Quinta, 10 de novembro de 2011
Por Ivan de Carvalho

Também não me parece, mas
não dou garantias em contrário, que ele esteja propondo mudança radical no
método de exoneração dos ministros de estado, com a substituição da caneta pelo
trabuco e da assinatura presidencial por uma bala. Sabe toda a nação que a
presidente da República já foi guerrilheira, envolvida na luta armada contra o
regime militar iniciado em 1964, foi presa e torturada, mas não participou de
ações armadas, pois atuava na área de planejamento e organização.
Mas então qual a razão
dessa linguagem de cowboy que ele usou na terça-feira, assegurando que a
presidente Dilma Rousseff não deverá demiti-lo porque o conhece há trinta anos?
Não foi exatamente isso que deixou perplexo do núcleo do governo, mas os
acréscimos, pois Lupi julgou-se no dever de acrescentar que não deverá deixar o
cargo nem mesmo na reforma ministerial a ser feita no primeiro trimestre do ano
que vem e acrescentou: “Para me tirar só abatido à bala – e precisa ser bala forte,
porque eu sou pesadão”.
Por força da Lei da
Gravidade, quanto mais pesado o corpo, maior a velocidade da queda (a matéria
atrai a matéria na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da
distância) e mais estrondoso o tombo, a não ser quando este se dá em algum
lamaçal, por exemplo, que com sua capacidade de absorção atenua o ruído.
Bem, por enquanto o
ministro do Trabalho e Emprego, que tem, de fato, não a unanimidade nem o
consenso, mas o controle do PDT, equilibra-se numa observação do procurador
geral da República, Roberto Gurgel, de que não há consistência suficiente nas
denúncias feitas contra ele que justifiquem alguma iniciativa do Ministério
Público Federal. Alguns integrantes do PDT haviam pedido que a Procuradoria
Geral da República e a Polícia Federal investiguem denúncias de corrupção, em
convênios celebrados com ONGs, no ministério de Lupi. Ontem, o Movimento de
Resistência Leonel Brizola entrou com um pedido de investigação na Procuradoria
Geral da República e na Controladoria Geral da União.
A reação do ministro Lupi a
essas estocadas políticas e à hipótese de sua exoneração causou tensão no
núcleo do governo, pois foi ostensivamente provocativa. Praticamente ele
determinou, em público, o que a presidente Dilma Rousseff vai fazer ou não vai
fazer e, dizendo que para tirá-lo do cargo, só à bala, faz a não muito sutil sugestão
de que sua saída significaria um tiroteio.
Aliás, isso ficou
extremamente claro na terça-feira, véspera da votação, na Câmara dos Deputados,
da Desvinculação de Receitas da União (DRU), cuja aprovação o governo
considerava essencial. A margem de vantagem governista para essa proposta,
pelas contas oficiais, era bem modesta. O PDT tem 26 deputados federais. Se o
partido fechasse questão contra a DRU, as contas do governo não lhe dariam a
menor segurança de aprovar a proposta. A maioria da bancada do PDT ficou com
Lupi e, na reunião de terça-feira, decidiu que se Lupi sair do ministério, o
PDT sai da base de apoio do governo no Congresso.
Xeque-mate. Lupi continua
ministro. Mas não significa que não haja outra partida de xadrez, com resultado
diferente. Talvez nessa perspectiva, o blog da presidente Dilma já fez o
primeiro movimento: incluiu as declarações balísticas do ministro Lupi. Não
seria feito sem ela saber previamente. A presidente passou recibo.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.