Sábado, 18 de agosto de 2012
Du "resistir.info "
por César Príncipe
[*]
Dá-me o controlo da moeda de um país e não me
importará quem faz as leis.
Mayer Amschel Rothschild, fundador da dinastia de banqueiros. [1] Há duas maneiras de submeter e escravizar uma nação: uma é pela espada e outra é pela dívida. A dívida é uma arma contra os povos. Os juros são as munições. John Adams, presidente dos USA. [2] |
Título: Ascensão e queda do euro. [3] Autores: Rudo de Ruijter, Yannis Varoufakis, Costas Lapavitsas, James K. Galbraith, Gerard Duménil, Michael Hudson, Ed Dolan, Jacques Nikonoff, Jean-Claude Paye, Eugénio Rosa, Jorge Figueiredo, articulista e coordenador. O trabalho exclui o campo conservador, normalmente confusionista e justificacionista, mas integra abordagens diversas, ancoradas na concepção marxista da Produção, da Moeda, do Valor e das Classes Sociais e na visão desenvolvimentista do Estado. Não procederemos a um resumo dos fundamentos e das perspectivas de cada peça, já que não nos move redigir um tratado sobre outro tratado nem desejamos conter ou esgotar a curiosidade (científica e cívica) dos leitores. Ter à frente dos olhos centenas de desassombradas e assertivas páginas sobre a Grande Guerra Europeia da Moeda Única é iluminar a noite que tolda a Europa e cobre os USA e se espalha por outros firmamentos da globalização. Não perder tempo com produtos tóxicos (emitidos por escreventes e falantes do sistema) é tão imperioso e sensato como fugir das lixeiras subprime. As análises desta colectânea põem sobretudo o acento no diagnóstico. Etapa imprescindível da acção curativa e regenerativa. Eis algumas perguntas correntes que encontrarão, nesta ascensão e queda, resposta qualificada aos Senhores E Senhoras da Europa, isto é, ao Império Financeiro, que usurpa a soberania e se apodera da riqueza das nações, dispondo de chiens trela para cumprir e fazer cumprir memorandos de entendimento:
Como vai a auto-desregulação do Grande Capital?
Como vai a luta dos siameses euro e dólar?
Como vamos de Moeda a mais e Economia a menos?
Como vamos de petro-assaltos e guerras humanitárias?
Como prospera a
escravidão da dívida
?
Como se comportam os
malandros do Sul
?
Como reage o ex-Portugal do
pelotão da frente
?
Como vai a
Europa connosco
?
Como planear a ascensão dos agiotas?
Como planear a queda de um país?
Como adiará a China a bancarrota ocidental?
Como impedir os Estados de socorrer os mercados?
Como se fez da Europa de 2012 a Argentina de 2001?
Como impedir os Estados de abandonar os cidadãos?
Como se iliba o Goldman Sachs em nome da lei?
Como julgar ladrões e burlões com guarda-costas?
dá explicações
Pelo que lhe respeita, Karl Marx está a ser insistentemente chamado a
explicar a crise aos velhos burgueses e aos novos proletários (já
voltou à Sorbonne), porque, balanço feito e calendário
depois de Cristo revisto, o séc. XXI, em termos de bem-estar social e
independência nacional, começa a aproximar-se do mal-estar e dos
mapas coloniais do séc. XIX. Como deter a impunidade da banca e dos
monopólios associados e o confisco dos rendimentos do trabalho e dos
pequenos empreendedores pela polícia de choque fiscal? Como cortar com o
discurso fatalista dos gestores de alto coturno e políticos de turno?
Claro se vai tornando: a troika interna só será detida nas ruas e
a troika externa terá de ser detida nos aeroportos. Os troikanos
ludibriam os votantes e escudam-se nos votos. A Constituição da
República Portuguesa fornece as saídas e as
soluções para esta emergência patriótica e este
colapso civilizacional. As consensuais e as drásticas. Em conformidade
com a legitimidade participativa, interventiva e repositiva. Quem não
recorda ou lê regularmente a CRP tende a ficar capturado e formatado pela
dialéctica do sequestrador. É da boa-fé e da solidez do
Direito confrontar a retórica relativista, negacionista e
capitulacionista com o texto magno da Revolução. Por sua vez,
quem não se munir de recursos intelectuais de largo e variado alcance
cairá no amolecimento ingénuo ou no colaboracionismo com ajudas
de custo. Os quadrilheiros da economia e da finança ostentam um cabaz de
compras de elites e poderosas indústrias de aliciamento,
manipulação e persuasão: editoras, televisões,
rádios, diários e semanários. As vítimas possuem
meios escassos e de circulação restrita. Nada que a
História não conheça, embora raramente reconheça.
Militantes dos direitos civis nos USA (década de 60) tinham
razoável consciência das suas limitações face
à secular máquina de repressão, alie(nação)
e desorientação:
A maior arma dos ricos é a cabeça dos pobres.
