Quarta, 13 de novembro de 2019
As Alas do Bolsonarismo
Por
Salin Siddartha*
O
bolsonarismo é um movimento composto por diversas alas que se articulam para
impulsioná-lo, mas que têm características próprias. As principais alas do
bolsonarismo são as seguintes:
1.
Olavista
Incorpora
o discurso da ultradireita do Partido Republicano estadunidense: é
antiestatista, armamentista, antiminoritária, antiglobalista, xenófoba,
opositora em relação à mídia liberal e à política pública de proteção social. É
ultraconservadora e a mais ideológica das correntes da ultradireita; opõe-se ao
MBL. É liderada pelo astrólogo Olavo de Carvalho que, apesar de somente ter
cursado até o nível médio de ensino (estudou apenas até o 3º ano do segundo
grau), intitula-se como autodidata.
2.
Evangélica
Desconfia
dos lavajatistas, por quem é vista com cautela, e está em contradição parcial
com os militares. Possui uma tendência fundamentalista pentecostal e
neopentecostal, representada, principalmente, pela Igreja Universal do Reino de
Deus e pela Assembleia de Deus. É um grupo ultraconservador e reacionário que crê
que os grandes problemas do País são morais. Está em coalizão com os partidos
políticos que apoiam Bolsonaro; influencia os eleitores pobres e de pouca
instrução.
3.
Dos Excluídos Sociais
É
formada por desempregados, trabalhadores precários, ambulantes pobres ou
empobrecidos, motoristas de aplicativos ou vigilantes terceirizados os quais
não se veem contemplados pelas políticas sociais dos últimos anos. São homens
jovens e brancos, dos 30 aos 50 anos, endividados, que são vítimas de assaltos
e se sentem ameaçados no papel de provedores da família. É constituída por
analfabetos funcionais que nunca se interessaram pela política. Publiciza
convicções privadas, preconceituosas, fascistoides e pensa que os bandidos têm
de ser mortos, que todo político rouba e que comunista ou esquerdista é
vagabundo ou ladrão. Seus membros são influenciados pela igreja.
4.
Dos Ricos
Opta
por um projeto autoritário contra a “corrupção” e vê no antipetismo uma
oportunidade para legitimar antigos preconceitos de classe.
5.
Dos Precariados
Situa-se
entre a ala dos ricos e a dos pobres. São taxistas, vigilantes terceirizados,
vendedores do comércio, microempresários indignados com o sistema político
frouxo. Possui fanáticos prestes a cometer vingança contra os esquerdistas,
negros, LGBTs e feministas, a quem culpa pela deterioração do mundo.
6.
Tecnoburocrática
É
formada por procuradores, juízes e delegados da Polícia Federal. Declara-se
apolítica e apartidária.
7.
Lavajatista
São,
principalmente, procuradores, juízes e delegados de polícia que, ainda que se
declarem apolíticos e apartidários, aparelham a atividade política
partidariamente em um pseudomovimento contra a corrupção estampado em Sérgio
Moro. Criminaliza a atividade política. Busca reduzir as taxas de homicídio e
acabar com o conluio entre o capital privado das empreiteiras nacionais e os
gestores públicos. Vê com cautela os evangélicos
bolsonaristas. Amalgama-se com os projetos do economista Paulo Guedes, dos
ultraconservadores de direita, do MBL e do núcleo militar, mesmo sofrendo
desconfiança por parte de membros das Forças Armadas.
8.
Thatcherista (Movimento Brasil Livre-MBL)
É
a ala do MBL (Movimento Brasil Livre), um movimento antipetista de direita
defensor do liberalismo econômico e promotor do livre mercado. Representa um
setor da burguesia que exige do Estado a implementação de ataques contra os
trabalhadores. Foi um dos grupos que lideraram os movimentos de rua pelo
impeachment da Presidenta Dilma Rousseff; é entusiasta da Lava-Jato, apoia o
ex-juiz Sérgio Moro e foi favorável à reforma da Previdência. Dirigido pelo
Deputado Federal Kim Kataguiri, pelo Vereador paulistano Fernando Silva Bispo
(Fernando Holiday), pelo Deputado Estadual paranaense Homero Marchese, pelo
Deputado Estadual mato-grossense Ulysses Moraes, pelo empresário Renan Antônio
Ferreira dos Santos e por Renato Battista, é financiado pela indústria
imperialista Kosh, exploradora de óleo e gás; responde às demandas de aumento
de lucro dos grandes empresários e banqueiros. Opõe-se ao olavismo e atua como
um partido político clandestino infiltrado em outras agremiações partidárias.
