Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Quando as águas do Rio de Janeiro arderem

Novembro
27

Quando as águas do Rio de Janeiro arderem

Em 1910, acabou a rebelião da marujada brasileira.
Os sublevados haviam ameaçado, disparando seus canhões em tiros de advertência, a cidade do Rio de Janeiro.
— Basta de chibata, ou vamos fazer a cidade virar pó.
A bordo de seus navios de guerra, as chibatadas eram hábito, e com frequência os castigados morriam.
E depois de cinco dias o motim triunfou, e as chibatas foram jogadas no fundo das águas, e os párias do mar desfilaram, aclamados, pelas ruas do Rio.
Um tempo depois, o chefe da insurreição, João Cândido, filho de escravos, almirante por decisão dos sublevados, tornou a ser marinheiro raso.
E um tempo depois foi expulso.
E um tempo depois foi preso.
E um tempo depois foi trancado num manicômio.
Ele tem seu monumento, diz uma canção, nas pedras pisadas dos cais.

Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos Dias’. Editora L&PM, 2ª edição, pág. 373

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"Almirante Negro" - (O Mestre-Sala Dos Mares) — letra sem censura da ditadura militar





Há 3 anos (comentário de Arcírio Gouveia Neto, jornalista, sobre João Cândido. Na postagem do vídeo no Youtube)
"Temos a honra de ter trabalhando, há mais de 40 anos, na Secretaria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), seu filho, João Cândido, tratado carinhosamente por todos nós como Candinho. Por incrível que pareça, ele tinha dificuldade em arrumar emprego em função  da sombra que seu pai ainda imprimia em certos setores da sociedade brasileira. No entanto, a ABI um baluarte em defesa dos direitos humanos e do estado democrático de direito nesse País, corajosamente, assumiu sua proteção e sua guarda e eu como Diretor do Departamento de Assistência Social da Casa tenho muito prazer em tê-lo como funcionário. Um episódio que poderia ter sido trágico em sua vida, se deu em 1975, quando agentes da ditadura militar colocaram uma bomba de alto poder destrutivo no banheiro do 7o andar, perto do local onde ele trabalha. A bomba, de efeito retardado, explodiria cinco minutos após ser acionada, foi o tempo necessário para que alguém o mandasse fazer alguma coisa na rua e quando ele chegou na calçada pode ouvir a explosão lá em cima, destruindo totalmente todo o 7o andar da entidade, sendo um milagre que nenhum funcionário tenha morrido, embora alguns ficassem feridos."