Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

PM algema mulher negra que precisava de cuidados médicos

Quarta, 13 de setembro de 2017
Da Ponte
Direitos Humanos, Justiça, Segurança Pública

Testemunha que gravou vídeo afirma que, em mais de uma oportunidade, pediu aos policiais que soltassem a jovem e acionassem o atendimento médico

A desempregada Karen dos Santos, 26 anos, pouco se lembra da noite do dia 1º de setembro, quando passava por um momento difícil e, segundo ela, bebeu demais. “Eu nunca tinha ficado daquele jeito, mesmo já tendo bebido em outras oportunidades. Eu misturei várias bebidas, na verdade: cerveja, catuaba, um monte de coisa”, diz. Karen acabou no meio da rua, perto da Praça da República, no centro de São Paulo. Policiais militares da base que fica próxima do local foram até a jovem e, em vez de conversar, algemaram Karen.


“Não lembro de muita coisa que disse, mas lembro que o policial me pegou e não veio na lealdade de querer me ajudar, entende? Ele veio me abordando, não lembro do que ele falou, exatamente as palavras, mas foi algo do gênero ‘sai daqui, você não tem que ficar aqui parada, você tem que sair, você ta louca?'”, relata. No vídeo, Karen chega a questionar os PM sobre a cor de pele dela e se o tratamento não seria diferente se ela fosse branca.

Integrante do Coletivo Casa do Meio do Mundo, Jesus dos Santos passava pelo local e foi tentar entender o que estava acontecendo, quando viu os policiais tentando carregar a jovem em direção à praça. O agente cultural começou a gravar a cena com o celular. “Eles passaram a conter ela como se fosse uma criminosa, colocando os braços para trás, jogando ela no chão, algemando, levando ela à força para a base da Polícia Militar”, relata Jesus, que considerou exagerada a atitude da polícia.

Segundo a testemunha, ele questionou se o caso da jovem não era de saúde e pediu, como mostra no vídeo, mais de uma vez para que retirassem as algemas dela e que acionassem o Serviço de Atendimento de Urgência (Samu). Os policiais teriam dito que o “Samu demoraria demais, mais de duas horas” e que não compensava acionar o socorro. “Tinham dois policiais que claramente entendiam que ela deveria ser levada para a Santa Casa, mas de camburão e algemada”, conta Jesus, ressaltando que não havia necessidade disso. “Aí, bem depois, chegou um sargento que compreendeu do que se tratava, de que a moça estava alcoolizada, fora de si, e precisava de cuidados médicos”.

Ainda de acordo com Jesus, os policiais o intimidaram quando o chamaram de canto e questionaram quem era ele e por que, afinal, estava ali filmando tudo. “Um deles chegou a dizer que eu o estava desacatando. Retiveram minha carteira de identidade e eu tive que ia até a Santa Casa, para onde ela foi levada, apenas para recuperar eu RG”, contou.


Outro lado
Atualização às 18h – A Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB), por meio da assessoria de imprensa privada CDN Comunicação, enviou a seguinte nota:
A Polícia Militar informa que, em análise preliminar ao vídeo apresentado, classificou a postura dos policiais militares e seus procedimentos técnicos como adequados para a situação. A PM tem como sua missão principal a defesa da vida e a proteção das pessoas. O caso demandava ação rápida, sendo o encaminhamento ao hospital a medida mais apropriada.