9.
Militar
Constitui-se
em coalizão com os grupos religiosos e partidos políticos, embora tenha
contradição parcial com os evangélicos. Nacionalista e autoritária, forma o coração
do bolsonarismo em conjunto com o conservadorismo e o ultraconservadorismo. É
revisionista histórica, decadentista (acha que o passado é melhor que o
presente), patriótica e chancela a anticorrupção moral e política. Possui
contradição parcial com os liberais-econômicos.
10.
Brasil 200
É
um movimento bolsonarista de 300 empresários que fizeram campanha eleitoral
para Jair Bolsonaro. Abraça o lema “Conservador nos costumes, liberal nos
negócios”; é presidido por Gabriel Kanner e inclui Flávio Rocha (dono das lojas
Riachuelo), Luciano Hang (proprietário da Havan), João Appolinário (Polishop),
Edgar Corona (Bio Ritmo), Sebastião Bonfim (Centauro), Marcelo Pessoa
(Galápagos Capital Gestora de Fundos) e Washington Cinel (Gocil). O faturamento
dessas empresas totaliza 40 bilhões de reais por ano; eles querem assumir maior
protagonismo político e furar os canais de lobby empresarial, como uma linha
direta com o governo. Costuma apoiar as principais pautas governamentais,
inclusive as que são controversas, e prestigia Sérgio Moro; acha que o maior
problema do Brasil é a Educação ter um viés comunista e que cursos como
Filosofia e História são pouco funcionais, devendo-se priorizar as faculdades
de ciências exatas, porque preparam empreendedores (crê que faculdades de
Sociologia são marxistas). Supõe que a ordem depende de um bom líder e que a
esquerda deteriora as cidades.
11.
Caminhoneiros
É
um grupo bolsonarista de pressão popular em rede contra o stablishment.
12.
Liberal-Econômica
Tem
os seus valores retomados pelo conservadorismo, embora possua contradição
parcial com os militares bolsonaristas. É encabeçada pelo economista Paulo
Guedes.
13.
Núcleo Duro do Bolsonarismo
Visa
entregar o País ao capital financeiro. Apoia Jair Bolsonaro e a família dele
não importa o quê. É a ala mais extremista e é representada por 15% a 20% dos
eleitores brasileiros.
14.
Os Filhos de Jair Bolsonaro
Manipula
e aparelha as redes sociais do bolsonarismo. É encabeçada por Carlos Bolsonaro.
15.
Conservadora
Defende
que os grandes problemas do País são morais, mobilizando a retomada dos valores
liberais, religiosos e pré-democráticos. Combina:
a)
o fundamentalismo bíblico;
b)
o discurso da ultradireita do Partido Republicano norte-americano:
antiestatista, armamentista, antiminoritário, antiglobalista, xenófobo,
opositor à mídia liberal e à política pública de proteção social;
c)
o militarismo conservador: revisionista histórico, decadentista (o passado é
melhor que o presente), autoritário e patriótico – forma o coração do
bolsonarismo em conjunto com o militarismo nacionalista autoritário.
16.
Miliciana
É
uma das principais forças que compõem o bolsonarismo.
17.
