Sábado, 18 de agosto de 2012
Por Ivan de Carvalho

Isto desencadeou, entre os candidatos à sua
sucessão e os partidos e coligações que os apoiam, um debate que, para o
observador mais desavisado, pode parecer um jogo de perde ganha.
Quem perdesse o apoio do prefeito, ganharia. E
quem o ganhasse, perderia. Mas não é bem assim que a banda toca.
Nenhum dos três principais candidatos pode
eximir-se totalmente de responsabilidade no governo João Henrique, considerados
os seus dois mandatos – do início de 2005 ao final de 2008 e do início de 2009
ao final de 2012.
Durante quase todo o primeiro mandato de João
Henrique, o PT refestelou-se na administração municipal, ocupando um amplo
espaço, tanto antes quanto depois de uma tal “repactuação” defendida com
entusiasmo entre os petistas pelo hoje senador Walter Pinheiro e, diga-se de
passagem, sem contar com muito entusiasmo do atual candidato petista a
prefeito, o deputado Nelson Pelegrino. O governador Jaques Wagner, como ele
próprio revelou publicamente, chegou a aconselhar o PT a aceitar João Henrique
em seus quadros e na ocasião viu com pesar o seu partido não aceitar o
conselho.
O PT teve Secretaria de Governo, teve Secretaria
de Saúde (um setor vital no qual se saiu terrivelmente mal, sob todos os
aspectos) e muitas outras posições. Reinou quase soberano depois que o PSDB
rompeu com a administração municipal e antes do PMDB entrar, quando então teve
que compartilhar a influência. Até que, às vésperas da campanha eleitoral para
as eleições municipais de 2008, o PT saltou do barco (achava que o prefeito
estava impopular e conseguiria vencê-lo) para lançar candidato próprio.
Foi aí que o PMDB segurou firme o leme, remou
contra a maré, e chegou espetacularmente à praia do segundo turno em um suado
primeiro lugar, décimos à frente do outro classificado, o então deputado
petista Walter Pinheiro, o propositor da “repactuação”.
O democrata ACM Neto ficou no terceiro lugar. Não
chegando ao segundo turno e não tendo mesmo como nem porque apoiar o PT, apoiou
o prefeito, na época no PMDB. Uma comparação entre os resultados do primeiro e
segundo turnos sugere que toda a votação de ACM Neto migrou para João Henrique.
Toda. Sem perda de um só eleitor.
Ora, ACM Neto não tinha um controle tão absoluto
do seu eleitorado. É que este, em grande parte, era absolutamente refratário ao
PT e portanto migrou para o prefeito do PMDB. Para a Saltur [Empresa Salvador
de Turismo] e um ou outro lugar menos importante, João Henrique, no segundo
mandato, nomeou pessoas politicamente próximas a ACM Neto ou ao DEM.
Ninguém está querendo o apoio ostensivo do
prefeito. O PT chegou a pretender o apoio formal, mas esse não era um consenso
no partido. Quanto ao apoio do que se convencionou chamar de “máquina”, queria
sim, achando que ela vale uns quatro por cento do eleitorado, mas já desistiu,
pela impossibilidade de conseguir. Então tentou manobrar com o PP para
neutralizá-la, com a reposição da candidatura do deputado pepista João Leão. O
prefeito abortou a manobra.
Mário Kertész, do PMDB, há muito está no ataque,
não pretendeu nem podia ter o apoio de João Henrique, que, de resto, sofre
oposição forte do PMDB desde o rompimento deste partido com o prefeito.
Um apoio discreto da “máquina”, certamente o DEM
e ACM Neto também gostariam de ter e pode ser que venham a ter, mas ainda não
têm – não está garantido. E os três principais candidatos têm feito críticas,
com variações de intensidade, à administração municipal.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.