Quinta, 19 de outubro de 2017
Da Ponte
Direitos Humanos, Justiça e Segurança Pública
Zona Sul da capital fluminense e Nova Iguaçu, município da região metropolitana, registram novos casos de intolerância religiosa. São mais de 40 ataques em dois meses
Os ataques movidos à intolerância religiosa continuam acontecendo no estado do Rio de Janeiro. No último sábado (14/10), uma festa de Ibeijada, comemoração sincrética de São Cosme e São Damião, foi alvo de pedradas em Campo Grande, na zona Oeste do Rio. Outro caso aconteceu em Nova Iguaçu, região metropolitana da capital fluminense.
Religiosa responsável pela organização da festa no bairro do Rio, Mãe Penha, como é conhecida pelos frequentadores do local, contou que a comemoração foi iniciada às 18h sem problemas em um salão alugado e com o consentimento da proprietária. “Por volta das 21h15 jogaram uma pedra de concreto de uns 15 centímetros que por pouco não machucou gravemente uma criança de seis anos”, relatou, à Ponte.
No dia seguinte, após conversa com a dona do local, que é alugado, ela própria evangélica, a religiosa foi incentivada a comunicar a ocorrência de intolerância na 35° Delegacia de Polícia, em Campo Grande. “Sabemos que foi intolerância porque o salão é alugado para várias festas. É um local acostumado a ter esse tipo de evento, então se algo incomodou foi por conta dos nossos atabaques”, comentou Mãe Penha
Na Delegacia, a investigadora, junto ao delegado Marcelo Ambrósio registraram o caso como Intolerância Religiosa..
Pichação em Nova Iguaçu
Os casos continuaram. Dois dias depois, o bairro de Cabuçu, em Nova Iguaçu, acordou com uma mensagem direta e clara aos moradores praticantes de religiões de matriz africana. Pintada no asfalto estava escrito”O fim: os ímpios das macumba estar (sic) próximo o fim”.
Segundo o Babalorixá Henrique de Oxóssi, iniciado desde 1979, o caso é diferente porque a vizinhança não tem histórico de preconceito contra praticantes do candomblé e umbanda. “Além dos vizinhos respeitarem a gente, o bairro tem uma das maiores concentrações de casas de matrizes africanas. São, no mínimo, cem”, disse o religioso.
Apenas nos últimos dois meses de 2017, de acordo com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), foram registrados mais de 40 casos de intolerância religiosa no Estado. Os números surpreendem, mas seguem um padrão alto há anos.
O último relatório disponível sobre intolerância religiosa, feito pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) em conjunto com outras instituições parceiras mostra, já em 2015, que o Estado do Rio de Janeiro liderava esse tipo de ataque. De julho de 2012 a dezembro de 2014, foram totalizados 948 atendimentos a 582 pessoas vítimas de intolerância, sendo que as denúncias contra religiões afro-brasileiras representaram 71% dos casos.
Aplicativo
Na última semana, um aplicativo foi lançado no Rio de Janeiro para contabilizar e auxiliar pessoas vítimas de ataques religiosos na cidade e Grande Rio. Denominado O Oro Orum – Axé Eu Respeito registra em seu mapa a localização dos ataques e os usuários podem enviar alertas em tempo real de casos que estejam acontecendo.