TFP/Arautos do Evangelho
A
ultraconservadora Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade-TFP e sua nova versão (Arautos do Evangelho) defendem a união dos
grupos de direita em torno de Jair Bolsonaro e vão às ruas com os militantes
delas vestidos com o uniforme, as bandeiras e os símbolos daquelas entidades,
com roupas marrom e cinza, carregando estandartes e distribuindo panfletos em
apoio à pauta bolsonarista. Um dos mais destacados líderes da Sociedade é o
empresário Adolpho Lindemberg. Esse grupamento defende a ala militarista do
governo e, consequentemente, critica as relações de Bolsonaro com Olavo de
Carvalho, que o incomoda pelos modos e palavras usados pelo guru da família do
Presidente em disputa com os militares; a TFP/Arautos do Evangelho apadrinha o
retorno do Brasil à Ditadura Militar e se opõe aos direitos humanos e
trabalhistas. Ela procura trazer o Presidente da República para a esfera de
influência política das Forças Armadas e defende o extermínio da esquerda
brasileira. Mantém excelentes relações com oficiais-generais das três Forças,
muitos dos quais são monarquistas, tais quais os filiados à TFP/Arautos do
Evangelho o são, principalmente no seio da Marinha Brasileira, e crê que,
depois de uma “reconstrução nacional”, haverá a restauração da monarquia. A
declaração de Jair Bolsonaro a respeito de que é preciso nomear um ministro
evangélico para o Supremo Tribunal Federal não agradou os membros da
TFP/Arautos do Evangelho.
18.
Grupo Montfort
O
Montfort é um grupo de extrema-direita que defende a manutenção da prisão de
Luiz Inácio Lula da Silva e contesta o Partido dos Trabalhadores. Em conjunto
com a TFP/Arautos do Evangelho, defende a perseguição, tortura e extermínio da
esquerda, postula pelo fortalecimento do domínio burguês em detrimento da luta
social que tende a intensificar-se com os ataques contra a população devido à
crise econômica.
19.
Movimento Vem pra Rua
É
um movimento político-social de direita que tem como líderes Rogério Chequer,
Adelaide Oliveira, Adriana Balthazar – um dos seus cofundadores, de codinome
Collin Butterfield, tem sua identidade mantida em sigilo, sob a alegação de que
ele é uma pessoa que não quer-se expor pelo fato de lidar com empresas. Tem
organizado manifestações contrárias à corrupção e ao Partido dos Trabalhadores;
hostiliza os petistas e advoga que o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva
continue preso. É favorável à execução da pena criminal após a condenação do
réu em segunda instância, defende o ex-juiz Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato.
É criticado pela falta de clareza quanto à forma de seu financiamento, quem são
seus doadores e os valores das doações que lhe têm sido feitas; contudo,
apurou-se que a Fundação Estudar, controlada pelo empresário Jorge Paulo
Lemann, sócio da cervejaria Ambev e da rede de “fast food” Burger King, financia
e dá apoio ao Movimento Vem pra Rua – até mesmo o registro do site
“vemprarua.org.br”, URL oficial usada pelo Movimento, foi comprado pela
Fundação Estudar. Funciona como um partido político clandestino.
20.
Movimento Acredito
É
um movimento de direita fundado por alunos brasileiros que passaram pela
Universidade de Harvard, liderado pelo cientista político pernambucano Felipe
Oriá, pelo engenheiro e mestre em políticas públicas goiano José Frederico Lyra
Netto, pela cientista política e astrofísica paulista Tábata Amaral de Pontes
(Deputada Federal pelo PDT, fundadora e gestora do Movimento Mapa Educação),
por Alessandra Monteiro (gestora de captação de recursos do Acredito), pelo
Deputado Federal Felipe Rigoni (PSB-ES) e pelo Senador Alessandro Vieira
(REDE-SE). É um partido político clandestino disfarçado de progressista, que se
infiltra em diversos outros partidos de direita, centro-direita, centro e
centro-esquerda, como o Cidadania, PSB, Rede, PDT, PV, PSDB, Novo e DEM, para
usar o fundo partidário, tempo de rádio e TV, coeficiente eleitoral desses
partidos e eleger seus candidatos. Com membros majoritariamente jovens, o
Acredito atua gerando textos sobre política canalizados pela Internet,
compartilhando muitas de suas características com o movimento Renova BR. É
apoiado e financiado pelo bilionário Jorge Paulo Lemann e outros
megaempresários. O Movimento Acredito possui núcleos em treze Estados do Brasil
e tem a pretensão de renovar cerca de 10% do Congresso Nacional nos próximos
dez anos. Nas eleições de 2014, elegeu 28 candidatos dos 30 que lançou. O voto
dos Deputados Federais Tábata do Amaral e Felipe Rigoni em favor da reforma da
Previdência geraram uma crise no Acredito, causando grande número de
desfiliação de militantes do Movimento.
21.