Convencer a maioria
Mas a luta anti-racial e anti-discriminatória deu frutos, após a
desobediência em cadeia, a saga de clamores, as bandeiras de sangue, o
pertinaz jornalismo boca a boca. Seremos poucos neste combate desigual? Certo
é que a resistência social, sindical e política enche
avenidas e praças com centenas de milhar de manifestantes. E quantos,
exceptuando os subcontratados do espaço mediático e dos palcos da
governação, ousam defender os pacotes de resgate e os
responsáveis da crise, igualmente beneficiários das medidas
anti-crise? O músculo contestatário supera em larga escala a base
social dos governos, notoriamente desmobilizada e ressentida. Este
superavit
de dinâmica da lucidez face à estática reaccionária
traduz um potencial de recrutamento ideológico e orgânico para
engrossar as fileiras da dignidade nacional e rejeitar o cativeiro da
dívida. Somos poucos? Não. Precisamos de ser mais. Precisamos de
elevar a qualidade cívica e cultural das organizações e
das massas. Não faltam registos (positivos e negativos) de profundas
alterações de ordem colectiva e pessoal a partir de recursos
primários. O cristianismo principiou com doze apóstolos. Os
vietnamitas venceram os USA na proporção de um combatente para
doze. Até o hipermercator Belmiro nasceu do nada e o Amorim
holding
nasceu a contar rolhas. E por aí adiante. A leitura de
Ascensão e queda do euro,
livro silenciado pela
Imprensa generalista e económica, motivou esta reflexão em forma
de manifesto. Outras conclusões e extrapolações se
poderão e deverão tirar, página a página. É
um manual de debate. Logo, de combate. O título introduz uma carga
simbólica pesada. Depois do pesadelo militar germânico
(ocupacionista, anexionista, esclavagista, liquidacionista), o fantasma
prussiano-ariano volta a arrepiar a espinha dorsal da Europa, agora
através da ocupação, anexação,
escravidão da dívida.
Ascensão e queda
do euro ou do IV Reich? A queda do euro é visível (falta de
confiança, instabilidade, desvalorização). Resta apurar se
o euro, de queda em queda, evoluirá para a extinção
(periférica ou geral).
Pode-se comparar o euro a um veículo com 23 secções
articuladas, nas quais todas as rodas são de dimensões
diferentes. Não irá longe.
É a previsão de Rudo de Ruijter. Outros apontam desfechos menos
categóricos, porventura de agonia assistida e gradualizada. Igualmente
dolorosa. A guarda da capoeira está entregue à raposa. Os
ajustamentos continuarão a afectar os do costume: os mais desfavorecidos
economicamente e indefesos politicamente. Pouco ou nada há a esperar do
sistema senão austeridade sobre austeridade e indesejáveis
heranças
para as gerações perdidas. Contra a factura, a fractura.
Naturalmente incumbe aos espoliados, enganados e humilhados desencadear e
suportar o processo alternativo. É uma questão de
princípio, mas irrenunciável, conforme nos ensinam e relembram as
experiências da luta de classes. Que do lado popular sairá mais
dotada e alentada ao ler e reler
Ascensão e queda do euro.
Cada livro que desvende os meandros e os desmandos do grande capital é
um projéctil de Adams contra as munições de Rothschild.
Saber ler é preciso. A democracia agradece.
_________
Saber ler é preciso. A democracia agradece.
[1] Sentença atribuída a Mayer Amschel Rothschild ( El Mundo, Pablo Pardo, Washington, 17/06/2012).
[2] John Adams (1735-1826), segundo presidente dos USA.
[3] Ascensão e queda do euro , Lisboa, Chiado Editora, 2012, 351 p., ISBN: 978-989-697-548-7. O livro pode ser adquirido on line na própria editora ou nas livrarias FNAC , Bertrand ou Wook .
[4]
Para onde vais, Senhor?
Pergunta de Pedro a Jesus. Segundo textos apócrifos, Cristo desceu dos
céus para repreender o líder cristão no momento em que
este se evadia do cárcere:
Já que abandonas o meu povo, vou a Roma para ser outra vez crucificado.
Garantem as Escrituras não oficiais que Pedro, envergonhado e contrito,
permaneceu, entre os seus, na capital do Império, enfrentando a
justiça de Nero, que o terá mandado supliciar. De cabeça
para baixo, por vontade do apóstolo, que considerou não merecer
uma morte igual à do Divino Mestre. Mas os condutores de rebanhos dos
Senhores e das Senhoras da Europa, a começar pelo Imperador Americano e
pela Imperatriz Germânica, só serão julgados e pregados na
cruz, até agora, reservada ao comum dos cidadãos e aos rebelados,
se eclodir uma Revolta dos Escravos. Mas não há
revoluções oferecidas. Têm de ser pacientemente,
diligentemente, sabiamente preparadas.
[*] Jornalista e escritor.
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