Quarta, 12 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho
O conteúdo do depoimento prestado em
24 de setembro por Marcos Valério, considerado – ao lado do tesoureiro do PT,
Delúbio Soares, o principal operador financeiro do esquema do Mensalão – ao
Ministério Público Federal, vazou ontem, estrepitosamente. O jornal O Estado de São Paulo teve acesso ao
documento, do qual publicou o essencial, sem esquecer, como convém a um jornal
responsável, dos detalhes quase impensáveis, mas que constam do depoimento.
O país político foi incendiado. Em
Paris, a presidente Dilma Rousseff, ao lado do presidente francês François
Hollande, disse que não pretendia falar sobre o assunto fora do país, mas se
sentiu instigada pelas denúncias (sic) a fazê-lo. Considerou “lamentável essas
tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula”, reiterando: “Acho
lamentável”. Ao fim de seu discurso, Dilma obteve o aplauso de seus ministros e
assessores presentes.
Dilma
recebeu o socorro do presidente Hollande, que observou que Lula “tem na França
uma imagem considerável”, de quem defendeu os “princípios da justiça e da
igualdade” e conduziu o Brasil a um “desenvolvimento absolutamente excepcional”,
completando: “Aqui o presidente Lula é visto como uma referência”.
O
PT, no zeloso desempenho do seu dever partidário, derramou-se em contestações,
desqualificações e desaforos direcionados a Marcos Valério e elogios
endereçados a Lula. O leitor notará isso em todo o noticiário. Mas houve também
o outro lado. O PSOL vai avaliar sobre um pedido de convocação de Marcos
Valério para depor no Congresso. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire,
e o líder dessa legenda na Câmara, Rubens Bueno, cobraram a abertura imediata
de inquérito pelo Ministério Público Federal para investigar a atuação do
ex-presidente Lula “como verdadeiro chefe da quadrilha do Mensalão”. Freire
lembrou que o PPS já apresentou, no início de novembro, o pedido à Procuradoria
Geral da República. “Diante das declarações dadas ao Ministério Público, não
resta outro caminho”, disse.
Mas
isso é só o começo do cerco. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, solicitou
ontem à Procuradoria Geral da República cópia das declarações atribuídas a
Marcos Valério e publicadas por O Estado
de S. Paulo. Alegou o senador líder do PSDB na Câmara Alta que a matéria do
jornal “traz novos elementos sobre o esquema de pagamentos a parlamentares,
conhecido como Mensalão, e que ainda não constitui inquérito”. O procurador
geral Roberto Gurgel ainda vai analisar o pedido do senador.
Há
mais, porém. PSDB e DEM apresentaram requerimento conjunto na Comissão de
Constituição e Justiça do Senado para que Marcos Valério seja convidado a depor
na Casa. Os dois partidos declaram “extremamente graves” os novos fatos
revelados no depoimento dele à PGR. Dizem os dois partidos: “São inúmeros novos
fatos como, por exemplo, o de que o ex-presidente Lula teria atuado a fim de
obter dinheiro da Portugal Telecom para o Partido dos Trabalhadores. Além
disso, há afirmações do publicitário de que seus advogados são pagos pelo PT”,
destacam o PSDB e o DEM, entre outras coisas.
Assinalei
ontem aqui o ditado popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E
que, contrariando a sabedoria popular, no caso de Lula havia caído – o
julgamento do processo do Mensalão, no qual não foi réu, mas colheu um péssimo
resultado, e o Caso Rosemary. Aí vem o depoimento tardio de Marcos Valério e é
o terceiro raio. Impressionante. Atração fatal.
Mas
parece que não basta. Assim que deixou ontem à noite o Complexo Prisional de
Aparecida de Goiânia, Carlos Cachoeira afirmou que sua prisão é interesse do
Partido dos Trabalhadores. “Eles sabem que sou o garganta profunda do PT”.
Comentários
dispensáveis.
- - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi
publicado originalmente na Tribuna da
Bahia desta quarta.