Rede de Estudantes para a Liberdade (Students For Liberty Brasil-SFLB)
É uma rede mundial ideologicamente de direita que defende o liberalismo; possui
mais de mil filiados no Brasil e tem como principais líderes Giuseppe Riesgo,
Marcelo Lourenço Filho e Fábio Ostermann.
22.
Nas Ruas
É
um movimento de direita que apoia a Operação Lava-Jato, as 10 Medidas contra a
Corrupção e a autonomia para a Polícia Federal; defende o ex-juiz Sérgio Moro e
manifesta-se a favor da reforma da Previdência. Seu principais líderes são Tomé
Abduch e a Deputada Federal Carla Zambelli (PSL-SP).
23.
Renova BR
É
um partido político clandestino de direita que atua infiltrado em diversas
agremiações partidárias. Tem como principais líderes o empresário Eduardo
Mufarej, o apresentador Luciano Huck, os Deputados Federais Marcelo Calero
(Cidadania-RJ), Lucas Gonzales (NOVO-MG), Luiz Lima (PSL-RJ), Joênia Wapichava
(REDE-RR), Vinícius Poit (NOVO-SP), Tiago Mitraud (NOVO-MG), Paulo Gamine
(NOVO-RJ), os Deputados Estaduais Daniel José (NOVO-SP), Marina Helou (REDE-SP),
Davi Maia (DEM-AL), Heni Ozi Cukier (NOVO-SP), Ricardo Mellão (NOVO-SP) e Renan
Ferreirinha (PSB-RJ).
24.
Livres
É
um movimento de direita que se firma em princípios liberais. É originário do
Partido Social Liberal (PSL). Apoia as propostas pró-mercado.
25.
Mobilização Brasil
É
uma organização política de direita que luta contra toda ideologia de viés
marxista na esfera pública da sociedade; é homofóbica. É contrária à libertação
de ex-Presidente Lula e se opõe ao que chama de pregação da “ideologia de gênero”
nas escolas.
26.
Comando de Caça aos Comunistas-CCC
É
uma organização paramilitar extremista de direita existente no País desde 1963
que, embora tenha ficado inativa ao final da Ditadura Militar, voltou a existir
em 2014. Atualmente, é comandada por um determinado assessor parlamentar do
Senado Federal, que coabita com certo vereador os mesmos apartamentos no Rio de
Janeiro e Brasília; ele tem visitado os Estados brasileiros à procura de
“comunistas” que trabalham na administração federal para relacioná-los em
dossiês que elabora. Defende o trabalho infantil, a Lava-Jato, o ex-juiz Sérgio
Moro, o Procurador Deltan Dalagnol, a política externa de Donald Trump para a
América Latina; ataca Lula, os petistas, os comunistas, os socialistas e
quaisquer esquerdistas.
27.
Movimento Anticomunista-MAC
É
uma histórica organização terrorista extremista de direita fundada em 1961, que
teve destacada atuação de combate e extermínio físico de comunistas,
socialistas e esquerdistas no Brasil, principalmente na década de 1960; apesar
de ter cessado suas atividades na primeira metade da década de 1980, voltou a
existir em 2014. Tem vinculação com o aparelho repressivo de Estado e também
possui militares e policiais entre seus membros; continua a visar ao ataque não
somente a comunistas, mas também a socialistas e a quaisquer esquerdistas, é
intervencionistas, ou seja, defende a volta da Ditadura Militar no Brasil.
28.
Frente Anticomunista-FAC
É
uma organização ultradireitista fundada em 1962, com um passado terrorista de
perseguição e atentados contra quem ela considerava militante de esquerda. Após
quase três décadas sem atuação, voltou a ter existência ativa desde 2014. A
Frente Anticomunista-FAC visa expor uma visão direitista do que são o
socialismo e o comunismo; defende o capitalismo, a economia de mercado, divulga
o anti-histórico pseudoponto-de-vista de que o nazismo era uma ideologia de
esquerda, é antipetista, antissocialista, participou da campanha pelo
impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousseff, classifica-se como neoliberal e
realiza palestras em que divulga ideias de direita.
Cruzeiro-DF, 10 de
Novembro de 2019
SALIN SIDDARTHA
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*Artigo publicado originariamente no Jornal InfoCruzeiro
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