Quinta, 3 de novembro de 2011
Da Agência BrasilCarolina Pimentel*
Repórter da Agência Brasil
Após receber o diagnóstico da doença, um paciente com câncer
espera, em média, quase quatro meses para conseguir uma sessão de
radioterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No caso de uma cirurgia,
o tempo médio de espera cai para três meses e, para quimioterapia, dois
meses e meio. Os dados integram uma auditoria do Tribunal de Contas da
União (TCU) com base em dados oficiais da rede pública de atendimento e
entrevistas com mais de 200 médicos e associações de apoio aos
pacientes.
O parâmetro internacional de excelência, segundo o TCU, prevê o início
do tratamento de câncer em, no máximo, 30 dias após o diagnóstico. No
entanto, os auditores detectaram que somente 16% dos pacientes com
indicação de radioterapia e 35% de quimioterapia iniciaram o tratamento
no prazo. No Reino Unido, por exemplo, 99% dos doentes começam o
tratamento em menos de um mês.
Depois de seis meses de trabalho, a equipe identificou um déficit de
135 equipamentos de radioterapia, 44 de cirurgia e 39 de quimioterapia.
Em relação à radioterapia, se fossem contabilizados os aparelhos
existentes na rede privada, ainda faltariam 57 unidades.
Morador do Distrito Federal, o motorista Raimundo Santos, 63 anos,
relata a angústia pela espera por uma sessão de radioterapia na rede
pública. Diagnosticado em dezembro do ano passado com câncer de
próstata, ele iniciou o tratamento somente seis meses depois. Não
conseguiu sequer fazer metade das 30 sessões recomendadas pelo médico,
já que foi obrigado a interromper o tratamento porque o aparelho
quebrou. “Me sinto uma peça descartável. Não estou bem. Eu preciso de
tratamento e ele não vem”, lamentou.
Outro dado do TCU mostra que menos da metade dos pacientes
diagnosticados com câncer conseguiram ter acesso ao tratamento pelo SUS
em 2010.
As falhas nos serviços, conforme os auditores, estão relacionadas à
carência de investimentos, despreparo dos profissionais para operar
equipamentos, ausência de mecanismos para acompanhar a qualidade do
serviço prestado, demora na inclusão de novos tratamentos e baixos
valores pago aos hospitais, o que desestimula a oferta dos serviços.
“Apesar do gasto do governo federal estar crescendo nessa área,
identificamos muitas carências para serem sanadas”, disse o secretário
de Avaliação de Programas de Governo do TCU, Carlos Alberto Sampaio.
“Temos indicadores semelhantes aos do Reino Unido na década de 90. Eles
[os britânicos] fizeram planos com metas e, hoje, têm bons indicadores.
Se o Brasil seguir a mesma linha, daqui a dez anos vamos ter indicadores
comparados aos do Reino Unido”.
O TCU recomenda que o governo federal faça uma revisão do número de
pacientes com necessidade de tratamento pelo SUS, crie indicadores de
desempenho e capacite profissionais da atenção básica.
Segundo o Ministério da Saúde, os gastos federais com assistência
oncológica triplicaram nos últimos 12 anos. Em 2011, a pasta vai fechar
com R$ 2,2 bilhões de recursos aplicados na área. A quantidade de
cirurgias oncológicas cresceu 40%, passando de 67 mil (2003) para 94 mil
(na estimativa de 2011). No último ano, dos 155 procedimentos de
radioterapia e quimioterapia oferecidos pelo SUS, 66 tiveram reajuste do
valo pago. “Com isso, garantimos maior acesso aos serviços oncológicos
para 300 mil pacientes que são atendidos no SUS”, informou o ministério
por meio de nota.
* Colaborou Paula Laboissière / Com informações da TV Brasil