Sexta, 14 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

Bem
que o PT poderia ter aproveitado esse “lado bom” do apoio de João Henrique e
evitado, como ACM Neto evitou, o lado desconfortável da má avaliação popular
detectada nas pesquisas. Mas no imaginário do PT – sabe-se lá por quais cargas
d’água, ou por se julgar com o rei na barriga – estava um apoio ostensivo do
prefeito a seu candidato Nelson Pelegrino ou, não sendo isto obtido, um
ferrenho ataque ao prefeito na campanha eleitoral.
O PT não viu a terceira via. E
ACM Neto a trilhou com maestria, sem necessidade de se comprometer com a gestão
que vai terminando e sem descaracterizar seu discurso de campanha. O prefeito
tem simpatias na periferia da cidade, além de ter o comando do que se costuma
chamar de “máquina”, no caso, municipal. Esses dois fatores terão sido bastante
úteis para a duríssima batalha eleitoral que ACM Neto lutou contra forças
imensamente maiores – mas, ao menos naqueles momentos decisivos, em desgraça
ante a sociedade de Salvador.
Agora
está posto aí o prefeito João Henrique. Diz, confirma, repete: vai ser
candidato a governador da Bahia em 2014. Como “ele é um visionário” – usei a
frase entre aspas, por não ser minha, mas de um experiente político,
articulador e observador da política – é lícito levar inteiramente a sério seu
mantra de que pretende conquistar o Palácio de Ondina em 2014.
Imagina-se
que ele, como já disse que pretende fazer, ingresse em um pequeno partido que
realmente possa controlar (ou, por exemplo, no PTN), faça programa de rádio e
tevê, se lance candidato a governador e comece a bagunçar esquemas eleitorais
milimetricamente planejados.
Há
obstáculos. Legais: a rejeição, pela Câmara Municipal, das contas do município
relativas a 2009, a provável rejeição, na segunda-feira, das contas de 2010 (já
com parecer contrário do Tribunal de Contas dos Municípios) e a quase certeza
de que o mesmo TCM dará parecer contrário também às contas relativas a 2011.
Para rejeitar na Câmara as
contas de 2009, votaram neste sentido Carballal, Dr. Giovanni e Dr. Moisés, petistas
mais ligados ao governador Wagner, Alfredo Mangueira, do PMDB de Geddel e Paulo
Câmara, do PSDB e muito ligado ao deputado Imbassahy. Wagner, Geddel e
Imbassahy nem podem negar o interesse de ver o prefeito longe das eleições
vindouras, sobretudo as de 2014. Há polêmicas sobre a lisura da votação que
rejeitou as contas de 2009 na Câmara. Afirma-se que a vereadora Aladilce, do PC
do B e Gilmar Santiago, do PT, fotografaram seus próprios votos, quebrando
ilegalmente o sigilo da votação. Falta a acusação ser provada.
A
rejeição das contas pela Câmara Municipal cria a hipótese de inelegibilidade
por oito anos para o atual prefeito. Ele não poderia candidatar-se a governador
ou outra coisa qualquer em 2014 e 2018 e nem a prefeito ou vereador em 2020. Em
2022, com 63 anos, pode disputar a eleição que quiser.
Mas
hipótese não é certeza. Às vezes nem é nada, salvo desgaste político, como pode
ser o caso. O jurista Celso Castro, advogado patrono do prefeito e diretor da
Faculdade de Direito da UFBa, explica que a Lei 135/2010 determina a
inelegibilidade somente se as contas são rejeitadas por dolo, má fé ou
improbidade, o que, segundo ele, em conformidade com o parecer do TCM, não
ocorreu. Além da inexistência de dolo, Celso Castro acrescenta que o relatório
do TCM não coloca o prefeito como ordenador de todas as despesas, razão pela
qual não se pode atribuir a ele a responsabilidade objetiva por todos os gastos
ocorridos na gestão.
O
caso vai para a Justiça, sem nenhuma dúvida. E é complexo.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano