Terça, 4 de setembro de 2012
Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Garantir a preservação dos recursos da Seguridade Social e
aumentar a capacidade de geração de empregos são os desafios posto ao
governo e centrais sindicais nas discussões sobre a desoneração da folha
de pagamentos dos trabalhadores. O assunto foi tema de debate hoje (4)
na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Representantes de institutos
econômicos, centrais sindicais e do governo participaram das discussões.
O técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) José Aparecido Carlos Ribeiro disse que transferir a
conta da desoneração para a Seguridade Social pode colocar em risco o
equilíbrio do sistema. Em uma hipótese mais extrema, ele mostrou que a
desoneração total representaria a necessidade de um financiamento de R$
120 bilhões.
"A desoneração gera uma perda significativa ao INSS [Instituto Nacional
do Seguro Social], e a geração de empregos teria que ocorrer a longo
prazo”, destacou o técnico do Ipea. Somente as atuais desonerações
promovidas em setores pontuais da economia representam uma renúncia
fiscal de R$ 22 bilhões, de acordo com ele.
O coordenador de Estatística e Atuária do Ministério da Previdência,
Eduardo Silva Pereira, ressaltou que as compensações serão feitas com
recursos do Tesouro Nacional justamente para não comprometer o Regime
Geral da Previdência Social. Ele frisou que o governo já encaminhou ao
Congresso um pedido de abertura de crédito extraordinário ao Orçamento
da União para 2012 com o objetivo de cobrir os gastos.
O técnico defendeu que a desoneração da folha vai gerar mais empregos
formais o que pode equilibrar a base de arrecadação Previdenciária.
Eduardo Pereira destacou que estudos feitos por técnicos da pasta
demonstram que as despesas aumentarão ano a ano e, por isso, todo o
debate deve ocorrer de forma “casada”.
Clóvis Roberto Sherer, supervisor do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), disse que todo o debate
promovido sobre o assunto ocorre com base em projeções. Por isso,
segundo ele, é necessário ter dados claros e objetivos sobre os efeitos
da desoneração.
Sherer acrescentou que o impacto dessa medida “pode ser limitado” para
os cofres das empresas. Para ele, o fortalecimento do setor passa por
outros fatores como investimentos em infraestrutura, flutuação do câmbio
e competitividade, por exemplo. O técnico também tem dúvida se uma
desoneração da folha será capaz de gerar empregos formais.
O
secretário nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Francisco
Canindé Pegado, defendeu a regulamentação do Imposto sobre Grandes
Fortunas, pelo Congresso Nacional, para cobrir eventuais rombos nos
caixas da Previdência e da Seguridade Social. Ele destacou que a
entidade “não admitirá qualquer iniciativa que signifique tocar nos
direitos trabalhistas”.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (Anamatra), Paulo Shmidt, ponderou que a desoneração pode criar
“uma forte regressividade” no sistema tributário fazendo com que a
população mais pobre arque com a cobertura dessas perdas. “Isso é um
paradoxo”, acrescentou ele.