Segunda, 22 de novembro de 2011
Transcrito de "Rumos do Brasil"
Por Beto Almeida
Tudo indica, na caserna entendeu-se com mais
realismo a Mensagem da Líbia, enviada pelo império, consumidor viciado em
petróleo. Não devem as forças progressistas agendar concretamente, sob a sua
ótica, o debate da sinistra Mensagem da Líbia?
Se quiser de fato ter soberania nacional sobre o
petróleo pré-sal, o Brasil deve investir, até 2030, nada menos que 223,5
bilhões de reais para dotar o país de poder naval do porte das riquezas a
defender. Foi esta a tônica de audiência pública realizada na Comissão de
Relação Exteriores do Senado, nesta semana, com depoimentos de autoridades
militares. O tema: “Como defender o pré-sal?”, Despertou vivo interesse corpo
diplomático, lá presente. Mas, não teve cobertura da mídia convencional à
altura da envergadura dos temas ali tratados, afinal, decisivos para os
destinos da Nação, mesmo para quem tem reservas, políticas ou filosóficas, a
temas militares.
Vale constatar: defesa nacional não é debate
prioritário na sociedade brasileira hoje, para o que contribui, em boa medida,
o não fornecimento de informações objetivas por parte da mídia à sociedade, em
contraste do estardalhaço sensacionalista da overdose de coberturas sobre
violência e criminalidade, sob clichê de segurança pública. Tampouco é tema com
presença regular na agenda das forças progressistas, muito embora o Governo
Lula tenha dado uma boa mexida na Política Nacional de Defesa.
As autoridades militares deram o tamanho do
problema: o Brasil precisa ter 20 novos submarinos convencionais e pelo menos
seis nucleares. Precisa ainda de uma segunda esquadra. Sem esquecer, a
continuidade do Programa Nuclear, que recebeu novos aportes durante o governo
Lula. Enfatizou-se: isto não é megalomania, mas indispensável poder de
dissuasão em tempos de paz para evitar o conflito armado. Leia-se, tempos em
que o mundo dispõe de reservas petrolíferas para apenas mais 45 anos e os EUA
para apenas mais 10 anos. Tempos em que os EUA estão tomando na marra as
riquezas energéticas de quem as possui, invadindo o Iraque, o Afeganistão e
agora, com carnificina selvagem, a Líbia.
Um dos expositores, o professor da Escola
Superior de Guerra, Simon Rosental, desenvolveu um pouco mais o quadro
internacional em que deve ser programada e planejada a forma mais adequada para
garantir a soberania nacional sobre as riquezas do pré-sal. “ O Brasil
descobriu o pré-sal quando no mundo as reservas declinam. O que devemos fazer? Utilizar
as três Forças conjuntamente para garantir poder de dissuasão sobre toda essa
área e defender a soberania e a integridade do país. É comum ouvir que não há
necessidade de recursos para as Forças Armadas, pois estamos no Atlântico Sul,
o lugar mais tranquilo do planeta. Há certa verdade nisso, mas o erro é o foco.
A ameaça vem da linha do Equador para cima” — alertou o especialista.
Área sensível Ampliando este raciocínio, o
presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate, brigadeiro
do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, sustentou em sua exposição que a
região onde estão localizadas as reservas do pré-sal será uma “área sensível”
do território brasileiro, e que o país precisará estar preparado para garantir
“pronta resposta” a qualquer ameaça externa.
“O pré-sal é e será ponto de cobiça. Trata-se de
uma riqueza que precisa ser defendida, por isso a dissuasão deve ser
permanente” ressaltou Baptista.
Informando que na região será construído um dos
mais modernos sistemas de controle de tráfego aérea do mundo, o Brigadeiro,
destacou que Aeronáutica aguarda ansiosa a decisão sobre a compra dos jatos
supersônicos. Recentemente, em entrevista á TV Senado, Ozires Silva, fundador
da Embraer, disse que estes contratos para a compra de aviões devem ser dados
não a estrangeiros, mas àquela indústria aeronáutica nacional, assegurando que
ela teria plenas de fabricar aqui mesmo os caças indispensáveis. “A Boeing
também terceiriza parte do que produz. Nenhuma empresa produz todos os
componentes fundamentais, Se derem a oportunidade a Embraer dá conta do
recado”, assegurou. Construir aqui gera emprego, tecnologia e, especialmente,
independência tecnológica.
“Armas, o último argumento” ? Diante da magnitude
do volume de recursos mencionados para de verdade organizar uma defesa soberana
do petróleo do fundo do mar, o senador Cristovam Buarque, que presidiu a
audiência pública, assinalou que, se os investimentos para defesa dos recursos
do pré-sal forem maiores do que os previstos para a defesa do país, isso deve
ser feito com recursos provenientes dessas próprias riquezas e “não da nação brasileira
como um todo. Nenhuma menção foi feita ao fato de Brasil esterilizar,
anualmente, uma verdadeira montanha de recursos para o pagamento dos encargos
da dívida – já chamada de a Bolsa Selic, regiamente paga aos que odeiam o Bolsa
Família – muito embora problemas cruciais continuem a ser não enfrentados,
entre eles o da defesa do país. Isto é, o Brasil se dá ao luxo de direcionar
enorme fluxo de recursos orçamentários para os rentistas, em que pese não ter
recursos para controlar o tráfico de armas e, pior ainda, em que pese a
gravidade do cenário internacional hoje, com crescentes intervenções militares
imperiais, de multiplicação de seus orçamentos bélicos.
Assim, o que se pode dizer pode-se dizer após uma
audiência com duros alertas de especialistas é que , diante do porte do país e
das riquezas a defender, o Brasil ainda anda desarmado. A audiência foi
encerrada com citação de provérbio romano: “Nossa soberania termina onde finda
o alcance de nossas armas”. Tudo indica, na caserna entendeu-se com mais
realismo a Mensagem da Líbia, enviada pelo império, consumidor viciado em
petróleo. Não devem as forças progressistas agendar concretamente, sob a sua
ótica, o debate da sinistra Mensagem da Líbia? Ao participar, em julho, de uma
reunião ampliada na Escola Superior de Guerra, quando estava em curso o bombardeio
sobre a Líbia, Lula sintetizou numa frase: “se fizeram com a Líbia, podem fazer
com outro país depois”.
Afinal, convém lembrar que face ao seqüestro do
Conselho de Segurança da ONU pelos poderes imperiais, atropelando qualquer
vestígio de legalidade e arrancando resoluções na marra, o que pode estar sendo
colocado em prática é outro provérbio romano: “Armas, o último argumento”.
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