportagem de O Estado de São Paulo é
de Letícia Soro e Eduardo Kattah. A de O Globo não foi assinada. Não
tem importância.
A primeira versão, a veiculada pelo advogado do ex-presidente é
ridícula. Pois como o comprador opcional de um apartamento tríplex
resolve resgatar a quota de 47 mil reais que lhe cabia no empreendimento
para resgatar tal valor e desistir da transação? Não vale a pena sequer
opinar sobre as sombras que tornam nada nítido o desencontro de
vontades. O advogado, certamente, deverá se demitir da função que
aceitou ou então dela ser demitido.
As datas, inclusive, são discrepantes. Pela nova explicação de Lula,
veiculada pelo Instituto que leva seu nome, portanto de fonte insuspeita
para o antecessor de Dilma Rousseff, está menos distante da verdade: a
desistência foi firmada em novembro de 2015, há pouco mais de dois
meses. Nela, a explicação, Luis Inácio da Silva confirma a informação do
zelador do prédio, que visitou a obra em companhia da Sra. Marisa
Letícia, e do empresário Léo Pinheiro, então presidente da OAS. A OAS
encontra-se envolvida no assalto aos contratos da Petrobrás. E Léo
Pinheiro, condenado por corrupção, está preso no Paraná.
LACERDA E JUSCELINO
A embriaguez do sucesso é um dos maiores perigos que ameaçam os que
ocupam o poder e podem acionar a caneta mágica que os fascina, tanto
quanto os empresários que deles conseguem se aproximar, lançando na mesa
os dados da sorte e dos prazeres aparentes e tocáveis da realidade. Os
empresários sabem como agradar, aproximarem-se e até se tornarem
íntimos. Executivos preparados e especialistas em em tais tarefas, que
são múltiplas, não faltam. E são bem remunerados de acordo com os
reflexos que são capazes de produzir.
Mas falei no fascínio, pode-se dizer hipnótico dos tríplex. O que
seria destinado a Lula, ao qual a repercussão pública o levou a recuar,
não foi o único da história. Não foi o primeiro e, ao que os sintomas
indicam, tampouco será o último. Carlos Lacerda, quando governador da
antiga Guanabara, de 60 a 65, morava na Praia do Flamengo quase esquina
com Conde Baependi. Tinha um duplex. Resolveu ingressar no clube dos que
possuíam um tríplex. Executou uma obra para concretizar seu objetivo. O
arquiteto chamava-se Alberto Pucheu, pai de um amigo de quase 60 anos.
O presidente Juscelino Kubitschek, que governou o país de 56 a
janeiro de 61, no final de seu mandato foi morar num tríplex na Avenida
Vieira Souto, quase ao lado da Casa de Cultura Laura Alvim. O clube
seleto deve ter maior número de integrantes, mas há uma diferença em
relação a Lula. Não foram construídos por empresas envolvidas em
escândalos, tampouco os empresários estavam na cadeia. Conheci o de JK,
ao entrevista-lo para o Correio da Manhã, em 63. Ele falou sobre o
projeto de vencer as eleições de 65. Infelizmente ele não voltou.
Começava a ditadura militar.